sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

5m14d

Sempre que a gente se acostuma
Que os hábitos viram rotina
Que a mente repousa - se ocupa
Sempre que o cansaço e o tempo
Encarregam-se de fazer suas costuras
Lembro de ti,
As mãos tremulam,
A memória se curva
E a saudade se aproxima;

Sempre que venho aqui,
Me descubro mais homem feito,
Com cansaços, aprendizados,
corpo e mente cheio de calos,
Projetos quase concretizados,
E mesmo assim sentindo que falta algo,
Alguém a mais para dividir, (com)partilhar,
Aí lembro que, embora refeito,
Continuo jovem, projeto de gente,
Moleque imperfeito,
Teu filho;

Às vezes me surpreendo:
Bem que todos fazem sua parte,
A gente aprende a rir de tudo,
A sentir falta como adulto
A ostentar uma tal - diz-se - maturidade,

Mas, no fim das contas,
Em um torpor meio sem nexo
Vem a vontade de não (querer) estar no mundo
E, sem eira nem beira,
Contrariar tudo
E te ter aqui,
E ser criança de novo,
E ser novo,
Eu, tu, nós,
Vivos de novo - e juntos.

domingo, 30 de setembro de 2012

3h05


Pensei sentir tuas mãos coladas às minhas,
Como se, de um dia para o outro, voltássemos à vida;
Como se, de novo, apenas alguns segundos me separassem
Da tua voz, da tua saudade,
Da nossa amizade,
Da tua alma presente – e da tua mente viva;

Não, não me habituei:
Ainda perco o equilíbrio sempre que nos escuto
Que me olho no espelho e te vejo lá, robusto,
Vivendo em mim, em minha saudade,
Em meus olhos ausentes –
Doentes, disfarçados pela rotina;

Devias estar aqui,
E se não estás
É porque, lá no fundo,
Sei – sabemos – que foste embora
De uma vez,
Só uma vez, e, infelizmente,
De verdade.

sábado, 29 de setembro de 2012

Love design




The delight of body sounds
And lads and lovers´ yawning talk
And cheesy lights of silent lanes
And lovely barks of young hounds
And thundering rain clouds:

They bring me to ecstasy
I´m close as ever to be
Surrounded by these city lovers,
Their feel and their touch
and their deep-inside reality:

Somehow, and sometimes
I feel as if love design
Could be touched by my fingers
And brought to my walls and ceiling
(Real-time),

As if someone could share
Through walls of concrete
The despair men are breeding
When soulless and incomplete;

As long as i am young and still breathing
I am done of believing
Someone dares.

The fear of seeing unseen ghosts
Wander around the space you´re leaving
That made me feel like i had gained
A whole city to fear,
Thousands of stories to hear
From those who are still living,
Still leaving their others
And complaining,
Though, breathing;

The shapes of these corners, they´re hurting
Somehow it´s clear that there were others
So many young and heartful city lovers
Betrayed by their own routine and, foremost,
By the touch of life´s insanity:

Somehow, and sometimes
I feel as if love design
Could be touched by my fingers
And brought to my walls and ceiling
(Real-time),

As if someone could share
Through walls of concrete
The despair men are breeding
When soulless and incomplete;

As long as i am young and still breathing
I am comfortable in believing
No one cares.

quarta-feira, 8 de agosto de 2012

(V)alley



Every day you get along here´s a trial
Believe me:
The only reason you´re living
Is your conscience´s survival
(so free me)

I´m leaving
But not before sharing some words
In the beginning
I feel you´re curious
But, somehow,
Expecting the worst;

These tunnel lights, they´re screaming
The sound, the crowd, the flashes,
The routine ashes,
Daydreaming,

Quiet sights and calm long nights
Are the only missing
Here I can´t be seen at all,
The landscape is much too small
Cut down by soulless ropes of iron
Bodies of concrete,
Skies of fire,

Now i´ll cut down the weed
And walk these walls and streets
Just to feel entire

Guess the alley downward
Can be somehow a path
For us to be
On wire.

terça-feira, 24 de julho de 2012

0h50



Não estavas consciente
(tampouco nós),
mesmo assim, apertei tuas mãos,
senti que era ouvido;

Despedi-me de ti, e o(s) sentido(s)
Parecia(m) a todo momento
Querer fugir
Dali.

Agora, já distante,
Com o coração rouco,
Sabendo que estás longe
(Embora não morto),
Encontro teus passos,
Tua voz e teus atos (em mim)
E busco, assim, encontrar meu espaço
Nesse mundo – agora – cinza e oco;

Não tinha nada em mente
quando, pela última vez, te ouvi
ao telefone;
mesmo assim, doeu-me o peito,
aquele adeus foi tão abrupto,
tão insuspeito,
que sinto que ainda há muito a te dizer;

Ainda não sei estar longe de ti,
Mas um dia aprendo
Um dia te reencontro
Um dia, talvez, o tempo
se faça sentir
Passar por mim.

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Descansa em paz, meu pai querido.

:::::

quinta-feira, 12 de julho de 2012

73min


Não conheço bem a dor da perda,
E, talvez por sabê-lo
Temo te encontrar de olhos cerrados,
Cansados, deixando a vida
Escapar pelos poros quase-fechados
Por remendos e farrapos
De uma alma enfraquecida;

Te vi – e vejo – nos pequenos sinais
Junto comigo, no andar, no jeito
Por isso mesmo, sempre me dói o peito
Quando penso em ti, sempre à risca,
Sobreviver e sofrer por tantos passados,
Erros já vencidos, perdoados
Por mim, por ti, por todos:
Por toda a gente que está aqui, contigo,
Na torcida:

Hoje pensei em desfalecer, entregar os pontos,
Chorar por ti
Mas me aguento em pé
Só para não ter que encarar isso;
Tão dispensável,
Tão indesejável
Tão – espero – improvável
despedida.

terça-feira, 3 de julho de 2012

Reencontro




Tanto tempo que não te via
para te encontrar assim,
Em outro mundo,
Agindo – por impulso –,
Entregue à própria raiva,
Com a (c)alma em pedaços
E sem um ombro
para apoiar o corpo frágil,
desnudo.

