domingo, 31 de dezembro de 2006

Em Clima de Ano Novo


Hoje, diz-se, as coisas mudam:
a cidade toma nova face,
as pessoas melhoram,
o espírito se infla
nas promessas que se renovam:

E quer saber? É tudo disfarce.

Vão todos ser a mesma merda
e cometer os mesmos erros,
e sofrer os mesmos infortúnios,
e lamentar-se nos mesmos enterros

E, quer saber? Ninguém liga!

e, assim, a cidade de novo incha
nos amores que se sobrepõem
como um vírus que se alastra nas cantigas,
e os homens se amam, se unem
se contrapõem:

Unam-se, povos do lindo país!
os favelados comemoram, sim,
bebendo em bares até o sol surgir
tacando garrafas nos Audis
até a cicatriz no asfalto abrir.

Os bêbados ainda, teimarão em sorrir
para o festejo dos homens inconsequentes
e as horas restantes são as últimas dos doentes;
e a noite promete!
(nos dar apenas mais um dia para dormir)

E amanhã acordaremos ao meio-dia
tomando café ao som das mesmas cantigas
sob o mormaço indistinto do ano que há de vir!

Urbanamazônia


No meio do verde metálico, corre um ser
Sinto um perfume não meu, pesado e ardente
homens amazônidas, vãos e inconsequentes
dominados pelo aço; e a floresta a adormecer
ao mundo moderno estende os braços

Vendo este ser de olhar letárgico
descansar sob céus de límpido asfalto
beber desta água repleta de ácidos
sonhos modernos de um homem nostálgico
que, nas avenidas, ressoam opacos

E silenciosos na cela da vida
nunca o deixarão de ser.

No meio das aldeias de aço, vão nascer
Dessas mãos sujas, negras,
Poemas virtuais, de fibra ótica: E colapsos
de um coração de alumínio os farão florescer

E amanhecer, em pedaços
desmatando a tua alma e meu sentir
Em uma alma robótica que insiste em existir!

No meio dos mares de gente, corre um ser
Que pulsa ódio em um peito, vil e ardente
O anoitecer cinzento e o luar decadente
Banham as tribos que, em pedaços,
Mendigam piedade nas ruas caóticas

Das metrópoles de andróides dementes

Que, silenciosos, na cela da vida,
verão seu mundo perecer.

Ricardo Evandro / Guto Lobato 29/12/06

* Idéia antiga de dois nerds finalmente ganha forma. ;)
Por sinal, o figura aí tá de blog, e as idéias dele certamente dariam um bom livro de neo-filosofia. Acessem:
>> http://urbanamazonida.blogspot.com <<

segunda-feira, 25 de dezembro de 2006

S.D.H.


Todas as dores deste mundo são minhas.
E ah, se não fossem! De tantos amores
deitaria nu em pêlo,
Entregue às sortes da vida.

Toda a infelicidade, deprimência e as feridas
Pertencem ao mesmo homem,
Que, em mim, sem mim habita

E se pudesse ter comigo mesmo, apenas uma noite
Livre de um corpo que me renega, dia a dia,

Plantaria flores mortas sobre o asfalto
Descansaria de olhos fechados à sombra da vida.

Toda a fumaça, o caos urbano e a gritaria:
Não há quem por elas morra de amores!
Preencho o peito com o vácuo:
Impuro asco à nostalgia.

Toda essa cidade e essa gente infeliz e sábia,
Bebe do mesmo esgoto e caga nas mesmas calças,
Escorre em valas nas avenidas,
Se suicida aos montes,
como se faltasse algo em suas vidas!

Ah, Deus, mas assim como eu,
Por elas, nunca morra de amores!
Livres estão eles, nas ruas da corte
Travestindo-se homens de bem pelas esquinas

E nós nos lamentando no asfalto
Pedindo esmolas e gritando alto
À platéia louca e ensandecida

Que pisa nas flores e atravessa o palco
Cospem em nossa cara, em nossa casa,
É um teatro
No qual renegam suas próprias vidas.

E é como eu sempre digo, meus amigos,
A vida é um tanto injusta com os vivos:
Todas as dores deste mundo são minhas.

* Clima natalino...?

sábado, 23 de dezembro de 2006

Passaredo


Não gosto de surpresas.
Se as reserva para mim, que sejam fontes de sofrimento,
E, para ti, não passem de novas (in)certezas
De que, pr´este mundo, não mais me reinvento.

É tão ridículo!
Foram anos assim, construindo um homem feito
E, para ti, que fugisse ao máximo do imperfeito
E que ele nunca me fosse um ideal de beleza.

Foram tantos sentidos às mesmas normas
Tantos ruídos nas mesmas trovas
Tantas mãos batendo à mesma porta
Foram tão vendidas as surpresas,
Tão tediosas as incertezas novas!

E esses cortes que me ensanguentam as vestes
São, agora, infelizes provas
De que não gosto de incertezas:

Não gosto de surpresas, ora!
Se a vida as reserva para mim, que sejam meu único alimento
Os sonhos, o ópio e os instintos mais rasteiros:
Neste mundo, tudo o que nasce já é decadente,
E, é claro, o mais puro ideal de beleza!

É tão ridículo!
Eu prometi a mim, que, quando fosse embora, dar-te-ia razões.
Estivesses feliz ou não, com as tuas antigas paixões
Fugazes, efêmeras, incompletas.

Vou, agora, na (in)certeza de que me espera o caminho mais bonito;
Mas, para ti, meu bem, ainda não: resta-te o infinito!
Vou só, por que não vivo feliz aqui,
Perdido em meio a tantas convenções,
Esperando novas versões dos mesmos sonhos encardidos.

* Foto retirada da exposição "Por Enquanto", em cartaz no IAP (Instituto de Artes do Pará) no segundo semestre de 2006.

sábado, 16 de dezembro de 2006

Duas Margens


- Diga-se de passagem: não és tu uma menina?
- Sou a vergonha de uma noite de amor vadia,
o vivo espelho do que não deveria existir.
- És o mesmo rio sem margem, que atravesso a sós
- Sou, calada assim, mais um fio entre tantas sedas
a rede que entrelaça teu corpo em singelos nós.

- E desta febre já sou curado: se achas que assim, excuso,
há algo aqui a ser reinventado,
desista! Pois o amor que em mim habita é recluso
Difuso, sem um foco e lentamente destroçado:
alheio à vida.

- Diga a verdade: por trás das mais nobres cortinas
Há um quê de sofrimento, uma sombra sem cor decerto
Sofrendo assim, manténs as rimas, mas diz p´ra mim:
Do que te escondes, senão da vida e de um jovem fim
cheio de incerteza, amor e retrocesso?

- O que já foi verdade agora é sina!
- Sou a enfadonha surpresa dos notívagos,
o par de pernas que se abre às esquinas.
- Sou o mesmo rio sem margem, o qual tornaste leito
- Silêncio! Em mim, vais encontrar, talvez um dia,
a doce menina que te carregou no peito.
- E que ela seja pedaço de mim, de meus amores,
de minhas dores e mais doces rimas.
- Que eu seja tua, enfim.

A quem anda tendo a paciência de ler esse blog pelos mais de doze
meses de atividade dele, muito obrigado.
É... sem dúvidas, escrever tornou-se, para mim, uma terapia. ;)

sábado, 9 de dezembro de 2006

Cidade dos Sonhos

Essa cidade tem um tom, um som, que pertence a ela e a ninguém mais,
uma profusão de cor e decadência, enclausurada no asfalto.
Há uma dor que cresce e vende-se pelos becos e pelas esquinas:
essa cidade entende-se abismo de novos tons e velhas rimas.

O calor não arde, o suor não escorre;
Os gritos não saem, o vento percorre
seus traços vãos, pelas vãs escadarias,
arranha-céus e cortiços que sobrepõem-se nas avenidas.

O temor que cala e toda essa tensão contida,
estão dançando de mãos dadas, ao som da mesma batida.
São tantos ritmos vencidos pelos carnavais e pelas buzinas
Que desses homens tão metálicos, só saem notas repetidas

Essa gente inerte e sem vontade vive à espera de quais dias
Senão as mesmas noites monótonas, tão lisérgicas e premeditas?
Há uma frustração latente que vence as frustradas tentativas
De tantos homens infelizes que buscam retornar à vida.

E a todos os leitos de morte, as sirenes e a histeria:
Aos homens de bem, a mais sincera indiferença,
São pedaços reunidos de uma história encardida:
Essa cidade é o limbo de toda alma em decadência
E o vivo espelho da demência de uma geração vendida.

Essa cidade tem um tom, um som, que pertence a ela e a ninguém mais.
Uma profusão de bolor, artificialidade e ódio em suas entranhas.
Há uma tristeza que resiste ao café e à aspirina
Essa cidade é abismo de homens bons
imersos em suas sinas e artimanhas.

O peito não arde, a ferrugem corrói;
O sangue coagula, a mente não destrói.
São poucos os sãos a se jogar pelas escadarias
que separam homens de bem,
de suas impuras mortes vivas.

O amor que parte e arrepia a espinha,
é o furor e o alarde das mais sós noites frias.

E sob essas noites tão cálidas e as manhãs tão escurecidas dormi em teu ombro, meu amor, nessa cidade de pobres rimas.

08/12 - Inspiração tirada do filme homônimo de David Lynch, e de umas certas luzes natalinas brilhando no horizonte da cidade. Prometo que essa vai ser a minha última incursão no tema eu-odeio-cidades ;)

quinta-feira, 7 de dezembro de 2006

Ode à Metrópole II


Descobri que tudo desconheço
E que nada de novo descubro
E que, se sou jovem, amanhã envelheço
E me torno mais um homem feito, sem escrúpulos

Vendido ao mundo sem preço
Sem desejos ou sonhos esdrúxulos
Esse é o seu futuro também, então vem comigo
E me ensina a, sem causar alarde, cortar os pulsos

Cortar fora os lábios de um homem omisso!

Descobri que a este mundo pertenço
E que, nele, de nada valho
E, se um dia senti no peito o vazio imenso
Hoje já não me lembro,
esqueço o peso de um amor otário!

Nas ruas secas, ecoa a sonata dos destruídos
E nas esquinas, reside a fugaz dor da mágoa
Dentro dos carros, acendem a chama do desperdício
Em um cigarro, em um copo de água

Dói saber que são ossos do ofício
É a decadência de um mundo mascarado
Quero, antes de cair em irrecuperável estado

Gritar bem alto para que a cidade, um dia, meus ecos ouça;
Cortar fora os pulsos dos edifícios!

terça-feira, 5 de dezembro de 2006

Desisto.

Quanto mais busco provar para mim
Que as coisas são "casuais"
Mais descubro o quão só sou, enfim,
Nos meus delírios tão normais.

