sábado, 31 de dezembro de 2005

XX - 31/12



Tanta espera
Tantos sonhos omissos
Tanta esperança à espreita
De outros anos
De outros passivos desperdícios

Tantos suspiros
Tanto silêncio
Tantas palavras
Tantos sorrisos
Em tantos gritos contidos

E tanto tempo
Tantos anos a fio
Tantas horas adentro
Tantas menções
A tão pouco que se viu
Tantos outros que passaram
Tantos a vir
Tanto a se esperar
Tanto esperado
Tantos corpos cansados a se despir
De tanto.

Tantas mentiras
Tantas inverdades
Tanta pressa
Tanta calma
Em tanta maldade

Tantos olhares
Tanta tristeza
Tantos sorrisos enferrujados
Tanta inocência
Em tanta saudade

Pra que esperar tanto
Ou ter tanto
Se o mesmo canto,a mesma dança
Talvez torne a se repetir?

Antes ter cicatrizes
Um pouco de tanto
E tornar a ter tanto
Em outra chance de poder sorrir

Mas tanto passa
Quanto vem em silêncio
Sem a espera
Tanto se esperou sem ninguém
Ou nada
Tudo se acaba
Mas nada mudará,enfim
Tudo permanece como
Caminho percorrido na estrada
Na mesma estrada que se caminha,assim
a passos lentos.

E,mais uma vez,o tempo fica calado e nada dirá
Dirão os poucos que a fé em si é o sustento
Para se caminhar,de culpa isento
Rumo a outros tantos e enfins.

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José Augusto Mendes Lobato 31/12/05

Acabou.
Feliz Ano "Novo".

XIX - Dia 31 De 12 De 2005


Sempre estamos na espera
De que o tempo nos dê dias perfeitos
De que a perfeição que por nós é fingida
Seja um dia,mais que apenas um desejo

Mas devemos andar
Sempre em passo lento
Atravessando anos,meses,horas
Fazendo eternidades em cada momento
Trazendo nas conquistas
Ambições,apostas
Vitórias

Mas nossos pés vão se pisar
No mesmo caminho tortuoso
Encontraremos,nas rosas,os mesmos espinhos
As mesmas rimas em encontro com versos duvidosos

E as mesmas histórias...
"as mesmas" em termos
São outras mãos que carregam as vitórias
São outros olhos que refletem um tempo
Não perdido,mas vencido

E o que aprendemos
O que eternizamos
Tudo que perdemos e tudo o que ganhamos
É tempo vencido
Tempo sentido
Tempo que teve sentido de se viver.

Mais um ano que passa,
mais um passo adiante no caminho
Mais lágrimas,mais vivência
Mais cansaço,menos conformismo
Mais uma chance de ouvir
Mais uma chance de ser ouvido
Perdoar,entender,descansar
Amar,lutar,vencer,ser vencido

Aproveitar,curtir cada momento
Cada segundo
Ser o vencedor de uma batalha sem sair do lugar
Ser a cada dia,um vitorioso para si mesmo
Por seguir de mãos dadas com o tempo sem nunca estar perdido
Seguir aprendendo que aprender
É mais que aprender quando também se tem algo a se ensinar

José Augusto Mendes Lobato (madrugada de 31/12/05)


-------------------------- Este não será o último do ano. -----------

terça-feira, 27 de dezembro de 2005

XVIII - Contra o Espelho


Em seio pálido,morto
Meu corpo descansa
Um aborto de minhas paixões
São os cacos de um espelho
Que se perdeu entre dias

Entre instantes sem rumo
A mente na penumbra
Procura a sobriedade
Nas vozes que entre paredes somem
e contorcem-se em mentiras

O corpo sente o frio
Da lâmina fina a fundir-se
à alma em delírio
No desespero,estão contidas
As memórias destroçadas

O passo é lento e tranquilo
As mãos se apóiam entre os pés
e o abismo
Debaixo destes pés descansa
a trilha jovem percorrida

Pelos pés que ousam pisar
Nos espinhos das mesmas rosas
E as feridas a sangrar
Revelam,escondidas
A vida a pulsar...

...De um coração já destruído
Morto,em ódio embebido
E a morte agora se reflete
no espelho
A alma voa
O corpo cede.