Estás – estavas? – assim,
descrente,
Engoliste em seco a si mesmo,
Todo o passado,
Presente-futuro,
Os traumas,
Tudo e todos
Que te feriram
Hoje são a ponta da faca
A cortar as arestas dos teus sonhos;

Então cada dia a mais, para mim, é passagem;
Imagem de tão velhas memórias
Em que, de algum modo,
Já eras outro.

Toda aquela gente não te entendia
E te forçou a lutar assim,
Desse jeito torto,
Mentindo a si mesmo – ao mundo,
Enviou todos ao inferno
Com seus escândalos e passos em falso
Dormiu sem ninguém ao lado
para acalmar os ânimos,
fazer crer de novo:

Estavas – estás? – vencido,
De algum modo entregue,
Não aceita viver mais assim, a esmo,
Tanto tempo estragado,
Futuro inerte, vago,
A paz que nunca vinha;
Toda aquela gente
Que impunha, intervinha,
que te ignorou:
Tão mesquinha!,
Hoje está à volta desse corpo sem alma,
Rasgado pela vida amarga,

Chorando por mais um que atravessou a margem;
Imagem de uma – conhecida – velha história,
Hoje soube de ti, e de algum modo,
Já sabia que estavas morto.

quinta-feira, 28 de junho de 2012

Rejoice





Preciso de ajuda,
embora nem sempre o peça,
nem sempre transpareça;

Meu corpo se cansa de tanta força,
e essa mente que nunca esmorece,
essa paz que nunca chega e aquece,

Faz meus dias mais frágeis, mortos,
amargos, insensatos e algo perdidos,
embora nada de concreto aconteça.

Às vezes sinto que, cedo ou tarde, consigo,
embora a rotina sempre me impeça,
sempre me puxe para trás,
me adoeça;

Um dia jogo tudo para o alto,
Me deixo exposto - pois mostrar-se fraco,
nesse caso, é provar-se digno

De algo mais que poucos altos e baixos,
humores frustrados, quase sempre fingidos,
assim, da ruptura e da dor, talvez consiga;
talvez a alma, mais que o corpo,
Rejuvenesça.

segunda-feira, 28 de maio de 2012

Shore



Let them in
But prepare yourself to be raped by ideas
Hated by your fears
You'd better pretend to be strong as usual
These days they force you to be tender
And somehow immune to defiance 
and greed;


If we're in, then,
Make room for some frustration
Let us be your home damnation;
Nobody could ever see
Sense in any of these, so
Believe me:
It's a single chance to forget it's fantasy,
to disbelieve;


Still, some say
Better to be thoughtful than static;
There's one mistake:
Not to be one - that's fantastic
Frustrate yourself,
So, as long as you never sleep,
You'll never notice
How this lack of sense of living,
This nonstop desire of leaving,
Is real - and, yet, somehow,
automatic.

sexta-feira, 13 de abril de 2012

2h50

Sempre intocável,
Tão resistente, forte, guerreira;
Corpo sem falha, mente sem maldade:
Que mente sem piedade
A si mesma, julgando-se invencível
Tão perfeita!

Avessa a dramas, entrelinhas,
Engolia o choro, sentindo-o preso;
Ao fim do dia, doía a alma
E toda aquela paz se esvaía
Levando junto a calma, a liberdade
A pureza de espírito,
A felicidade.

Aquilo que, antes, orgulhava
Elogio, certeza, retidão – agora era agonia
Tanta pressão, tanto peso
Não conseguiam ser acolhidos
Por costas tão jovens e pequeninas;

Um dia, sentiu algo lhe escapar por entre os dedos
A identidade? Um sentido de si? O sentido da vida?
Sua verdade?
Não: estava, tarde mas ainda a tempo,
sem prejuízos, amadurecendo,
confrontando seus próprios anseios.

domingo, 26 de fevereiro de 2012

Das Wartezimmer


De um dia pro outro,
Cansaste de mim, de ti, de tudo,
De todos;

Abraçaste as paredes, tateaste as portas,
Correste pela casa,
Gritaste, gozaste,
E, assim, riste - rija -, coração nas mãos,
me amaste,
como nunca e como sempre.

À primeira vista, teu olhar perdido,
Uma loucura herdada, mente cansada
Perturbada e sem viço;

Mas, lá no fundo, vi-te acordada,
Tão sozinha em tuas imagens,
Tuas pinturas borradas
De um mundo que não te merece
E que teu marasmo bem exige.

Meu corpo já é outro, feito pra ti,
pros teus braços,
Cansei de ser assim, dor em vida,
Ódio em alma, fundo do poço,
puro asco;

Joguei pelas janelas o que me feria,
com quem conversava e que não via,
Mas me perseguia;
As paredes suaram e gritaram a mim, em suplício:

Bem no fundo, essa tez transtornada
Me fez bem, te fez amar sem calma
À base de escárnio, de sofrimento e gritos;

Eis, aqui, a mais bela das verdades:
Tanta sensatez, tanta sanidade
Só nos fez descobrir mais tarde
Quão belos - e sãos - são teus demônios
E delírios.