É sempre assim: eu e meus planos
Ditos insanos e inconsequentes
Cedendo a um silêncio de desencanto
E a um discreto ranger de dentes

Outrora doía, rasgava-me o peito
Hoje decido não mais sofrer
Se há algo em que falho, e não me dizem
Que erro hei eu de desfazer?

Desisto, insisto: não vou dizer
Que a carne fria já me apagou
Mas hei de convir, que, enfim,
Esse homem aqui desiste e abdica de toda a dor:
Esse homem aqui por de mais já se humilhou.

sexta-feira, 24 de novembro de 2006

Modo de vida.

Eu proclamo decadência:
estes olhos já não enxergam estrelas
Estas mãos já não lhe apalpam as veias
E as sensações que tinha se perderam
Absortas em si mesmas, nas teias
de fraqueza e infortúnio, solidão e incerteza.

Eu proclamo demência:
O que vivo são dias embaralhados
Como cartas em mãos que as espalham
E a luta que travei contra o cansaço,
é a luta que lutei para marcar meus passos
Depois olho para trás e me descubro desgraçado:

Eu nunca sei, e nem saberei
Se a decadência atravessou a luz do dia
Ou se as cortinas fecharam-se à vida,
E, em meio às noites e frias e o álcool, me arrancaram as estrelas.

terça-feira, 14 de novembro de 2006

Metafisicolinguagem


Há um quê de tristeza nos poemas
Nas metalinguagens, nos versos e rimas
Num amor, outrora ardente, atravessando as sinas
De uma poesia métrica, nascida inerte e vazia.

Há, nas entrelinhas, um rancor sem vida
Nas pálidas imagens, no calar da despedida
De quem um dia foi escravo do amor latente
De uma poesia métrica, nascida vã e inconseqüente.

Há uma dor por trás de tantos odes e elegias
Nas entranhas das trovas, no papel e na tinta
Uma cor, outrora ardente, se insinua pelas cortinas
Que separam este homem, imerso em versos e amores, da vida.

quarta-feira, 8 de novembro de 2006

O Merda e o Poeta

É triste assumir, mas eu sou um covarde.

Sim! Covarde pelas lutas das quais fugi,
Pelas mil vezes em que não caí,
Pelos amores que destruí,
Pelos sonhos que guardo aqui,
E que eu sei, não fazem parte de mim.

É triste assumir, mas eu sou um covarde.

Sim! Minhas trovas e esboços não saem do papel,
E eu me nego a ser parte de mim,
Esse homem fraco, que canta desafinado,
Chora excomungado por si, projeto inacabado
De uma poesia sem começo, meio ou fim:

É triste assumir, mas os poetas são otários,
Escrevem em versos dentro dos armários
De suas mentes, rangendo dentes,

Sem donos do próprio nariz poderem se assumir.

Dantes ser um merda,
Covarde e imerso em suas próprias metas
Trabalho esse egoísta, tornar-me quem sou por um segundo apenas
E amanhã, sim,

Ser de novo a mesma merda,
só que em palavras mais amenas.

sexta-feira, 3 de novembro de 2006

Vou para casa.
E mesmo que insistas em machucar meu corpo
Não sei ao certo se, desta dor, eu sofro
Me parece, que em poucas e amargas horas
Ir embora sem medo aprendi.

O tempo passa.
Mas, ao contrário do que se diz,
Me parece tão certo que não lembrarei de ti
E, em poucas horas, terei esquecido sem medo
De tudo que já vivi.

Vou embora!
E não me impedes mais,
Já atravessei essas paredes
Com a certeza de que, por elas, não passas.

Hoje digo a mim mesmo
Sim, por mais um dia me venceste.
E, mais uma vez,
Vou pra casa...
Me odiando mais e mais vezes.

quarta-feira, 1 de novembro de 2006

Lexotan

Uma vez disse para o cara que via no espelho
Que um dia tudo faria sentido
Que tudo que havia vivido
Se provaria diferente

E um pouco menos sofrido.

Mas esse mesmo cara riu da minha
Cara.
Tirou de meus lábios um sorriso
Lembrou que esse cara indeciso
Um dia, tinha sido homem

E, talvez, um pouco menino.

Ganhando a vida fazendo graça
Levando tapas na cara e rindo
Quiçá via o mundo indo e vindo
E continuava aquele homem

Urbano, tão inerte e frio.

É como dizem por aí: essa cidade sem alma
Nos arranca o que sobra no peito
Empurra-nos, em goles frios de calma,
Pílulas, fumaça e ar rarefeito

Quem sabe seja a hora
De dar as mãos à desgraça
E viver se olhando no espelho?

terça-feira, 17 de outubro de 2006

Pedaços de mim



Se uma imagem vale mil palavras,
quantas mil imagens valerão um grito?
Quantas cores, quantos contrastes,
e quantas partes terei no tão infinito

Espaço, encarcerado no quarto: Preso
estou, se abrir a cortina é escapar ileso: Vou,
vencer assim, congelado em uma imagem inerte
Sem vida, energia, cor

E se tudo que vivi não valeu nada
E se nada que valeu um dia faz sentido
E se o teu mundo começa aonde a utopia acaba
Meus passos são círculos,
todos circunscritos diante de mim.

E se algum dia a luz cortar as paredes
Perfurar meu peito, tornar-me imperfeito novamente
Se, mais uma vez, a vontade cessar
Que meus passos estejam perdidos
Que esteja minh´alma em um abismo
Descansando congelada em nova imagem,

Que mil imagens valham mais do que pedaços de mim.

terça-feira, 3 de outubro de 2006

É como eu sempre digo:

É tanta gente burra e rasteira
Que não pensa coisa com coisa
E, por inércia, fala asneira

Me julgando e remoendo pelos cantos,
Inveja, discórdia, fraqueza!
É o mundo que força a gente a beber os prantos
Com socos na cara engolidos a seco.

Eu canso de dizer pra vocês todos
Que não sei o que me faz aceitar tanta ridiculeza
Carregando as pedras nas próprias mãos
Para não levá-las ao chão
Com o simples toque dos punhos na mesa:

Besteira! Besteira! Besteira!
Eu lhes disse tudo que queriam de mim,
Sou esse mesmo, outrora um homem
Hoje um projeto, sem meio ou fim

Não sou essa gente, burra e rasteira,
Que não pensa em nada e leva a vida inteira
Brincando de borrar o mundo com seu toque amador

Eu sou nada, e ao mesmo tempo sou tudo que sou
Mas se me perguntas o que és, eu respondo:
Não sei, meu caro, e se Deus quiser nunca o saberei!

domingo, 24 de setembro de 2006

Monólogo

Prometo ser breve e não trazer a esta casa discórdia
Serei o primeiro a sair, e o último a te dizer
Que tudo que construí também é parte da tua história

E tudo que existe aqui é parte de mim
Serei o primeiro a não pedir que lembres
Já que estou indo embora para lembrar de ti

Não vês que esta conversa é inútil?
És a primeira a me ver como um homem comum
Como um infeliz,
assumo que tudo que vivo é fútil
E, invariavelmente, parte de mim,

e não faz mais sentido.
Eu sei que quanto mais rápido sair daqui
Menos terás sentido.

Prometo que este será o maior monólogo da história
Serei o único a te dizer, tudo que esteve aqui entalado
E agora deixo cuspir, com nacos sujos de memórias

Nada mais do que o pouco que, em ti, vivi.
És a primeira a desvendar o homem dentro de mim
Tão infeliz,
Assumo que vivo apenas o útil

talvez por isso seja sozinho assim.
Eu sei que, na mesma medida que sentir
Terei em meu peito mais espinhos.
E menos certeza de que vivi

E qual será o meu caminho?
Antes que isso acabe, me deixa sair!

Abre a porta da frente, dá um adeus diferente
Sem lágrimas ou palavras hostis:
Entende, meu bem,
São sinas muito comuns a qualquer homem:
Para que por elas viver fingir?

domingo, 10 de setembro de 2006

Ímpeto

- Tentarei não fazer de minhas palavras um ode
Darei a elas a mais plástica das felicidades
A entonação histérica de quem tem um coração roto
E, calado, não morre por dizer a verdade.

Tentarei fazer desses versos tristes
Uma canção de amor a embalar romances vivos
Amores jovens e lascivos, de arrepiar o corpo
E, de tão cansado, em mais uma noite a sós deitar
E me descobrir destruído:

Ora, menina!
Quem pensas que és?
Achas que te esperarei, beijarei teus pés?

Se sua intenção for ter um homem pálido
Consumindo lamúrias por trás do vidro embaçado
Meu amor,
Desista!

- Desconstrutiva,
é a dor de viver cada segundo maldito
Sob o álibi de insistir em dar um sentido
A sorrisos otários que tento forçar

Eu prometo que por aqui não ando mais;
Eu juro que se cheguei aqui, foi por obra do acaso
Nem mesmo a tortura que é esse cansaço
Consegue arrancar de você um minuto de paz?

- É vã a tentativa de aproximar nossas idéias
E ingênua a idéia de tentar fundir nossos mundos!

- És são o suficiente para acabar com esta tristeza
Me apunhalando com realeza,
Rasgando a alma com o sangue a jorrar dos pulsos?

- Se nada mais lhe arranca do leito
E teu corpo não mais recebe meus carinhos
Vamos ambos coroar em espinhos
Quem construiu essa maldita paixão;

- Se nada mais lhe faz efeito
E nada mais me faz sentido
Vamos ambos ser vencidos
Descontruídos pela dor excruciante da solidão.

- E se, uma vez ao menos, sentires isso em teu peito
E o mais plástico dos amores for abatido
Vamos embos estar perdidos
Envenenando esta canção com o desprezo
Desconstruídos pelo frio a escapar por entre as mãos.

quarta-feira, 30 de agosto de 2006

Tardes e Noites em SP

Noites e tardes frias, ar seco
Acordes de bossa nova ecoando
Nas esquinas e nos becos;
Engarrafamentos e curvas
Sob a chuva de um sábado modorrento
Por trás dos ternos engomados
Os corpos tremem de frio em seus lamentos

Lamento, mas não espere
Das cinzas e da pólvora achar
Um abrigo, para nessas horas vazias e foscas
Sob outros lençóis se deitar;

Cante, mas não se encante
Com a melodia doce que insiste em cantar
A voz que entoas é semblante
De solidão a, entre os arranha-céus, ecoar.

