terça-feira, 24 de julho de 2012

0h50



Não estavas consciente
(tampouco nós),
mesmo assim, apertei tuas mãos,
senti que era ouvido;

Despedi-me de ti, e o(s) sentido(s)
Parecia(m) a todo momento
Querer fugir
Dali.

Agora, já distante,
Com o coração rouco,
Sabendo que estás longe
(Embora não morto),
Encontro teus passos,
Tua voz e teus atos (em mim)
E busco, assim, encontrar meu espaço
Nesse mundo – agora – cinza e oco;

Não tinha nada em mente
quando, pela última vez, te ouvi
ao telefone;
mesmo assim, doeu-me o peito,
aquele adeus foi tão abrupto,
tão insuspeito,
que sinto que ainda há muito a te dizer;

Ainda não sei estar longe de ti,
Mas um dia aprendo
Um dia te reencontro
Um dia, talvez, o tempo
se faça sentir
Passar por mim.

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Descansa em paz, meu pai querido.

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quinta-feira, 12 de julho de 2012

73min


Não conheço bem a dor da perda,
E, talvez por sabê-lo
Temo te encontrar de olhos cerrados,
Cansados, deixando a vida
Escapar pelos poros quase-fechados
Por remendos e farrapos
De uma alma enfraquecida;

Te vi – e vejo – nos pequenos sinais
Junto comigo, no andar, no jeito
Por isso mesmo, sempre me dói o peito
Quando penso em ti, sempre à risca,
Sobreviver e sofrer por tantos passados,
Erros já vencidos, perdoados
Por mim, por ti, por todos:
Por toda a gente que está aqui, contigo,
Na torcida:

Hoje pensei em desfalecer, entregar os pontos,
Chorar por ti
Mas me aguento em pé
Só para não ter que encarar isso;
Tão dispensável,
Tão indesejável
Tão – espero – improvável
despedida.

terça-feira, 3 de julho de 2012

Reencontro




Tanto tempo que não te via
para te encontrar assim,
Em outro mundo,
Agindo – por impulso –,
Entregue à própria raiva,
Com a (c)alma em pedaços
E sem um ombro
para apoiar o corpo frágil,
desnudo.

Estás – estavas? – assim,
descrente,
Engoliste em seco a si mesmo,
Todo o passado,
Presente-futuro,
Os traumas,
Tudo e todos
Que te feriram
Hoje são a ponta da faca
A cortar as arestas dos teus sonhos;

Então cada dia a mais, para mim, é passagem;
Imagem de tão velhas memórias
Em que, de algum modo,
Já eras outro.

Toda aquela gente não te entendia
E te forçou a lutar assim,
Desse jeito torto,
Mentindo a si mesmo – ao mundo,
Enviou todos ao inferno
Com seus escândalos e passos em falso
Dormiu sem ninguém ao lado
para acalmar os ânimos,
fazer crer de novo:

Estavas – estás? – vencido,
De algum modo entregue,
Não aceita viver mais assim, a esmo,
Tanto tempo estragado,
Futuro inerte, vago,
A paz que nunca vinha;
Toda aquela gente
Que impunha, intervinha,
que te ignorou:
Tão mesquinha!,
Hoje está à volta desse corpo sem alma,
Rasgado pela vida amarga,

Chorando por mais um que atravessou a margem;
Imagem de uma – conhecida – velha história,
Hoje soube de ti, e de algum modo,
Já sabia que estavas morto.