domingo, 24 de setembro de 2006

Monólogo

Prometo ser breve e não trazer a esta casa discórdia
Serei o primeiro a sair, e o último a te dizer
Que tudo que construí também é parte da tua história

E tudo que existe aqui é parte de mim
Serei o primeiro a não pedir que lembres
Já que estou indo embora para lembrar de ti

Não vês que esta conversa é inútil?
És a primeira a me ver como um homem comum
Como um infeliz,
assumo que tudo que vivo é fútil
E, invariavelmente, parte de mim,

e não faz mais sentido.
Eu sei que quanto mais rápido sair daqui
Menos terás sentido.

Prometo que este será o maior monólogo da história
Serei o único a te dizer, tudo que esteve aqui entalado
E agora deixo cuspir, com nacos sujos de memórias

Nada mais do que o pouco que, em ti, vivi.
És a primeira a desvendar o homem dentro de mim
Tão infeliz,
Assumo que vivo apenas o útil

talvez por isso seja sozinho assim.
Eu sei que, na mesma medida que sentir
Terei em meu peito mais espinhos.
E menos certeza de que vivi

E qual será o meu caminho?
Antes que isso acabe, me deixa sair!

Abre a porta da frente, dá um adeus diferente
Sem lágrimas ou palavras hostis:
Entende, meu bem,
São sinas muito comuns a qualquer homem:
Para que por elas viver fingir?

domingo, 10 de setembro de 2006

Ímpeto

- Tentarei não fazer de minhas palavras um ode
Darei a elas a mais plástica das felicidades
A entonação histérica de quem tem um coração roto
E, calado, não morre por dizer a verdade.

Tentarei fazer desses versos tristes
Uma canção de amor a embalar romances vivos
Amores jovens e lascivos, de arrepiar o corpo
E, de tão cansado, em mais uma noite a sós deitar
E me descobrir destruído:

Ora, menina!
Quem pensas que és?
Achas que te esperarei, beijarei teus pés?

Se sua intenção for ter um homem pálido
Consumindo lamúrias por trás do vidro embaçado
Meu amor,
Desista!

- Desconstrutiva,
é a dor de viver cada segundo maldito
Sob o álibi de insistir em dar um sentido
A sorrisos otários que tento forçar

Eu prometo que por aqui não ando mais;
Eu juro que se cheguei aqui, foi por obra do acaso
Nem mesmo a tortura que é esse cansaço
Consegue arrancar de você um minuto de paz?

- É vã a tentativa de aproximar nossas idéias
E ingênua a idéia de tentar fundir nossos mundos!

- És são o suficiente para acabar com esta tristeza
Me apunhalando com realeza,
Rasgando a alma com o sangue a jorrar dos pulsos?

- Se nada mais lhe arranca do leito
E teu corpo não mais recebe meus carinhos
Vamos ambos coroar em espinhos
Quem construiu essa maldita paixão;

- Se nada mais lhe faz efeito
E nada mais me faz sentido
Vamos ambos ser vencidos
Descontruídos pela dor excruciante da solidão.

- E se, uma vez ao menos, sentires isso em teu peito
E o mais plástico dos amores for abatido
Vamos embos estar perdidos
Envenenando esta canção com o desprezo
Desconstruídos pelo frio a escapar por entre as mãos.