Almoço em correria, carne engolida em seco
Sexo casual, meia hora no sinal
Gemendo no meio do asfalto:
A cidade é um puteiro!
Depois do trabalho, um jantar requintado,
Fast-food "brasileiro"
Por trás do ar de despedida
Vida bandida lhe arranca o peito

Lamento, mas não espere
Paz de espírito e descanso encontrar
Espere um riso, triste e indeciso
Sobre os lábios poluídos pairar

Tente, mas nunca invente
Tornar as coisas diferentes do que são
É sua sina, a deles e a minha
Viver noites e dias em um frio que não tem fim
Mesmo sob os confortáveis lençóis da ilusão.

José Augusto Mendes Lobato 30/08/06

quinta-feira, 24 de agosto de 2006

Life in a Coma

Posam assim, vis, para os olhos do mundo
Com a mesma inconstância e fraqueza
De quem um dia já sentiu, em mãos, a realeza
De cavar um poço e nunca atingir o fundo

E eles pensam ter a cura
Para seus dias sofridos e sem sentido
Para todo o sangue derramado,
Por cada pedaço de vida que lhes é arrancado
Por trás desse discurso gravado e do mesmo hino sofrido

Explodindo em ignorância
Engolindo edifícios, enterrando vivos
Homens, jovens e crianças!
Queimando bíblias, perfurando o seio
Pintando as faces com o mais puro ódio
Remoendo nos cantos o mais vivo desespero

Atravessando um solo sagrado
Queimando seus corpos frios,
Estão todos de peito inchado
Entregando-se em nome de um caos criado
Em torno da imagem de um acaso,
Outrora destino que nunca foi visto

Sem culpa do que pensar
Sem saber a quem culpar
Esses coitados, homens e mulheres,
Não têm rumo ou sentido
Senão uns aos outros matar
E amanhã acordar sozinhos.

É a sina de se acreditar
Em um Deus que, se existisse ainda,
Já não teria forças para suportar
A mais estúpida hipótese de estarmos vivos.

José Augusto Mendes Lobato 23/08/06

sábado, 19 de agosto de 2006

L.S.D.

Quando curvas os ombros
E me olhas de canto
Como se tivesse te deixado assim, ao relento
Ouvindo o doce silêncio do vento
Cortando e cada dia arrancando
De ti os sorrisos, sinto-os retidos em triste canto
Ecoando em meus ouvidos.

Quando deslizo em teus lábios
E sinto o seio, em acalanto,
Pulsando em veias, me espanto
Descubro que, em teu silêncio tenho um grito
E nos mais obscenos, suspiros,
Como se nossos corpos ficassem ecoando nas paredes
Nos arrancando os sentidos.

É essa noite sem máscaras
Sob o luar das almas antrelaçadas
Sob os lençóis feitos de roupas rasgadas
Que perdemos a compostura
E nos entregamos à loucura
E à indecência de amar sem sentir

Mas não quero sentir, em nós, culpa
Cante para mim assim, deixa minh´alma ser tua
Chega de pequenos rituais!
Quero um romance assim contraditório
Carnal e vil, surreal e frio, tórrido
Em que possamos nos entregar à loucura
E a inocência de deitar todas as noites
E nunca mais dormir.

José Augusto Mendes Lobato 19/08/06

quarta-feira, 16 de agosto de 2006

Floreios.

Acorda, e mais um dia vivido a esmo
Lhe cede os braços, tão abertos como nunca puderam estar
Sorri para o mundo, e sente a dor no peito
Menino sonhador esse, que começa a andar
E a, só, chegar aqui.

Insiste em enrustir a sorte que tem com erros
Não mede cansaços para, lento e vil, entregar-
Se alguém neste mundo desconhece o desalento
De amar sozinho, isento de culpas ou planos,
E, no fim do dia, cair aos prantos e se jogar,

Que atire a primeira pedra!
E me diga na cara que os tapas que levo são o virar do vento
E não as marés violentas que arrancam minhas entranhas
E me ferem o corpo, a alma e o peito
Fazendo de uma mesa de bar sujo leito
Agora, com todo o respeito, me deixa aqui, sozinho,
Deixa meu estar!

A porta que, essa luz, repudia, já me foi um espelho
Onde retorcido sentia o ardor da febre a contorcer
Neste antro sujismundo de artistas pobres e infelizes
Onde, com seus pincéis e meretrizes
Passam as noites a declamar
O ódio pelo mesmo mundo de injustiças.

Fogem eles dos assuntos com a mesma destreza?
A arte de iludir é grande habilidade
Confunde o martírio de ser só com a inábil realeza
De ser, para si, um perigo e uma metade
A, só, ruir.

E que atire a décima quinta pedra
Quem não conhece bem a dor táctil de amar
E não tem, em meio às tripas, pulsante seio
Que assim, sem sangue ou floreios
Sofre inábil, tal qual coração jovem,
sem sequer poder lutar!
Agora, com todo o respeito, me dê um motivo para me sentir aceito
Pelo menos você,
Me deixa calar!

José Augusto Mendes Lobato 16/08/06

domingo, 13 de agosto de 2006

Varsóvia

Não é ironia
É pura falsidade
Encontrei sangue nas rosas do meu jardim
Quero pureza
Imposta em liberdade
tenho desejos
que só cabem a mim sentir

Não posso ter medo
Não posso me esquecer
De ter segredos entre eu e você
Nosso mundo agora é uma redoma
Você pode me proteger?

Não é rebeldia
É pura realidade
Quero provar a sua fragilidade
Nossos futuros
Ruminam desnutridos
Nos pratos vazios e sujos
No nosso limbo

Não posso negar o que parece
É que o mundo lá fora se estremece
Nos vendo levantar em meio à cinza
Contraindo e repetindo a mesma velha sina
De nunca admitir perder

Não é mentira
é a mais falsa verdade
Nada nos atinge,nem a sinceridade
Nossos prodígios
São nada mais que escombros
Ossos do ofício
que carregamos nos ombros

Não posso atravessar essas paredes
Não posso lutar contra o que construí
Eu vejo um palácio reluzente
ao ponto de implodir
E o mundo lá fora,estarrecido
Verá a muralha cair
E a aplausos e gritos
iremos nos destruir

José Augusto Mendes Lobato 2005

(Antigo também...)

sábado, 12 de agosto de 2006

It Hurts.

Não vês o quanto sofro?
Isso dói, e mesmo que não saibas
Em mim as cicatrizes são indistintas
De tantas que consigo marcar
Delas nascem mais feridas.

Não, eu não insisto
Mesmo assim dói, e mesmo que o sintas
Responde como se nunca fosse certo
E fosse inconveniência do acaso
Que sempre estivesses longe,

Tão perto de mim e de tudo que faço por você
Sem ao menos agradeceres, reconheceres
Que isso tudo não é instinto
Você não entende
Eu tenho vontades
Tenho verdades
Guardadas em meu peito
E uma delas você já deve saber

Eu te amo,
Mas dói não ter a certeza de você.

José Augusto Mendes Lobato 12/08/06

quarta-feira, 9 de agosto de 2006

Pais e Filhos II

"Receba dessas mãos meu sacrifício
Dê orgulho a quem te fez para o sentir
Abra os olhos,olhe o que está perdendo
Pára de dizer que não tem para onde ir"

Deixe de esfregar na minha o seu triunfo
Suas conquistas são as minhas
Minha conquista é você
Me dê um futuro,me dê um passado
É tudo que eu preciso para amadurecer

E ser seu sonho materializado
Seu herói idealizado
Um menor reflexo seu
Sem alma,sem paz,
Encurralado
No meu destino programado
Que insiste em me puxar para trás
Seu passado não é meu.

Preciso de ti,preciso do teu aval
Preciso ouvir o que não queres me dizer
Nossas estradas se cruzam no infinito
E esse caminho vou trilhar a pé
A gente se vê

Não quero carregar nas costas o mundo
Só quero conquistar o meu abrigo
Não quero ser seu filho imundo
Quero apenas ser seu amigo

E de tanto ser pressionado
Ser egoísta e alienado
Aprendi que esse sou eu
Esse mesmo que para você,se perdeu
Está acordado
Te quer aqui ao lado
Vendo o novo caminho trilhado
E agora que estou em paz
Quero te ter nessa história linda
Que eu mesmo criei.

Vem comigo
Te quero comigo
Nesse mundo que criei para nós.
Não quero estar sozinho
Quero teu carinho
E quero ouvir tua voz.
Teu perdão.

José Augusto Mendes Lobato 27/10/05

(Antiguíssimo...)

domingo, 6 de agosto de 2006

Apesar de Você

Eu, ao contrário de você
Sinto saudades
E, quando ligo e te vejo na tevê
Encaro duas verdades
Relembrando tudo que deixei de viver
Para descansar mais um dia ao teu lado

Eu, igualzinha a você
Contraio o peito
E, como sempre, ingênua
Faço de teu corpo leito
E descubro que, neste palco tão perfeito
Sou apenas figurante no cenário

E, com todo o respeito
De um monólogo muito do seu otário.

Eu, apesar de você,
Vivo estes dias à parte
Acordar na mais solitária sobriedade
É exercitar a arte de ser sozinho
E, nesse quartinho imundo, sofrer
Para poder, nesse vazio, pintar meu quadro

E, de braços cruzados, nele aparecer
Cansei de respeito
E, como sempre, ingênua
Faço de minhas palavras atos
E descubro que sem ti não há vingança
E sem vingança, não há despeito,

E, com todo o respeito:
Aqui não há espaço para este amor otário.

José Augusto Mendes Lobato 06/08/06

quinta-feira, 3 de agosto de 2006

Fumaça e Espelhos

As curvas que fazes à minha frente
São nuances negras que permeiam o ar
Segredam teus versos, confessos
De tamanha instabilidade e insensatez
E, estranhamente, bem-estar.

Falo de toda a dor
Que a liberdade, vil, lhe confere
Me diz apenas, estás realmente entregue?
Se mesmo viva, danças nua e me apertas o seio
Faz promessas vagas, alimentas anseios
Apenas para amanhã me fazer acordar

E ver a solidão sorrir p´ra mim no espelho.

Não vejo em ti todo o tormento que sentes
Eternamente, teu corpo está
Frio, segredo a ti meus mais sinceros
Desejos de tamanho sofrimento e dor
E, finalmente, absoluta paz.

Falo de tanto amor
Que a liberdade, a vaidade, me tiraram
Me diz, se não estou realmente entregue?
Se mesmo vivo, insisto em repousar sobre anseios
A mesma névoa que dança viva diante do espelho
É a tênue linha entre vagar sóbrio e me embriagar

Entre me deleitar no mais puro ódio,
Ou de olhos fechados, te amar.