O que meus olhos vêem é chuva
O sangue é o espelho coberto pelo
alvo Véu de ódio e insanidade
que alimenta a covardia

De ter em atos crimes
Morte em olhares
Dor em redenção
E a navalha,a sangue frio
Corta a pele apodrecida

E os pés já não podem pisar
Na terra batida
E a mente livre a planar
Covarde,se rende
à eternidade vendida

Aonde meu corpo descansar
Cairá de joelhos o monstro a me guiar
Por entre cenas inventadas
Pelo desejo,à deriva
Para trás fica a mesma voz
Que controla,que consome
O impulso e o instinto
A visão distorcida
Contra um espelho
De memórias perdidas.

José Augusto Mendes Lobato 27/12/05

segunda-feira, 26 de dezembro de 2005

XVII - As entrelinhas alinhadas


Não me diga que se cansou de mentiras
Se nessas meias palavras
Disfarçadas em olhares
Sempre finges ter a certeza de um sorriso

E não me entenda como um falso
E não me force a dizer a verdade
Se posso me manter longe da sobriedade
Engolindo em seco teu pecado e teu domínio sobre mim

Sempre que tentas te achar dentro de mim
Descobres que uma parte de ti já está contida
Longe daqui,num canto empoeirado
Da memória do que foi a nossa vida

Não sinta a dissonância dos termos
Não odeie a inconstância deste lugar
E não me peça para te guiar por entre os espinhos
De cada rosa morta que vivemos a regar

E não ouça as entrelinhas que eu invento
Em cada segundo que desperdiço em amar
Tudo que está enterrado e que eu aguento
Fingir a cada noite desenterrar

Um sentimento
Não cobres de mim mais do que um canto triste
De um homem sedento
Por sentir,por ter alguém com quem dividir
Estes momentos a sós,sentados à beira do abismo
Com um violão e uns cigarros
Sozinho a cantar

A dissonância me atinge
Tal qual teus olhares odiosos
Em ver sentado,calado,teu destino
Entregue às reticências e demências do óbvio
E do ridículo
Com uns poucos versos rabiscados em um livro
Sozinho a cantar.

José Augusto Mendes Lobato 26/12/05

domingo, 25 de dezembro de 2005

XVI - O Pintor


Por tantas horas fiz o melhor que pude
Tentei trazer à tona
Mais do que a verdade que confunde
Tentei em uma vã atitude
dar asas à imaginação com a beleza e a inquietude
De uma pintura borrada
Sem sentido ou direção

Mas as cores se cruzaram
O indefinido,por entre horas se fez passado
Apagado pela insanidade
Das mãos que rebocam o quadro
Cobrem as cicatrizes com sorrisos
Enquanto as almas encarceradas nos retratos
Se torturam e se contorcem
Nos sorrisos enquadrados

A cada dia em que retoco
A obra que imagino estar em foco
Vejo mais campos serem cobertos no vermelho
Do sangue,do medo
Da ânsia,do desespero
Resta entrelaçalar as mãos e olhar,da janela,
a paisagem e buscar algo novo para se pintar...

Vês este mundo que esboço?
É um espelho empoeirado
Cansado de refletir nos nossos olhos os mesmos erros
Tantos DeJa Vus
São sempre desejos
De trazer a essas mãos um pouco de loucura
E trazer vida ao meu corpo nu;
Mas não mais retrato o que vejo.

Retrato um mundo cru
Que nunca vi
Mas sempre almejo.

José Augusto Mendes Lobato 25/12/05

quarta-feira, 21 de dezembro de 2005

XV - Paixão em Preto e Branco


Quem diria que um dia aqui iria estar
Sentado à beira da escada à tua espera,
a olhar as horas passarem e no teu seio depois descansar
a olhar tudo o que negamos do outro lado da janela

E quem diria que iria contemplar
Lá fora o mundo invejando tanto carinho
Tantas pétalas nas mãos se tornando espinhos
E os corações se acimentando em desespero

Em um quadro cinzento,preto e branco
Levam o vento as flores e os ponteiros mancos
do nosso tempo

Lá fora o mundo nos recebe com maldade
Em meus braços tens um pouco de inocência
Em nossos planos,um pouco de sinceridade
Em nossa redoma,um resquício de fraqueza

E quem diria que te teria como par
sentada aqui ao meu lado,encarando a beleza
dos meus versos como idealização
como se em ti não encontrasse a fronteira
Do que sinto em minhas mãos
E do que o coração deixa estar
Tua pureza e perfeição me dão um chão,
me dão um par.

