sexta-feira, 24 de novembro de 2006

Modo de vida.

Eu proclamo decadência:
estes olhos já não enxergam estrelas
Estas mãos já não lhe apalpam as veias
E as sensações que tinha se perderam
Absortas em si mesmas, nas teias
de fraqueza e infortúnio, solidão e incerteza.

Eu proclamo demência:
O que vivo são dias embaralhados
Como cartas em mãos que as espalham
E a luta que travei contra o cansaço,
é a luta que lutei para marcar meus passos
Depois olho para trás e me descubro desgraçado:

Eu nunca sei, e nem saberei
Se a decadência atravessou a luz do dia
Ou se as cortinas fecharam-se à vida,
E, em meio às noites e frias e o álcool, me arrancaram as estrelas.

terça-feira, 14 de novembro de 2006

Metafisicolinguagem


Há um quê de tristeza nos poemas
Nas metalinguagens, nos versos e rimas
Num amor, outrora ardente, atravessando as sinas
De uma poesia métrica, nascida inerte e vazia.

Há, nas entrelinhas, um rancor sem vida
Nas pálidas imagens, no calar da despedida
De quem um dia foi escravo do amor latente
De uma poesia métrica, nascida vã e inconseqüente.

Há uma dor por trás de tantos odes e elegias
Nas entranhas das trovas, no papel e na tinta
Uma cor, outrora ardente, se insinua pelas cortinas
Que separam este homem, imerso em versos e amores, da vida.

quarta-feira, 8 de novembro de 2006

O Merda e o Poeta

É triste assumir, mas eu sou um covarde.

Sim! Covarde pelas lutas das quais fugi,
Pelas mil vezes em que não caí,
Pelos amores que destruí,
Pelos sonhos que guardo aqui,
E que eu sei, não fazem parte de mim.

É triste assumir, mas eu sou um covarde.

Sim! Minhas trovas e esboços não saem do papel,
E eu me nego a ser parte de mim,
Esse homem fraco, que canta desafinado,
Chora excomungado por si, projeto inacabado
De uma poesia sem começo, meio ou fim:

É triste assumir, mas os poetas são otários,
Escrevem em versos dentro dos armários
De suas mentes, rangendo dentes,

Sem donos do próprio nariz poderem se assumir.

Dantes ser um merda,
Covarde e imerso em suas próprias metas
Trabalho esse egoísta, tornar-me quem sou por um segundo apenas
E amanhã, sim,

Ser de novo a mesma merda,
só que em palavras mais amenas.

sexta-feira, 3 de novembro de 2006

Vou para casa.
E mesmo que insistas em machucar meu corpo
Não sei ao certo se, desta dor, eu sofro
Me parece, que em poucas e amargas horas
Ir embora sem medo aprendi.

O tempo passa.
Mas, ao contrário do que se diz,
Me parece tão certo que não lembrarei de ti
E, em poucas horas, terei esquecido sem medo
De tudo que já vivi.

Vou embora!
E não me impedes mais,
Já atravessei essas paredes
Com a certeza de que, por elas, não passas.

Hoje digo a mim mesmo
Sim, por mais um dia me venceste.
E, mais uma vez,
Vou pra casa...
Me odiando mais e mais vezes.

quarta-feira, 1 de novembro de 2006

Lexotan

Uma vez disse para o cara que via no espelho
Que um dia tudo faria sentido
Que tudo que havia vivido
Se provaria diferente

E um pouco menos sofrido.

Mas esse mesmo cara riu da minha
Cara.
Tirou de meus lábios um sorriso
Lembrou que esse cara indeciso
Um dia, tinha sido homem

E, talvez, um pouco menino.

Ganhando a vida fazendo graça
Levando tapas na cara e rindo
Quiçá via o mundo indo e vindo
E continuava aquele homem

Urbano, tão inerte e frio.

É como dizem por aí: essa cidade sem alma
Nos arranca o que sobra no peito
Empurra-nos, em goles frios de calma,
Pílulas, fumaça e ar rarefeito

Quem sabe seja a hora
De dar as mãos à desgraça
E viver se olhando no espelho?