José Augusto Mendes Lobato 03/08/06

quarta-feira, 2 de agosto de 2006

Cotidiano

Se todo mundo soubesse
O quanto as coisas nunca foram fáceis
E o quanto é inútil fingir que são todos ágeis
Diante da correria mundana, cotidiana

Diria aos quatro cantos
Que me orgulho em ser vagabundo
Garoto sem passado, sem futuro, sem rumo
Aspirante a "admirador das pequenas coisas"

A infeliz adorador das distorções que,
roucas, ressoam em nossos ouvidos.

Se Deus e o diabo soubessem
O quanto às vezes me sinto por baixo
Mais do que um servo, um escravo
Da racionalidade humana

Diria aos dois que tomassem no rabo
E deixassem minha vida ser esse pé-no-saco
E deixassem que aprendesse no tapa
O quanto essa correria mundana, cotidiana

A cada dia mais me estraga, e, pouco a pouco,
arranca as curvas de meu sorriso.
A cada dia mais me engana, e, pouco a pouco,
vai me levando embora de mim.
E me fazendo descobrir o risco,
O perigo de ser assim,
Pensativo.

José Augusto Mendes Lobato

02/08/06

segunda-feira, 31 de julho de 2006

Versos em Versus

Forço palavras
Tão doces e intensas
Tão fortes e imensas
Em sua insensatez sincera
E frágil de existência

Descubro-as em versos
E sinto-as no peito
Como se a vida esvaísse
De uma folha de papel
E renascesse em novo leito

Mas estão supostas
As quais nunca descubro certas
Tão doces, ilusórias
Mas sempre táteis e vivas em teus lábios
E, ao mesmo tempo, vagas e inertes

E forço conclusões
Tão tristes e tensas
Que espero serem ofensas
A nós, e espero paciente a melhora
Da minha frágil paz de espírito

Espero que, em algumas poucas horas
Descubra, ainda, em ti,
Um reflexo da dor que, hoje, sinto.

José Augusto Mendes Lobato 31/07/06

segunda-feira, 24 de julho de 2006

Debaixo do Tapete

- Vêm todos assim, envoltos em uma cortina de sobriedade
Sérios e esguios, deslizam frios sob nossos narizes
E nos calam as bocas cheias de vangloriações
- Infelizes os que teimam em julgar verdade
O olhar à parte de ilusões sem limites

- São ingênuos, ora!
Quem há de te dizer que tua princesa encantada
Não passa de mais uma puta drogada
A correr descontrolada pelas ruas do Leblon?
- Coitados, demoram a dormir esperando casal e filhos
Acham que todos são beatos enrustidos?

- Que enfiem então, debaixo do tapete
Seus narizes lustrosos e seus lábios ungidos em mel e leite
E vejam que não há mais nada no mundo que não seja sujeira.
E que de tão podres, viramos gente
Falsa moralista, infeliz e, por inércia, rasteira.

José Augusto Mendes Lobato 25/07/06

quarta-feira, 19 de julho de 2006

La Villa Strangiato

Antes eu sentia como se sempre fosse nossa a primeira vez
E todas as curvas do teu corpo fizessem sentido
O toque denso das palavras deitando-se sobre nós
E a fumaça pairando no ar, dançassem sob mais um luar pervertido

Hoje eu sinto como se não fôssemos tão jovens
E, não fôssemos tão íntimos,
Sentiria-me mal de olhar no relógio e descobrir
Que nem mesmo essas horas te trouxeram de volta

E eu nem sei se te quero à porta
Sorrindo vil para o menino dentro de mim

É tão estranho!
Eu sei que esta vida não é nossa
E que suas escolhas não são minhas
Mas faço de minha voz uma nota
Um grito escondido atrás de mais uma porta
Que arrombamos, sorrindo
A cada dia mais pobre de almas
A cada dia menos vivos nos descobrindo.

Hoje já não me sinto jovem
E não me dói sentir a fumaça ser varrida pelo vento
E as palavras de outrora serem versos escritos na parede
E o luar morrer sob mais um céu urbano e modorrento

Amanhã darei as mãos para a morte
E descobrirei que o maior estranho que conheço sou eu mesmo
E que, em vinte anos, nunca tive a chance de chorar
Reclamar com as paredes por tanto silêncio e sossego

Antes sentia como se fosse sempre a última vez:
Eu não acredito!
Hoje eu me sinto um cara de sorte
Por ter o prazer de cuspir na tua cara e dizer o que sinto.

José Augusto Mendes Lobato 19/07/06

segunda-feira, 17 de julho de 2006

A Nova Paris Hilton

Você percebe:
Ela nunca me olhou com bons olhos
Sempre se fez de boba, agora vem e senta no meu colo
Pedindo um ombro para lamentar sua vida

Não esquece
De citar o poder do acaso nosso,
E vem dançando, derrubando o copo
Embebendo meus lábios com as coxas ungidas

Como que se insinuando para um mundo louco
Que nem se dá ao trabalho de trocar olhares
E lhe abre as pernas, lhe dá paixões fugazes
Amanhã, acordará sozinha,
sem identidade, a mais nova celebridade
descabelada, gritando nas ruas, tadinha,
nua em pêlo.

Ela insiste em dizer que é assim mesmo, hoje em dia
Chega de conversa, mergulhe nos lençóis,
E venha me dizer o que lhe falta por aqui
Qual é a grande atração do filme de sua vida?

Senão fotos borradas
Taças quebradas
Aos pés dos fotógrafos
Debaixo da escada?!?
Manchetes de primeira página
Vidros peliculados
Lábios viscosos, vestidos vermelhos
Mãos afins nos seios
Família tensa, sorrisos à mesa
Pais estupefatos?!?

Você percebe:
Ela nunca olhou para si com bons olhos
Deitou em mil braços e, acaso veio,
Encontrou, entre eles, um otário

E provou a nós, demais e consequentes otários
Visionários da vida alheia
Não adianta reclamar de boca cheia!
O corpo é a alma do negócio
E a sorte já está desnuda na mesa.

José Augusto Mendes Lobato 17/07/06

segunda-feira, 3 de julho de 2006

Jogo Frio


A luz do dia é seca demais para que eu te veja
Por através dos vidros mornos e dos cartões postais
És parte dessas ruas repletas de ódio e fúria
E desse mar de passos lentos e sentimentos mortais
A me perfurar a pele.

A seda é muito fina; não sei o que insinuas por trás
De pernas tão contidas a caminhar na rua em paz
Sou parte de tuas mentiras já vividas e da fúria de teus olhos
E neste mar de mãos contidas sou o som de uma palma
Solitária a te apunhalar por trás.

O jogo é frio, a cena é clara
És a espectadora, parte de uma cena já gravada
Abre essas mãos, que te ensino o passo novo
Como atravessar essa rua, parar o trânsito com o próprio corpo
E mesmo assim, ser apenas uma transeunte

Caminhando a passos soltos: Não quero que te vejam
Desnuda na praia, nua em cima das mesas
És parte desse cotidiano repleto de fel e luxúria
E nesse mar de amores perfeitos e fotos desfocadas
Encontro você bêbada no chão a lagrimar lamúrias

De jogos frios, cenas inventadas
És mais um corpo sem rumo, parte da noite, desnorteada
Abre essas pernas, que a cidade te ensina a viver
Verás que as regras são claras e o jogo é sempre o mesmo
Atravessa essas décadas a esmo
Que, assim mesmo, infeliz, aprenderás a com a solidão conviver.

José Augusto Mendes Lobato 03/07/06

quarta-feira, 21 de junho de 2006

Memória Auditiva

Lembra do dia em que fumei o primeiro cigarro?
Quase não consegui juntar duas palavras e fazer delas um verso;
Lembra daquele passo torto, daquele olhar vago?
Quase não dei conta de ir para casa, já te peço paciência

E eu tropeço, sempre em inocência
Tal qual uma criança que não olha nunca para os lados
Lembra de todas as primeiras vezes que me destes?
Quase que me construístes, mesmo que inerte!
E transfiro a ti a culpa de toda minha tristeza
E de toda a minha falta de saudade

Quase que me apeguei à liberdade
Antes de me tirares dela com os braços estendidos.

Pois é, eu ainda existo dentro de mim
Embora tudo agora seja uma redoma
Embora tudo continue assim

O mundo feito de palmas e sorrisos
Luzes ofuscantes me cortando os sentidos
O tempo arrastando a fumaça de meus lábios
Os dias engolindo minhas noites em claro
Nossas mãos se apertando e se enforcando em silêncio
A realidade contradizendo as loucuras em que penso
E toda a tristeza de um homem comum ressoando
Nos pátios das cidades que vão, lentas, sufocando

Lembra do dia em que fumei o primeiro cigarro?
Ouvia a música de um bar qualquer penetrando em meus ouvidos
Tal qual um vírus urbano a me infectar os sentidos
Lembra daquele passo torto, daquele olhar vago?
Quase não dei conta de ir para casa,
Dancei e vomitei desfalecido nas escadas!

E, me diz, de que adianta?
Por trás de tanta maturidade a memória, em parte, me alcança
Lembra te todas as vezes que dissestes
Que eu ia me arrepender?
Ah! Se eu soubesse!

Estavam e estão, lado a lado, agora,
Um menino e um homem em sua realeza:
Ambos infelizes, sem história e frustrados

Quase que apagando as pontas de seus cigarros
Nos pulsos cortados por copos jogados à mesa.

José Augusto Mendes Lobato 21/06/06

sexta-feira, 16 de junho de 2006

Ode à Metrópole

Bom dia! Sinta-se privilegiado
Bem vindo à capital da beleza
Ao lar de todo e cada desgraçado
Que habita este planeta;

Acredita... que cada dia há novidade?
Os cinemas fecham as portas
Abrem mais boates por cima de esquinas mortas
Dê a si mesmo um pouco de variedade;

Vá embora daqui!

Corre! Senão chega atrasado no trabalho
As ruas consomem tua saliva
As varandas cheiram a asfalto
Tens sorte por ainda ter as tripas;

E não estar apodrecendo no trânsito engarrafado.

Sorria! Senão amanhã estás no noticiário
Os flashes te deixam à deriva
As amizades que constróis vão por água abaixo
Basta dedicar um domingo à preguiça;

Os túneis e os metrôs, te aprisionam
A fumaça exala dos teus poros inchados
Vês estes prédios abandonados?
Serão as casas dos teus filhos
A metáfora viva do abandono;

Atenção! Sentes sono?
Vai dormir debaixo da ponte, então!
Ou gasta teus pilhérios num bar em um canto, irmão
Ou faz das tuas mãos sangue a pulsar

Nas veias da metrópole!

Sentes calor? Abra um sorriso
Caminhe debaixo do sol, sinta a estufa lhe afrouxar os sentidos
Insolação? Sentem isso os ricos!
Levante as mãos ao céu e agradeça o seu martírio.