E quem diria que iria contemplar
Lá fora o mundo invejando tanto carinho
Tantas pétalas nas mãos se tornando espinhos
E os corações se acimentando em desespero
E nós aqui,longe de tudo,
somos tão donos de nós mesmos
mas tão entregues um ao outro,
Olhando através do vidro
Tão ilesos.

José Augusto Mendes Lobato 21/12/05

domingo, 18 de dezembro de 2005

XIV - Sobre Deus e o Diabo a Quatro


Deus te deu os medos?
Vai temer a todo mundo!
Deus te deu o desespero?
Olhe pra trás,vá a fundo!
Deus te deu essas mãos?
Descreva uma oração nesse ciclo sem pé nem cabeça
Dê aos céus mudos um pouco de atenção!

Deus calou tua boca?
Vai chorar mudo!
Deus lava tuas louças?
Vai pra pia,sujismundo!
Deus te deu teus ouvidos?
Descreva com o coração como se sente ao escutar
As mesmas fórmulas inexatas serem exclamadas no altar

Basta um ranger de dentes,
um omilia e um pouco de vinho quente
E saberás o que esperar de si.

Deus não leva à forca
Mas me leva ao serrote!
Deus é pai,é senhor
- Ser meu pai é um esporte!
Deus te deu tua essência
Descreve toda a sua demência erguendo ao céu
Esse véu de abstinência que te fez o pior réu de si mesmo
E o pior escravo de Deus.

Basta ter nessa mente inerte
Um pouco da vontade de ser seu.

Deus garante teu almoço?
Vai trabalhar vagabundo!
Mas não tem emprego nem escola
Vai pedir esmola pro mundo!
Deus te deu a inocência
Para que descrevas como quebrá-la em segundos
E cobrir a devassidão com um mar de virtudes
Que sequer tens!

Basta nas veias correr sangue
Para cobrarem de ti dez améns!

Dá a Deus as mãos calejadas
E os joelhos sangrentos
Quem sabe ele não te faz merecer o que tens?

Deus não aprova a guerra
Mas nos deu a ambição!
Deus não castiga a nossa terra
Mas a tira de nossas mãos!
Deus nos renova a cada dia
Mas somos os mesmos desde quando?
Deus nos ama e nos dá a vida
Mas por quanto tempo fingirá por nós ter encanto?
Deus é o tempo,é a verdade
Mas de que inverdade se fez a razão?
Deus é clemência,Deus é piedade
Mas que piedade é essa que não sinto em meu coração?

E Deus é pai de todas as coisas
Mas todas as coisas escapam do nosso controle

Então Deus não passa de mais uma coisa
Que enfiamos goela abaixo
No desejo desesperado
De não ter rédeas para nós mesmos

E botar nessas mãos imaginárias
Um pouco do que seria a razão
E do que seria um pouco de desespero
Fingindo ser a beleza da vossa criação
Essa deprimência que nos controla
Esse ouro que nas nossas mãos se torna esterco.
Essa merda de religião
Que não importa a opinião
É merda pintada
É merda sagrada
É merda abençoada
É merda e mais merda do mesmo jeito.

José Augusto Mendes Lobato

18/12/05


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Por favor,não pensem bobagem.Eu sou católico,acredito
em Deus e discordo de tudo que escrevi acima;apenas fiz
um poema imparcial sobre os ateus,nada a ver comigo =)
Abraços.

XIII - Ventura


Não ouses tu!
Não enlaces minha essência em tão pobres frases
Não derrube o cálice de minhas mãos com esses olhos teus
Não ouse trazer nos urros e nos berros e nos sussurros
Sequer um sinal de prazer
Sequer um sinal de loucura

Não finjas tu!
Que nada do que,por nós,foi destruído
Para você, não era nada,
nada do que dizes faz sentido
Não ache nessas contradições e suspiros e sorrisos
Sequer um algo mais a dizer
Do que os subentendidos de outrora

Teus gritos são enlaces
Ousadas vozes que me prendem ao desejo
Quebras o encanto com os mais impuros olhares
Trazes mais loucura à minha mente com teu beijo
Não venha me dizer que a verdade não te ataca
Tua paz será eterna,e tua alma,serena,
descansará no ópio em que embebo as nossas almas
Deixa o medo,mais uma vez,achar abrigo em ti.

