sexta-feira, 16 de junho de 2006

Ode à Metrópole

Bom dia! Sinta-se privilegiado
Bem vindo à capital da beleza
Ao lar de todo e cada desgraçado
Que habita este planeta;

Acredita... que cada dia há novidade?
Os cinemas fecham as portas
Abrem mais boates por cima de esquinas mortas
Dê a si mesmo um pouco de variedade;

Vá embora daqui!

Corre! Senão chega atrasado no trabalho
As ruas consomem tua saliva
As varandas cheiram a asfalto
Tens sorte por ainda ter as tripas;

E não estar apodrecendo no trânsito engarrafado.

Sorria! Senão amanhã estás no noticiário
Os flashes te deixam à deriva
As amizades que constróis vão por água abaixo
Basta dedicar um domingo à preguiça;

Os túneis e os metrôs, te aprisionam
A fumaça exala dos teus poros inchados
Vês estes prédios abandonados?
Serão as casas dos teus filhos
A metáfora viva do abandono;

Atenção! Sentes sono?
Vai dormir debaixo da ponte, então!
Ou gasta teus pilhérios num bar em um canto, irmão
Ou faz das tuas mãos sangue a pulsar

Nas veias da metrópole!

Sentes calor? Abra um sorriso
Caminhe debaixo do sol, sinta a estufa lhe afrouxar os sentidos
Insolação? Sentem isso os ricos!
Levante as mãos ao céu e agradeça o seu martírio.

E por aqui não se sofre, acredita?
E por aqui todos sorriem, acredita?
Emprego aqui é qualidade de vida!

E por aqui a gente ama, acredita?
E por aqui a gente tem família, acredita?
E aqui todas as famílias são unidas,
E ai de quem chegar primeiro em casa...

Ninguém nunca precisa de ajuda;
São todos suicidas!
Respiram monóxido, pagam seus impostos
Vivem suas vidinhas plásticas e comedidas;

Compram sua passagem sem volta para o paraíso
Todo santo domingo,
Vão à missa!
E haja ouvir dos bons a boa notícia
Mas que notícia de merda que não levam às ruas,
Ficam lá dentro de joelhos, arrependem-se de suas falcatruas
E saem de lá desgraçando o homem por mais um dia

Meu amigo! Olhe a miséria ao seu lado,
Hoje é dia de fazer o bem, liga a tevê!
- Agradeceria se a pudesse ter...
Não pode ser, que gente vadia!

Eles pedem para que a nação seja construída
Por homens de bem, de ações medidas
Mas quem de nós há de clamar por ordem e progresso
Se o retrocesso e a barbárie regem nossas vidas...

Nas veias da metrópole?

Eles temem o inimigo que habita as ruas,
Mas dão esmolas sentidas!
Como que pagando por medo
Alimentando seus assassinos a esmo
Com grades abertas e garrafas de bebida

E dão a esse inferno em que vivem
Mais dinheiro, sangue, concreto e ruas
Por serem tão inescrupulos, metropolitanos
E, consequentemente, filhos da puta.

José Augusto Mendes Lobato 16/06/06

Um comentário:

Anônimo disse...

hehehe
gostei
=D