E por aqui não se sofre, acredita?
E por aqui todos sorriem, acredita?
Emprego aqui é qualidade de vida!

E por aqui a gente ama, acredita?
E por aqui a gente tem família, acredita?
E aqui todas as famílias são unidas,
E ai de quem chegar primeiro em casa...

Ninguém nunca precisa de ajuda;
São todos suicidas!
Respiram monóxido, pagam seus impostos
Vivem suas vidinhas plásticas e comedidas;

Compram sua passagem sem volta para o paraíso
Todo santo domingo,
Vão à missa!
E haja ouvir dos bons a boa notícia
Mas que notícia de merda que não levam às ruas,
Ficam lá dentro de joelhos, arrependem-se de suas falcatruas
E saem de lá desgraçando o homem por mais um dia

Meu amigo! Olhe a miséria ao seu lado,
Hoje é dia de fazer o bem, liga a tevê!
- Agradeceria se a pudesse ter...
Não pode ser, que gente vadia!

Eles pedem para que a nação seja construída
Por homens de bem, de ações medidas
Mas quem de nós há de clamar por ordem e progresso
Se o retrocesso e a barbárie regem nossas vidas...

Nas veias da metrópole?

Eles temem o inimigo que habita as ruas,
Mas dão esmolas sentidas!
Como que pagando por medo
Alimentando seus assassinos a esmo
Com grades abertas e garrafas de bebida

E dão a esse inferno em que vivem
Mais dinheiro, sangue, concreto e ruas
Por serem tão inescrupulos, metropolitanos
E, consequentemente, filhos da puta.

José Augusto Mendes Lobato 16/06/06

terça-feira, 13 de junho de 2006

Morangos e Rosas Vermelhas

Eu sei, sei muito bem
O que sentir quando vejo o que penso em uma folha de papel
Sei como reagir, mesmo exposto ao medo
De te perder para alguém que nem conheço

Eu evito usar palavras vãs
E estragar momentos que tento tornar perfeitos
Eu apenas queria poder dormir tranquilo
E saber que, em seu coração, estaria só

Machuca saber que eu estou lutando para te conquistar a cada dia
Ao mesmo tempo em que posso a estar perdendo
Ao mesmo tempo em que pareço estar correndo
Nada faz mais sentido
Do que as coisas que eu, sem querer, li

Dentro de ti, sei que não tens culpa
De olhar para trás a cada curva
E, vez ou outra, saudar,
enquanto está tentando ser feliz

Sei que a saudade aperta,
Posso estar de portas abertas para você
Mas será que você está...?

José Augusto Mendes Lobato 13/06/06

segunda-feira, 5 de junho de 2006

Sorrow´s Screech

Respirem ódio
Alimentem seus desejos
Dançem nus contemplando
A arte falha refletida no espelho
Um outro dia, então, chorem
Lembrem-se da insignificância
De seus dias vagos e suas noites entorpecidas
De tamanha deprimência,
Inquestionável vingança no peito
Imedível inconstância dos segundos
Que passam e lhe dão à morte em leito.

Exalem álcool e fumaça
Dos poros de suas almas
Questionando um mundo roto
Com os olhos marejados em lágrimas
No outro dia, então, lembrem
Que o passado não é um espelho
Tão quebrado e descontínuo
Desprovido de orgulho ou desprezo:
É seu próprio desatino
Ver beleza no que sentem
E do que sentem, não ter medo.

Sempre lembrem-se, porém,
Que estou dentro de vocês mesmos.

José Augusto Mendes Lobato 05/06/06

sexta-feira, 2 de junho de 2006

"XXI"

Os corpos alimentam a terra banhada de desespero
As mãos se entrelaçam jovens vendendo almas a esmo
Enquanto passos firmam pés sujos de lama
Uns gritam por paz, outros não saem da cama
(E gritam, ao menos uma vez, a verdade)

E gritam por liberdade nas ruas metálicas
O cheiro penetrante, nos cantos das escadas
O semblante da tortura de viver de olhos fechados
Aguardando dias melhores que mantém-se intocados
(Relembrando algo que deixou pra trás)

Um dito novo século...

A juventude dança embrigada, sob outros lençóis
Entorpecida pela fumaça, pelas noites a sós
Pelos amores inacabados, refletidos e transtornados em redes sem nós

Sentimentos metálicos, frios; carnais
Restam apenas escravos dessas vidas tão mortais
Dar às lágrimas abrigo, deixá-las deitar
Sob lábios fechados:
Palavras não valem mais...

Um dito novo século,
Mais alguma esperança
É alimentada em meu peito,
Já recebo com desconfiança
O pão e o calor em meu peito,
O alimento de mais dias de paz...

José Augusto Mendes Lobato 02/06/06

segunda-feira, 15 de maio de 2006

Cursinho

Sentam-se, e a fila
Caminha uniforme
Os que vão, vão sorrindo
Aos que restam, a “sorte”
De aguentar mais doze meses
E mais doses de frustração
Mais sorrisos, e, às vezes
Acessos de imperfeição

Lá vão eles!
Ouvir a voz de quem sabe
Mas não fala; quem sabe
Deste ano não passa!
Daqui a doze meses
Mais uns irão embora
É o ciclo de quem insiste
Em sonhar alto em ter sua hora
E sua vez.

Entreolham-se, respondem
Sabem tudo, e excitados
Vão à luta, coitados
Já são décadas de infortúnio
“Segundos de sorte mudam tudo!”
Se trancam em suas redomas
Lêem nos fins de semana
Lêem suas vidas nos outdoors
E os carros passam rápidos demais
Os sorrisos lá se estampam, e se borram
Na promessa ilusória de que um dia terão paz.

E quem são esses
Que dão risada ouvindo rádio?
Não passaram; quem sabe
Ano que vem, nesse mesmo horário!
Deve ser triste às vezes
Se sentir jogado em um canto qualquer
Mas esse ciclo se repete para quem resiste
E não decide se quer seguir em frente
Andar diferente
Ou sempre cair de pé.

José Augusto Mendes Lobato 15/05/06

domingo, 7 de maio de 2006

Paz.

É fácil ser racional, sorrir de canto
Difícil é se entregar ao que sente
À perfeição inacreditável de cada minuto
À beleza de quem levas ao lado.

É fácil não ser "precipitado"
Difícil é julgar-se isento de anseios
Difícil é comprovar-se apaixonado!
Sem ter provas, sem nem mesmo palavras
Apenas tendo em mãos um sincero silêncio.

Quase esqueço de te dizer hoje
O quanto a cada dia me sinto mais próximo de ti
Nem existe fácil ou difícil, na verdade.
Apenas sei que, agora, posso sorrir
Estar um pouco mais próximo de mim mesmo
Um pouco mais em paz para sentir
Paz.

José Augusto Mendes Lobato 07/05/06

Sem comentários... xD

quinta-feira, 4 de maio de 2006

Vinte e Um

Somos todos iguais
Perante o medo, respondendo sempre com o desespero
Buscando paz
Em abraços sujos de sangue
Congelando nossas almas, nossos corpos
E nossos olhos; e nossos sonhos, aonde estão?
Em nome de algo que nem acreditamos
Os apagamos, e vemos, mais uma vez
Mais "paz" nos tirando a liberdade das mãos.

Você sempre se sente atrás?
Como se, assistindo um filme, sorrisse
Esperando respostas que nunca vêm
Suas lágrimas já não caem
Sentimentos são ficção, tal qual as horas que assiste passar
Se reciclam, sobre as mesmas regras e convenções
E ainda finge que algo lhe faz feliz
Sorri por um triz, faca e pílulas em mãos, diante do espelho
Seu melhor companheiro
Mas, no fundo, sabe que não tem coragem
Joga tudo no lixo e retoma a realidade
Luzes, Câmera, Ação.

"Estou me sentindo só
Diante da busca por algo que desconheço
E o pior
é ver que nada do que desconheço existe.
Congelando, sentindo frio, sorrindo vil
Sem que nem porque
Em nome de um mundo que pretendo fingir existir só para mim
E para o coração que se afoga em meu peito
Em um mar de razões para não ter razão para sentir."

José Augusto Mendes Lobato 04/05/06

segunda-feira, 1 de maio de 2006

Um ideal de solidão

Tardes sossegadas, taça de vinho em mãos
A sensação de que tudo se repete
Que tudo se reciclou
E você ficou ali, sentado, esperando
Alguém que nem te vê
Alguém como você, inerte

Caminha pela casa, desfazendo teias de aranha
Desliza os dedos pelas paredes
Em busca de marcas de outros dias

E nada lhe reflete melhor
Do que você chorando encostado na porta
Com a certeza de que não quer mais sair
De que não quer mais sorrir
Nem para si mesmo.

É um descanso que você se dá, meu irmão
Entregar-se uma vez, dar as mãos
Mas será que você não notou?
Você ficou aí, deitado
E ninguém veio lhe ver
E você dormiu assim, com as roupas a vestir

Levanta assustado, já é noite lá fora
Desliza as mãos pelo rosto, e, de olhos cobertos
Começa a lagrimar por mais um dia
Em vão.

José Augusto Mendes Lobato 01/05/06

quinta-feira, 27 de abril de 2006

Anseios

Às vezes sinto que não me mereço.
E isso é motivo de risada
Mas é a verdade,
Não sei se não dou valor ao que tenho em mãos
Ou se simplesmente não acredito que completo alguém
Ou que ao menos trago paz em meu coração.

Às vezes acho que não me conheço.
A cada dia, mais pensamentos avulsos
Medos confusos,
Não sei se afundo por pura fraqueza ou por pressentimento
Sei que é culpa de um comportamento meu, eu tento
Mas não consigo engolir com os punhos cerrados o que sinto.

Sabe o que me dói mais?
Eu posso posso estar me perdendo
Posso estar te perdendo
Sem nem perceber
Estou caminhando muito rápido
Gritando muito alto
E me esquecendo de contar meus passos com calma
E olha que presto atenção em cada aviso.

Às vezes esse cara que eu vejo no espelho
me parece um tanto indefeso
E eu já cansei de tentar mudar,
E eu não quero mais ter tanta certeza do que vejo.

Você.
Você.
Você.
Sim, você.

Sabe o que me tira a paz?
A certeza de que não posso ter certeza.
Posso estar gritando com o vento.
E nem perceber
Que estás calada do meu lado.
Sorrindo contra a meia-luz
Enquanto conto os teus cabelos e me entrego assim, fácil
A um amor que sei que posso afundar no anseio
De sentir o que não deveria ter sentido.

José Augusto Mendes Lobato 27/04/06

domingo, 16 de abril de 2006

Confessionário descartável individual


Tenho medo.
Procuro manter-me calado,
Falando descontrolado
e calando tanto anseio
Com o mesmo ar transtornado.

