quinta-feira, 19 de junho de 2008

Sasom i en Spegel

Que cenas belas me trazes,
nesses pequenos punhados de sal e vento
teus dedos penetram, hoje, a surdez dos mares
e a loucura dos ares que enrubescem o tempo

E trazem, consigo, contigo, essa riqueza inerte
de sensações, anseios, devaneios e transvirtudes vagas,
essa poética algo melodiosa e frágil das águas revoltas e ondas cálidas
e da brisa febril que - diriam - tem algo de mágica,
esses cenários que trazes das velhas praias:

Paisagens férteis à alma,
mas que, por ti e por mim, são transformadas em dor e torpor físico.

Quais são os mistérios que mesmas vozes,
quando voltadas a nós, fazem tornar em medo:
Miragens, impressões, variáveis... hipóteses?
Ou será que as formas de uma quase-arte de fingir (ainda) nos é alimento?

Ao sabor de um andar de curtos passos, forçados,
formas pegadas de uma tal imagem de memória seletiva,
deixando para trás toda e qualquer invenção ou forte assertiva,
como se essa infância tardia, quase senil, lhe fosse qualidade,
como se de nada nos servissem tanta poética, tantas imagens:

É essa mistura de água, sal, areia e anacronismo
que, em ti e em mim, ganha vulgaridade
ultrapassa as barreiras e o indolor da subjetividade,
para, aqui, tornar-se alimento carnal aos prazeres do espírito.

quinta-feira, 12 de junho de 2008

Drop

Dizes a mim, Não tenhas pressa!,
tenhas calma, que é tão simples assim,
falar dos outros, falar de si,
fingir-se outro, mesmo que só o faças para conseguir dormir,

É tão polêmico, isso, tão experimental,
tenhas paciência - Quem diz agora, sim,
sabe que fingir-se louco é narcisismo pouco,
e, com tantas frases e esse ego solto,
pouco resta para dizeres a mim;

Vives por eles?, questionas depressa,
mas haja insistência para tanta voz me extrair,
quem sabe ninguém mais se recorde,
dessa voz que cantou em capela, sem acordes
ou dissonâncias, a noite quente e velha,
que me faz suar, cantarolar e sorrir...

A beleza inerte dessas bordas velhas,
desses sorrisos sujos e pequenas grandes vielas,
a planície esverdeada, quente, tropical, abafada,
como que cansada de me ver torcer por sua queda!

Dizes a mim, Não tenhas pressa!,
tenhas calma, que é tão simples assim,
reclamar de todos, e de alguns poucos que estejam por perto,
em brados sóbrios e polidos, repletos de arroubos filosóficos,
poemas bobos e sentimentos tórridos,
afinal, o que falar se ainda não há alternativa a fingir?

- Pois eu digo a todos, Vão à merda!,
com certo ar jovial e a alma, essa sim reluzente,
porque essa sujeira, essa velhice, essa poeira,
já não é mais guardada por ninguém,
já não é parte de ninguém além,
parte de um além de ti e de mim.

sexta-feira, 6 de junho de 2008

O avesso do avesso do avesso do avesso

Dizes a mim que perdestes a subjetividade,
como se alguém a houvesse arrancado de tuas mãos à força,
como se tudo o que te fosse cotidiano não servisse à mente,
e, sim, fosse apenas remendo de uma redoma fosca,
dona de um inegável vazio repleto de assertivas e verdades intermitentes;

Brados aos quatro ventos não criarão, em ti, individualidade:
nesses gestos e trejeitos que a ti são impostos, não há existência,
como não há qualquer retórica, tampouco razão, reflexão ou debate,
resta-nos seguir adiante e, mergulhados em rios de objetividade,
traçar frases prontas em linguagem chula, como que celebrando a própria demência;

Tudo porque, ao contrário do que dizes, não perdestes, em momento algum, qualquer singularidade.
O que vives e finges vale poucas linhas, e as linhas de tua vida são pura modernidade:
retilíneas, medíocres, frágeis, eternas e, no sentido oposto, fugidias, quase que imersas em sua própria complexidade;