O vermelho será a cor de nossos olhos
Enquanto o pôr-do-sol
Nos banhar e cobrir os corpos nus.

Não julgues tu!
Esses impulsos que combato com a alma
Toda essa loucura que me arranca a razão
É a carne apodrecendo se desfazendo nessas mãos fracas
Que ainda seguram com calma
O enredo tresloucado desta paixão

Não vivas tu!
Mais um segundo sob o véu da sanidade
A noite clama por nós
A Ventura será eternamente uma saudade
Refletida sob o mesmo luar
Tal qual ganhaste um espelho em meu coração

Teus suspiros são afrontas
Ao que um dia tive : controle
Sob essa pele,a fúria do desejo me consome
Força-me a dar,a ti,amores
Esses que te arrancam as vestes
Te largam em preces
Te purificam na liberdade

E,na cama suada,te largas
Entregue às traças
E não haverá mais ameaças
se tudo que me disseste foi verdade

Deixa o fascínio que sobre ti exerço
Se tornar a Ventura
O vermelho
O desejo
Se tornar o cárcere do teu coração.

José Augusto Mendes Lobato
18/12/05

sábado, 17 de dezembro de 2005

XII - Os outros


Ando de mãos dadas com o espelho
Me julgando tão capaz
Mudando o mundo com conselhos
Fazendo guerras de paz
Que a mim não trazem e não fazem
Diferença qualquer

Refletindo nos erros
Um "Quê" de querer algo mais
Mas não fazer nada
Já que não há nada
Mais do que feridas
Entreabertas à espera
da hora de sangrar em paz

Tão simples e práticos,somos nada mais que estorvos
Corpos suspensos em mais um matadouro
À espera de um milagre
Não nos peça mais
Do que um olhar inexpressivo
para o que deixamos para trás.

Não somos nada além de outros.

Olho para os lados e vejo muito pouco
A mais do que veria se fosse louco
Mas não é mentira que levo entre os dedos
Palavras engolidas em sonhos
E sonhos engolidos a seco
Entre um gole e outro de mais uma dose de desespero.

Tão lacônicos em discursos performáticos
Gritando por horas,ouvindo os ecos apáticos
Encherem o vácuo em nossas mentes
Não nos peça mais
Do que um ranger de dentes
Nas horas em que vemos
Que não somos nada mais

Do que mais um pouco do que um pouco mais
Do que mais um outro
Do que meros outros.

José Augusto Mendes Lobato 17/12/05

quinta-feira, 15 de dezembro de 2005

XI - Crônica poética de mesa de bar


Te reconheci pelo jeito de andar
Tens os mesmos sonhos enrustidos
A mesma inconstância de odiar

- Você também,meu caro,vejo através dos teus olhos
Vamos fingir que podemos confiar um no outro?
Prometo dar a ti mais uma dose de ódio

Senta à mesa
Pede mais um drink!

Tens o mesmo papo encardido
- Você que sabe,meu amor,vejo apenas o que não é sentido
Finjo que por esses olhos nada passa
Prometo que neste coração nada é escondido

- Junte-se ao grupo
Tome um porre hoje comigo!

Entre um olhar e outro,caem as máscaras
Um sorriso largo que ofende
Um tapa na cara que abraça
Somos todos iguais perante a verdade
Decadentes,dementes
Deprimentes
Caras-metades vãs e inconsequentes.

O papo tá muito divertido,
mas cadê as palavras?
Onde foram parar os clichês nojentos
Estão eles entregues às traças?

- Não me diga!Que estranha essa vida
Sente,diga olá e me ofereça uma bebida

E eis que,em meio a aplausos,surge nosso eu lírico irônico
Sorrindo e cuspindo em nossos ouvidos
O mesmo discurso lacônico
As mesmas palavras embutidas em goles de uísque
Saem os vermes enterrados na pele
Saem os monstros que mantém embutidos
Nossos desejos mais inusitados
Tarados,safados
Pervertidos
- Enojados?
Que fiquem para trás os infelizes!

Já chega de devaneios
Vamos aos assuntos batidos
- Como anda esse governo?
Fica aí,que o papo vai ficar bonito!