Sinto um arrepio
Tudo está tão nos eixos,
e como um aviso, percorro o seio
Em busca de um pulsar que acelera o passo
Com o mesmo beijo desconfiado

De quem um dia não sentirá mais medo.

É segredo.
Mas mesmo assim eu te falo,
Tento, indeciso, manter ao meu lado
Uma razão para sempre andar
E tropeçar com os mesmos pés direitos

E levantar com os esquerdos:
Amar-te é desafiar a força de meus punhos
E entregar-me à lona com as mãos no peito
Mesmo com o medo arrancando lágrimas,
olho para ti e a cada segundo te agradeço

Por me ensinar a ver com outros olhos o que sinto.
Por me dar mais e mais razões para acreditar no que vejo.

José Augusto Mendes Lobato 16/04/06

segunda-feira, 10 de abril de 2006

Over the Flesh


If you´re the one behind these cold eyes, tell me
Do you see all that´s behind the curtain?
Do you cry for freedom with your heart in hand?
Is there a drop of blood in my face
Or am just crying what i´ve got in mind?

If you get to your knees on your everyday run
Tell me, did you woke up undone
With a world spinning ´round you much too fast
Can you reach the tide and walk aside
Smiling with the devil laughing inside your head

A drawing in the window came into living tonight
They´re insane, we´re insane
We´re all walking with hands tied
Towards the same dead end,

Do you pretend to walk outside?
Just let go the heart in your hands.

If you´re pointing the gun at my face, yell at me
That i´m denying myself, and killing my family
Make them see the monster you all built inside me
While i was running to stand here between your damn heads
Trying to hear a little more of what should and will never be.

Lay down all of you in your pillows
Make it better and rest in peace
I´m a threat, i am dead
Since i´ve been trying to walk myself out of your path.
Please, let me fall here
Let me be the one instead.

We´re all sharing one eternity, after all
These eyes are freezing just like yours
The curtain rises,
The faces blank,
And, again, they´ll close the doors.

And you want to escape, you better pray, boy
For your god´s in earth,
and god knows who´ll survive tonight.
You better sleep.
And let go the very air you breathe.
And hold the dream you´ve got in hands before you die.

Have a nice last day.

José Augusto Mendes Lobato 10/04/06

domingo, 9 de abril de 2006

Presente, Passado, Futuro


Presente, passado, futuro.
Passeios de pés nus sobre o solo enlameado
Acendendo as velas enquanto dança no escuro
Marcando a pele a ferro e sangue
(De olhos bem abertos.)

Velas, bruma, tempestade
Caminhando com as mãos sobre o corpo suado
A janela fechada separa o céu nublado
Do abrigo que tem por entre outros braços
(Inertes, marcados.)

Não vê o tempo passar, não sente o peito pulsar
Não vê a porta abrir.
À luz de velas, sob o mesmo luar
Vermelho,
Peças de roupas levitam no ar
O presente é o futuro em pedaços
O passado está...

Doce, amargo, ácido
Lábios banhados pela seiva lodosa
No seio, o desejo faz-se prosa
Falas são abrigos para noites a sós
(Amargas, frias)

São as mãos que te apertam contra a parede
O vazio que deixas preenche a sede
Que alimenta por ter a si mesmo como uma ameaça
(Mortal e cansada)

Não vê a morte nele, a tomar-te a alma e dançar
Pés calejados, rua vazia, o ar
Exalando ódio
Fecha os olhos sem relutar
Os lábios jamais se cruzam
Vai-se o passado, o presente e o futuro
Num único golpe de lâmina

José Augusto Mendes Lobato 09/04/06

sábado, 8 de abril de 2006

Inércia

Dividido entre dois lados
Prozaico e confuso
Decididamente difuso
Metódico e circuncisado
Pela sanidade de outros dias
De outras voltas em torno do mesmo minuto

O vai-e-vem de cada frase absurda
Que se passa em sua mente
Lhe rege os dias, mas de que adiantou?
Ainda caminha em torno dos mesmos atos inconsequentes
Das mesmas neuroses vendidas
No rótulo de todo e cada pós-adolescente

Comprimido entre dois estados
Euforia e desespero
Decidido por não entender se tem nos braços
Mais uma chance de terminar um dia
Sorrindo ou temendo se entregar ao medo

De se entregar,
e a boca renega as palavras
O corpo insiste na inércia, suposta paz
Espera dias melhores, mas por que nada faz?
Ainda insiste em dar a si mesmo uma condicional
Estando preso às mesmas convenções
Nunca dando razão ao que sente
A cada dia dando mais um passo para trás.

José Augusto Mendes Lobato 08/04/06

quinta-feira, 6 de abril de 2006

Silêncios.

Olha p´ra ele
Diz pra ele que as coisas são assim mesmo
Arremessa teus conselhos vãos
Dê a ele razões para encarar o fim como um outro começo

Como mais uma chance de se encontrar
Ele já não quer mais saber
Só quer mesmo achar seu lugar
Não diz mais o que ele deve fazer

Teve seu momento de glória
Um belo dia se acordou
E levou uma lufada de vento cortante no rosto
Sangrou até o frio lhe fechar a cicatriz
O que lhe restou?
Silêncio.

Olha p´ra ele, tenta entender o que ele pensa ali
Quando segura as mãos que tem ao seu redor
Num eterno chorar para não sorrir
E a cada dia, se surpreende mais e mais com seus "tropeços"

Nem sabe o que pode encontrar
A cada porta que abre à sua frente
É jovem, errante, mas, ao mesmo tempo, tão certo
De que ainda tem a chance de ver o mundo diferente.

Mas ele reescreverá sua história
Calará essas bocas cheias de silêncio e meias-palavras
Vai se acordar e sorrir para o cara do outro lado do espelho
Vai se lembrar que guarda em si um cara
Que muitos invejam
Que muitos temem
Que jamais esquecem
Por estar simplesmente a cada dia quebrando silêncios.

José Augusto Mendes Lobato 07/04/06

"E hão de ser recompensados os justos"

segunda-feira, 3 de abril de 2006

...

Falei de arrependimentos
De coisas banais, ressentimentos tais
Que nem mesmo sei se senti.

É passado? Pensei, pensei muitas vezes
Não lembro mais de ter lutado ou sofrido
Por outras vezes, eu sei
tristeza é saber que pode demorar pra acabar
Sem nunca sequer ter existido.

Pois é, e a cada dia que pareço ter pouco
Te descubro mais e me sinto louco
Por me unir tão fácil, me entregar assim

Mas não me arrependo
Por ter entre os dedos outras mãos
E dar valor quando venço
pelo simples fato de aproveitar esses segundos
Do teu lado.

José Augusto Mendes Lobato 03/04/06

terça-feira, 28 de março de 2006

Circuncisão Poética I


Todas as poesias têm algo a dizer
Prefiro ter uma mensagem em cada linha
Um parágrafo silencioso em um ponto
A uma estrofe de verdades em cada mentira.

Não agrado aos metrilíneos
Aos obcecados, poetas de "pão e circo"
Sou Barroco em pleno Modernismo
Exagerado, porém sincero
O paradoxo eu reitero
Como o guia da mente que vos escreve.

E vêm à tona os lugares-comuns
O previsível? Não me peça originalidade!
Vou reciclar-te tal qual poesia Árcade
Te farei domínio
Serás fascínio
Obra pendurada na parede de qualquer bordel.

Sim, toda poesia tem seu significado
Mesmo eu sei disso - e tento dar-te asas
Achar em ti meus olhos e braços
Como se pudesse assim me eternizar

Por isso, sou um dito assassino
Aos obcecados, cá está meu tiro às cegas
Sou louco, coringa rouco de tanto gritar poesia
Cansado de vomitar especulações, abstrações e teorias
Á métrica, ficam aqui as desculpas
Mas a mim sou guia e danço comigo mesmo
E os passos se renovam a cada dia.

Na gritaria,
ouço uns.
Batem palmas?
"Lá se vai mais um poeta!"
Vou entregar-me à fogueira
e à dor que me espera
Inquisidores, adeus!
Já vou tarde.
Continuo sem significado.
Sem mensagens e sem linhas.
Sem pontos, verdades ou mentiras.
Continuo nesse recíproco bem-estar
De morrer assim,
com a verdade nos punhos sozinhos.

José Augusto Mendes Lobato 27/03/06

Acabou-se a contagem.
Chega de "X"´s e "I"´s e "V"´s.
^^

sexta-feira, 24 de março de 2006

XXXVII - Dez Minutos

Dançou na rua banhada pelo luar
Chorava de bruços no dia seguinte
Ele a apertava com força,exigia silêncio
Dez minutos de tortura,e sentou à mesa com os amigos.

Assunto vai,assunto vem,
Chegava à mesa o licor e o vinho
Mal sabiam que estariam mortos,exceto ele na manhã seguinte
Após dez minutos de dizeres entorpecidos.

(...)

Ele estufava o peito ao falar dos amigos
Se julgava maduro,não ouvia os pais
Cercado das companhias que lhe davam abrigo
Por dez minutos,isolados minutos de paz

No dia seguinte,não teve tempo de mudar de idéia
Acordou sufocado,nem sabia do que se tratava
Olhou às pressas para os lados,viu um breve sorriso
Seguido de dez minutos de gritos sufocados por uma mordaça

(...)

A vida presenteava-os com o melhor da vida
Mas o irmão dele parecia não se conformar
Sentia no peito um grande vazio
Como se dez minutos a sós pudessem o curar

Acordando cedo aos domingos
Almoçando sozinho na sala de jantar
Pergunta a si mesmo sobre o que faz de sua vida
Dez minutos e o corpo desaba do décimo andar.

(...)

Disse adeus ao telefone
Prometeu nunca mais o procurar
Aquilo era errado,contra-evolutivo
Tinha mulher,casa e filhos e dez minutos pra voltar pra casa

Mas nada que não se resolva com um incentivo
Os dois tinham empregos parecidos,foram trabalhar
O acaso os encontra,não há mais nada no caminho
Dez minutos passados e eles formaram um par.

(...)

Prometeu a si mesmo não se lembrar
Que já guardou sorrisos no peito
E que todos lhe faltaram o respeito
Foram exatos dez minutos ajolheado no altar

Pedindo conselhos,explicações
“Meu Deus,porque não alcanço meus objetivos?
Contidos e concisos,mas sempre sinceros”
Dez minutos lhe lembraram que ser feliz é um ofício.

(...)

Ela diz “não ter culpa”,ele finge não ter esquecido
Foi muito azar ter logo ele visto
“Foi por tão pouco,meu amigo!
Dez minutos e ele nunca ia te encontrar”

A briga os afastou por períodos
Os dois não se falavam há anos
Mas um dia eles deram pra se cruzar numa esquina
Dez minutos e os dois se agarram num canto.

