sábado, 25 de janeiro de 2014

Ruído

Por tantas vezes pensei que tinhas esquecido
Como é pequena toda esse gente
E tão frágeis, intermitentes
São seus lampejos de inteligência e consciência de si
Eu quase aprendi
Que tanta gente reunida no mesmo lugar
Só sabe pensar com o fígado
Não é possível: tens que saber
A ignorância é universal;
um mal incontido.

Se um dia nos fizeram crer
Que, com tanto espaço cedido,
Seríamos mais sábios, mais eloquentes,
Mais críticos,
Foi só para nos fazer descobrir; pura ironia!
Há muito percebi
Que tanto dualismo,
Tanta ideia persistente
É só sinal de uma deliberação demente
Que nada tem de sentido
Que nada nos dá além de ruídos
Com os quais preencher os gritos
E, elegantemente, ranger os dentes.

Eis, então, o mais contraditório dos mundos: muito se diz, lê, analisa, opina - e finge
Nada se crê, sustenta, constrói - ou atinge;
Tudo que circula por aqui é perdido
Nas baforadas hormonais que nossos ouvidos arrastam
(E, para nosso próprio bem, por vezes escapam)
Estamos, enfim, muito bem servidos
Dos inteligentes silêncios e entrelinhas
Que não mais nos tocam
Mas sibilam
E nos apagam.