quarta-feira, 28 de março de 2007

Eu não conheço ninguém,
ao menos imagino não entender
Porque as pessoas que eu conheço
insistam em, fora daqui, me foder

E acenar com um sorriso seco
e ir p´ra casa e nem se lembrar
Como se a rua na qual pisassem
fosse só um caminho a atravessar

Antes do leito modorrento
dos pacotes de fast-food e dos cigarros:

Mas, menino, é tão nojento
ver vocês imersos nesse sonho amargo
de brincar de existir!

Já chega de dados e meias-verdades
assim, eu, ao menos, não consigo fingir
Ser aquele cara andando no seu pátio
pisando na calçada que mandaram construir

Sobre meus palácios, avenidas, calçadas,
desconstruídas e mal-projetadas
Pseudo-vidas, pseudo-redomas, pseudo-mentiras,
pedaços de algo que só cabe a mim sentir

E eu não penso mais em afinidades,
nem em conceitos ou estatísticas
Porque os poucos homens de bem que eu conheço
já as provaram teorias falidas:

Se não os curte, me escute,
está na hora de dar uma saída
Abrir as janelas do seu quarto, quem sabe
abrir as ventanas dos olhos p´ra vida!

Se não mais vive, acredite,
está na hora de calar a boca
Liga o modem, e, em ponto morto,
Marcha pelos zeros e uns rumo à forca!

- Insistem em, fora daqui, me foder.

terça-feira, 13 de março de 2007

Divórcio, Lexotan e Meia-Luz


- Hipocrisias, não... não vai fingir que não previstes!
Hoje é um dia como qualquer outro; os erros, como outros, se repetem,
E, de novo, os papéis aqui se invertem,
E cá estou eu, te contando o que bem sentistes.

- Os anos passaram: a casa, os filhos e tudo o mais
Tornaram-se apenas nós, nos reatando cansados
E, já que a última coisa que nos trazemos é paz
Sejamos ecos e voz de um mundinho forjado!

- E que mundinho esse! Já não sei bem o que sinto;
Se a calmaria arranca o paladar da vida
Então não há graça alguma na paz de espírito
Que é, contigo, dividir a mesma vida.

- Então que se foda! Entrega nosso conforto à risca
Ao mundinho de falácias, papelada e hipocrisia
Os anos passaram: as tuas idéias falidas, jamais,
Me deixa a par de tua aventura desmiolada!

- Nunca me vistes por trás dos mais simples traços
E destes pequenos detalhes que foram passando aos poucos
abriram-se espaços: E cá estamos nós,
dormindo sem nexo, um ao lado do outro.

E se queres ver assim, como se a culpa fosse toda minha
Olha-me desnuda no espelho, e me diz quantos anos eu tinha
Na última vez em que me vistes assim!

(...)

- Já que descansamos tão pouco,
Vire p´ro outro lado da cama, e seu rosto:
Mantenha-o seco e pálido,
Aos hipócritas e falsos, todo limite é pouco;

- E tu, meu amor, durmas descansado,
Hoje não é dia para entregar-me a outros.

sexta-feira, 2 de março de 2007

A Wild Heart

Há uma luta que perdura nas entrelinhas,
e não passa de um vir-a-ser unívoco
Dois personagens em um mesmo discurso
atrelando à toda a deriva um só sentido
E descobrindo-o tão sofrido e fútil.

Como se nós fôssemos corruptos
que traíram a paz dos infelizes
Enxergando a beleza de ter os corpos desnudos
sob os lençóis encardidos do desatino.

Sou o menos belo, bom e útil
que tu possas imaginar:
Sou a carne e o espírito do desperdício
onde vês artifícios para, um dia, amar.

Há uma derrota que já se faz ouvida,
mas prometo, por ti, não a prolongar demais:

Se não me perdoas,
me perdoe, mas meu lugar não é aqui!
Esse ar abafado me perturba os sentidos:
É apenas o vício,
de confiar demais e um pouco menos em ti.

Se não acreditas,
acredite, eu não pertenço nem a mim mesmo!
A pressão me arranca o que resta de espontâneo,
Eu não existo para contradizer instintos,
eu não preciso por inércia ser ouvido:

Só resisto porque não quero existir mesmo!
Não nessa terra de poucos e estranhos amigos
De tão parcas coincidências e tão vastos amores
que, por mim e por ti, se fizeram sentidos.

* Homenagem ao filme de David Lynch, "Coração Selvagem".