(...)

Em seu leito de morte,o moço chorou,indeciso
Nem sabia amar a vida desse jeito
Sempre quis morrer,mas agora sentia medo
Dez minutos de sufoco e lembrou que preferia estar vivo.

Mas ela nem sabia do que agora acontecia
Estava do outro lado da cidade,“indefesa”
Dançando na mesa,bêbada
Seus dez minutos valeriam uma vida

E o moço morreu sozinho.
Sem nunca ter aprendido a amar.
Nem mesmo por dez minutos.
Nem mesmo por um segundo.

José Augusto Mendes Lobato 22/03/06

quarta-feira, 22 de março de 2006

XXXVI - Confissão?


Eu sinto em me informar
Mas já passou, na verdade,
nem chegou a passar, mas enfim
Eu mereço me contradizer assim
Sem dizer nada

Eu sinto em te magoar
Mas eu sei que sou tudo que tentei ser
Nem cheguei a ser, mas não importa
Fingi na hora nem perceber
Que estava um pouco transtornado
Pela tua presença,pelo teu simples estar

E nem preciso falar!
Será que eu não aprendo?
Parece que deixo falar pelos poros o que sinto
Sem mover um dedo sei que estás sabendo
Que eu estou mentindo, enrolando e deixando
Num canto tudo aquilo que quero dizer, mas não digo.

Nem vou me prolongar
Basta te lembrar que esses dias têm horas largas
Opacas até eu me acertar na frente do espelho
E decorar bem o que vou te falar dessa vez
Nada melhor do que ter a minha vez
A nossa vez
E poder te falar de peito cheio
Que eu já me sinto novo.

José Augusto Mendes Lobato 22/03/06

domingo, 19 de março de 2006

XXXV - Sete Horas


Já estive mais cansado,sei
Que outros tempos são um porto seguro
Para fazer deste tempo algo a se lembrar
Hoje teve coisa boa,o cansaço compensa,sei
Mas também sei que nem todo cansaço cansa de se sentir;
Ao menos não por aqui.

Já me deitei com os olhos mais pesados
- Ei,não me diz que não sabiam?
Eu tento,por inércia,descansar
Em cada sonho bom que alimento
Nem vem me dizer que é bom eu desistir
Ando deixando falar mais o cara que guardo no meu peito

Agora eu posso dizer
Que já fiz o que devia ser feito
Que guardo um som no peito
Um violino distorcido,música louca
Um caderno cheio de poesias debaixo do travesseiro
E que dessas pequenas coisas posso me orgulhar
E que no meu canto posso de tudo e mais um pouco rir.

Nem sei se vale a pena ressaltar
Mas eu prefiro errar assim,sabendo do erro
A seguir um molde pré-fabricado
Casa de massinha,bonecos programados
Sorrindo e rindo e se escondendo
Sempre que a saudade aperta.

Já,já guardei o violão no armário
Mas a música não se deixa acabar
Ela está nos meus lábios
Ecoando nas paredes
Rasgando a seda que é o teu olhar

Quebrando o clima estável que ninguém ousou quebrar
Deixando as janelas abertas pro mundo
Hoje a sala de jantar vai tremer
Por favor,compreenda esta juventude,
deixa estar.

Agora eu posso dizer...eu já sei me cansar!
Já sei o que é ter meu próprio tempo
Ter umas sete horas de barulho
Uns sete séculos a se lembrar
Perfeição essa que me deixo lembrar
E só pra não ficar triste
Prometo a mim mesmo que semana que vem tem mais,
é só acreditar.

José Augusto Mendes Lobato 19/03/06

quinta-feira, 16 de março de 2006

XXXIV - Resposta Autoprogramada


"Wake up,these are new times darling..." - Oasis (Cloudburst)

Bem que eu tinha apostado comigo mesmo
Que em menos de uma semana viria a tal "resposta"
Ô teimosia a minha,nem sabia o que estava perdendo
Em vez de calar os dois com o silêncio
Perdi para mim a tal aposta

Eu ainda brinco com as palavras
Eu ainda conheço o íntimo da ambiguidade
Eu ainda consigo me surpreender a cada dia
Dançando comigo mesmo em uma folha de papel
Remoendo e encolhendo as verdades

E,mesmo assim,ainda fui "agressivo"
Ainda que eu bem lembrasse no final
Que tudo que eu queria era justamente paz
E quem sabe um pouco mais de liberdade para eu dizer o que sinto
-No meu canto,vale ressaltar

Não quis dizer nada
E olha que falei tudo
Rimei o nexo com os devaneios
Uns tapas na minha cara com um sorriso difuso

Na verdade,não era agressividade
Na verdade,não falei nada mais que o óbvio
Na verdade,não sou dois,não mais
Sou um e esse um é meu par
E,sim,eu estou em paz.

José Augusto Mendes Lobato 16/03/06

Vamos ver se até esse blog foi "crackeado" =P

quarta-feira, 8 de março de 2006

XXXIII - Sobre outros tempos


Não preciso mais perder meu tempo.
Não preciso mais de tempo.
Não preciso ter tempo.
Não peça tempo.
Não dê tempo.
Não vem.
Nem.
Nem vem.
Coisa mais chata.
Essa total e real falta.
Do que dizer quando te bate.
Essa solidão,essa falsa saudade.
Não sou eu que vai te preencher.
Não preciso mais perder meu tempo.
Não quero mais te dar um tempo.
Não sei nem se me lamento.
Por dar um ponto final.
Por cima d´outro fim.
Não depende de mim.
Não vem assim.
Nem me vem.
Nem mais.
Não mais.
Nem.

José Augusto Mendes Lobato 08/03/06

segunda-feira, 6 de março de 2006

XXXII - Além Do Mais


Não consegui dormir essa noite
Os lençóis não me recebem
O café não me aquece
Nem mesmo um filme me adormece
Não quero nada menos do que estar comigo

Mas nem sei se brigo
Se pego o telefone,te grito umas verdades
Dou a cara a tapa,em nome da minha dignidade
Ou se sento num canto qualquer e deixo estar
Chorar um pouco mais,ficar a sós com minha saudade

Sinto frio,medo,
O vento lá fora arranha os vidros da janela
E é segredo
Que teu carinho é o que desejo
Que o silêncio é meu companheiro
Que às vezes a dor aperta
Por tantas vezes em que finjo ter abrigo

Entre quatro paredes
Que mal me encarceram
Mal me libertam do mundo
Que renego e abandono,
Tão sozinho

Não pude evitar : andei até a janela
Abri e senti teu cheiro entrar
Minha alma e meu coração perfurar
Chegaste ao décimo andar
Me tiraste um mundo que nem sei se mereço

Olhei para baixo : mil vocês a andar
Com os passos apertados
Olhos inertes a me encarar
O que me resta é me entregar
Ver se,ao menos lá embaixo,eu te mereço

Sinto o vento no peito
A dor ficou lá em cima,os frascos na janela
E é segredo
Que teu carinho foi tudo que tive,foi o medo
Que nos afastou em silêncio,e agora,inteiros
Estão meus braços,abertos
Ao menos olhe em meus olhos agora
Lembra de mim?

José Augusto Mendes Lobato 06/03/06

______________________________________

Nome dado pelo sr.Rafael "Vovó" Vouzela.
Valeu Vovó!!! =D

quinta-feira, 2 de março de 2006

XXXI - Rasante


Foi tão bom quebrar o silêncio
Tão bom lembrar de tantos dias
De quantas outras horas
De quantas outras memórias
Daquele absoluto carinho que ganhei por mim

É tão bom me sentir indefeso
Ao ver justo o que vejo
Esses passos errantes que me fazem imperfeito
Mas certo do que tenho em mãos
Certo do que sinto
Certo do espaço que ocupas em mim
Sim,nem mesmo anos
Nem mesmo a eternidade
Me tira do peito a lembrança
De dias lindos que vivi

E eu,
Que já me senti,por tantas vezes,revoltado
Em ter em mãos um amor acabado
De repente,percebi
Que sim,esse amor por horas renasce
Nesse sentimento de pura amizade
Em um amor em liberdade que sinto aqui
Dentro de mim

Foi tão bom sentir o que penso
Ouvir o que penso
Perdoar quem o disse a mim
Em nome das memórias
Da construção da história
Do que um dia senti

E eu,
Que já nem mais sonho acordado
Confesso que acho que não esteja errado
Em ter por ti afeto,paz,enfim...
Esse carinho,essa amizade
Dita perigosa,me parece verdade
Não quero ter mágoas,
Não quero ter esse peso
Quero dar asas a mim mesmo
Voar mais longe
E eu vôo,errante assim

Escrevendo outros versos
Lendo outros livros
Chorando por outros motivos
Sorrindo por outros ventos
Caindo em outras armadilhas
Quebrando outros encantos
Dizendo adeus a outros planos
Nunca mais aos prantos
Aprendendo a sorrir um pouco mais para mim
Aprendendo a ser a cada dia mais feliz,assim.

Paz.
Sons.
Sol.
Sal.

José Augusto Mendes Lobato 02/03/06

quarta-feira, 1 de março de 2006

XXX - "About Me" Nº999


Eu?
Nem queira saber!
Eu prefiro me manter imparcial
Um tanto de defeitos,talvez
Jogados contra o vento
No relento,
Ou um tanto de qualidades mantidas no silêncio de atitudes?
Não sei...

Agrado a mim mesmo até segunda ordem
E a não sei mais quem
Nem me lembro da última vez
Que tentei me cansar
De cair e levantar toda vez
Tentando segurar o ar em meu peito
Mas não venha me dizer
Que posso estar insatisfeito
Saiba que o imperfeito já me faz a companhia mais perfeita
Que a perfeição jamais me fez

Eu?
Nem queira saber...
Sou alguém que abrirá e fechará portas
Caminhando a passos largos
Com a certeza de que,cedo ou tarde
Alguma hora será minha vez

José Augusto Mendes Lobato

01/03/06

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2006

XXIX - All the Waiting


I can´t remember my name
Nor even where i came from
I can´t believe a smile
Could burn my face while
I was trying to walk alone

I´m waiting for a name
This shell i´m in will soon be gone
Tomorrow would you recognize me
Just before i break free
I´m trying to walk alone

If somebody´s to judge them
To burn them
To sink under control,
such hate
Can´t grow
And who´s awake enough
To see beyond
All the waiting
I´m into this and i won´t
Go,for i´m breathing deep and slow
Trying to keep the air in me
To resist all insanity

I see you´ve grown in such a game
Now you can´t remember who
Was the one who gave you a name
A home,a heart,a soul

And now i´m waiting to hear it again
And again,until i´m sure
That i´m nothing now
And you´re another out there
Trying to feel secure
In fear...

If somebody´s to hear us
To thinks of us
As people who can go insane
And make them sink inside their lies
And let desires throw away their every lives
In all the waiting
We´ve come to this?
No,now i´m letting go
And all you will know
That i´m growing for nothing

José Augusto Mendes Lobato 16/02/06

domingo, 12 de fevereiro de 2006

XXVIII - Mãos Dadas

Quem sabe por quantas vezes tive nas mãos
Um outro par que pude apertar
Quem sabe quantas vezes tive um ombro amigo
Em meio a tantas mãos que insistem em me machucar

Tantas vezes precisastes de mim
E eu precisei de ti
E tivemos um ao outro
Sempre do lado,acompanhando os passos
Errantes,por muitas vezes soltos
E te impus conselhos

Seguistes à risca
Assim como eu segui os teus
Acabamos por ir adiante
Nas mãos,o mesmo par confiante
Que segura,apoia,protege,apoia
Como se fôssemos irmãos,
mais que simples amigos.

José Augusto Mendes Lobato 12/02/06

sábado, 11 de fevereiro de 2006

XXVII - (...)


Não,eu não vou falar de arrependimentos
De falsas esperanças
Do sentimento de perda
Da solidão e da falsa impressão
De que pago por algo de errado que tenha feito

Não irei fingir ter boas lembranças
De um ano que nem mais vejo
Quando olho pra trás;
Quanta paz,e quanta falsidade
Toda aquela liberdade
Só para que eu cometesse os mesmos erros

E nos mesmos caio,
E nos mesmos estou preso
E dos mesmos sou escravo
Por mais segundos e dias e anos de desespero

E a mim mesmo me rendo
Me rendo à inconstância do meu passo
Que assim,errante e desgovernado
Trilha o caminho torto e sem rumo que invento

Mas não,não vou forçar palavras em minha boca
Não farei de tanta dor e tanta frustração teu alimento
Não mais darei ao mundo um pouco de meu desespero
Não,eu não vou mais falar de arrependimentos.

José Augusto Mendes Lobato 11/02/06

domingo, 29 de janeiro de 2006

XXVI - Desconstrutivo


Abri teus olhos e tentei jurar para mim mesmo
Que não ia mais me meter,que ia deixar você dar de cara no espelho
E se descobrir vazia,oca,mais uma massa viva de apatia
Ia deixar teus passos se encontrarem com os meus
E talvez,por acaso,perderem a rota
Ia fazer dos teus sorrisos dor.

Abri teus olhos e não me diga que não entendeu
Prometi que tudo seria eterno enquanto durasse
Acabei por descobrir que nosso eterno de inverdades
Não existiu nunca,nem sequer foi imaginado
Talvez tenha sido tudo inventado
Fiz de toda minha inocência um mesmo amor
Apodrecer.

Não,não foi abortado
Muito menos terminado
Foi apenas um teatro
Que,em péssima atuação,conseguistes destruir

Foi bom,sim,mas enquanto passado
Agora é a vergonha que engulo,calado
Essa ridiculeza que é ter te engolido em seco
Dado a cara a tapa sem enfrentar o medo
De estar de mãos dadas contigo e não ver,ao meu lado,ninguém.

José Augusto Mendes Lobato 29/01/06

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Vazio criativo.
O "Disappear" nunca soou tão verossímil. ¬¬

quarta-feira, 18 de janeiro de 2006

XXV - Monocromismo


Não há chance para cansaço
O cansaço é o coma do meu mundo
É meu estereótipo de vagabundo
Escondendo todo o inconformismo e beleza
De simplesmente não aguentar mais
Ver tudo,não ter nada e nem sonhar o ter

Andamos a passos largos,mas não vamos a lugar algum
O que fingimos ser saudosismo
É a sensação de não ter o presente nas mãos
Nem sequer uma razão ou outra escolha
Senão mentir para si mesmo

Nem mesmo o silêncio tem um eco
Os dias são apenas horas jogadas,sem foco
Aleatórias como as palavras que temos que ouvir
Tristes,afogadas,como os sonhos

Mesmo assim não estamos prontos para ver tua máscara cair.
Essa verdade que cura,machuca.
Essa realidade tão impura nos confunde.

Preferimos nos esconder atrás dos punhos cerrados
Dos corpos uniformizados
Das guerras e do sangue seco estancado
Nesses corações sem força para bater

Preferimos ter nas suposições,fatos
Sermos monocromizados
E resmungarmos calados
Sobre a deprimência humana

Enquanto colaboramos com nosso próprio conformismo
Borrando rostos difusos nos retratos
E perdendo nossos passos
No caminho inconfundível da autodestruição.

José Augusto Mendes Lobato 18/01/06

sábado, 14 de janeiro de 2006

XXIV - Deriva


Então chega a hora de um ponto final
Um pouco de gritaria cortando o silêncio
Não fosse o que eu próprio conspiro
Talvez fingisse uma tal inocência
Que não enxergo dentro de mim
Talvez sorrisse com naturalidade
E falasse mais o que não penso
Ou o que tento não pensar.
Ou o que tento não sentir.

Sim,eu por várias vezes tentei mudar
Tentei ser normal,tentei viver em paz
Tentei ver em problemas um quê de monotonia
Tentei me ver sorrindo,mas o reflexo no espelho
Me ataca,sorri descontraido,me desafia
A entender um pouco mais de mim

Mas não mudo,não dou razão,nem entendo
Brincando comigo mesmo,sempre sem rumo e desaprendendo
Sei que amanhã apenas farei um remendo
Nos sonhos e no futuro que mantenho à deriva.

Quem sabe mais do que uma tempestade
Não seja suficiente para despertar?
Vai ver nem um tapa na cara arranque esse sorriso
Essa máscara vagabunda talvez não caia com gritos
Mas sim com um simples "não" silencioso
Um choro meloso,real e contido

Tentei,às pressas,enxergar no ponto final
Uma razão para ouvir e ficar calado
Mas quem disse que eu me ouvi?

(José Augusto Mendes Lobato-14/01/05)

terça-feira, 10 de janeiro de 2006

XXIII - Reflexivo


E pensar que um dia já andei em passos marcados
Exclamei frases soltas que se completavam
Vi a simetria de todas as coisas que se anulavam
E pensar que tinha um sorriso travado na boca
Que exibia com todo o estardalhaço

Meio sonso,meio cansado de pensar
Inconformado por natureza com minha incapacidade de calar
Os outros...e que outros seriam esses não fosse eu
Para lhes dar um anti-modelo
Um dos piores pesadelos que a natureza lhes concebeu?

E pensar que um dia já fui objetivo
Mesmo quando escrevendo para mim mesmo
Lembrar de cada hora redigindo linhas e mais linhas de texto
Tentanto me dar consolo por ser tão ridículo
Tão errante e tão improdutivo
Já até fui compreensivo!
E pensar que um dia já levei tapas na cara
E os respondi com abraços...

Meio sem forças,cansado de me revoltar
Tentando andar de volta nos trilhos,pisando em falso
Dando impulso nos passos,tentando encurtar o caminho
Que tão bem conheço
Peço,aos berros,um espelho
Pra ver se tudo o que eu vejo à frente já não vi dentro de mim

E olha só que ironia
Um dia todos esses desgraçados,que agora dão risadas do meu desespero,
já me deram conselhos e me fizeram acreditar que,sim,
não devo seguir conselhos.
E pensar que já tive uma direção para onde arrastar meus pés
E só me resta agora esse chão batido para pisar

E pensar que o que tive foi medo
E não é que não soube os vencer?
Pois é...
Eu lutei,mas não consegui engolir a mim em seco
Eu gritei tanto para Deus!
Pedi para ele me mostrar o sentido de tudo que eu sinto
Recebi o silêncio em resposta
E assim,sem retóricas,
voltei para casa e fiquei deitado chorando baixinho.
Contando as lágrimas que secavam no lençol
Contemplando toda a solidão e toda a tristeza de ser apenas eu mesmo.

José Augusto Mendes Lobato 10/01/05

quinta-feira, 5 de janeiro de 2006

XXII - Desconquistas


São tantas horas vagas
Tantas noites a sós
E reuniões no domingo
E chás das cinco
Argumentados por um outro sem voz

Tanta frieza cansa
Os feriados passando batidos
As "crianças" são abortos enrustidos
Que um dia saíram de dentro de mim

Você é tão sensato
Respondendo sonso
Preenchendo a vaga
Que deixas

Sorrindo e gemendo calado
Deus e o mundo dando os braços
Você dando as costas
Afrontando o tempo e o espaço
Marcando os rostos a tapa
E a ferro e fogo

Desculpas vãs e inexatas
As mesmas palavras disfarçadas
Nessa boca suja,imunda
Esse papo não te sustenta;
O silêncio te afunda

Então o que fazer?
O que dizer?Melhor sofrer
Chorar nos lençóis
Que deixas

Batendo a porta,"está cansado"
- Vou lá na esquina,comprar um cigarro!
Pelo visto a fila estava braba
Não há espera entre as paredes de um quarto
Antes clamar por companhia
Marcando o rosto de tapas
E cheirando a uísque,chegando,
vens sorrindo e lavando as mãos,
dando um beijinho e deitando ao meu lado
Por cima do suor,da libido e do pecado
Mal sabe o espaço que a cada dia
Desconquistas em meu coração.

José Augusto Mendes Lobato 05/01/06

terça-feira, 3 de janeiro de 2006

XXI - Dias De Paz


Mudanças não vêm assim
Não ponha a culpa em ninguém
Não abrigue tanto ódio no peito
É apenas mais um dia após o outro,enfim

Não queira extrair palavras do silêncio
Nem tente tirar a mente do consenso
Não existem meios,entrelinhas ou desvios
Só há um caminho a ser seguido,enfim

Ouça os tiros ecoando pela parede do teu quarto
É teu espaço destroçado,invadido
E para que sair?
Deixa o sangue banhar tuas mãos e teus braços
Deixa estes teus olhos cansados
Enxergarem a paz antes de dormir

Não crie beleza em retratos borrados
Não lute contra a frieza nos olhos cansados
Não tente ver doenças numa realidade oportuna
Não ache na descrença uma redoma tão soturna

A luta é vã
Tente ser são
Diante de um espelho, que serás?
Para que abrir os olhos em guerra
Se podes descansar em paz?
Entrega teu corpo e tua alma
Ao ópio de viver são
Entregue ao descaso
E à alienação de dias de paz.

José Augusto Mendes Lobato 03/01/06

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Poesia insana,doentia.