Teimosia mata,meu senhor
- Acenderei só mais um cigarro!

As mãos se entrelaçam,bêbadas,perdidas
Promessas novas são rebocos
De mais promessas não-cumpridas
D´outros dias que passaram
Sob o mesmo luar
Igualmente sem par
Sem ar
- Descansar?
Isso é para os iniciantes
Já sou o teto desse bar!

- Chega mais que já estou cheio!
Aonde é que essa conversa vai terminar?
Não sei de vocês,mas a minha cabeça já está doendo
- Vai acabar em motel,meu amor
A noite segue enquanto houver luar!

- Deus que perdoe nossa total deprimência
Mas eu me conheço bem demais para acreditar
Que saio daqui vivo dessa vez
Que vou achar o caminho de volta pra casa...

Sãos e salvos num debate às avessas
Onde todos gritam e fingem escutar
Ninguém está a salvo,ninguém é inocente
E não é incoerente desconhecer o ombro em que se vai chorar
E,tal qual velhos amigos,
Todos se ajudam e se dão motivos para um ao outro chorar
Bastam as respostas disconexas
E as vidas são expostas indefesas
e decoram o ambiente
tenebroso e decadente de mais uma mesa de bar.

José Augusto Mendes Lobato

15/12/05

terça-feira, 13 de dezembro de 2005

X - Amor Proibido


Terei eu que encarar os mesmos desafios?
Provar para todos que sou capaz de afundar?
No mínimo sinal de perigo
Seria eu capaz de,aos prantos,implorar
Por um pouco de carinho
Por um resquício do teu olhar?

Ou seria eu capaz de expor o corpo a fogo?
E curar tantas cicatrizes com a dor?
Sentar-me num canto
Fingir,aos prantos,me entregar
À morte e às chamas
Só para,um última vez,poder te abraçar
E sentir teu calor?

Descansa nestes braços que acolheram tuas derrotas
Apanharam teus pedaços no chão e te refizeram
Abraça este corpo que já te levou às estrelas
Com o simples toque do coração
E das mãos que a ti deram
amor.

Terei eu razão em dizer que tu para mim viestes?
Se nunca,de fato,te vi perto de mim?
Queria poder apenas
Te convencer que amenas
Foram as dores que me permitiste sofrer
O pior foi sentir o teu carinho
E não mais o ter!

Descansa uma última vez,reconheço minha derrota
A muralha que nos separa te impede
De me olhar
De me ouvir
De me sentir
De lembrar com carinho do que um dia pareceu eterno

Descansa sob os olhos que te oferecem um amor verdadeiro
Prometo não tocar-te,serei apenas teu confidente
Conta-me quem te domina,qual o teu segredo
Do que devo ter medo
O que devo sentir em oposição ao que sentes,
além de amor.


José Augusto Mendes Lobato

13/12/05

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Quem já não amou quem não devia amar?

=)

domingo, 11 de dezembro de 2005

IX - Tua morte e o Véu Negro



Me trazes as mãos límpidas
Embebidas em teu suor
Esse que exalas quando me olhas
Transferes teu medo para meu corpo,
Teu Sangue.
Teu Ódio.
Meu Ópio.
Teu Medo.

Ainda assim,insistes que sou carrasco
Mas o que significa ser isso pra ti
O que faço?
Senão,de braços abertos te acolher e sorrir?
Minha Penumbra.
Teu Cansaço.
Tua Perdição.
Teu Desespero.

Em teus medos descobrirás a essência do teu existir.

A navalha não é mais nossa fuga
Em nosso corpo residem segredos
Eternizados em cicatrizes e nas rugas
Que embaixo das vestes,sangram e latejam.
Tua Dor.
Teus Gritos.
Meus Olhos.
Teus Espelhos.

Não libertarás mais do que toda tua fúria
Corroendo e rasgando,de dentro de teu peito
Entregue a mim,sou teu começo,meio e fim
O amor nos funde,gélidos,assim
O que nos resta é um último e eterno beijo.
Os Lábios.
O Feitiço.
O Descanso.
O Desejo.

Por trás do Véu Negro que ostentas,
uma última vez te vejo sorrir para mim.

José Augusto Mendes Lobato
11/12/05
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Uma visão da morte.A alma,a névoa negra dançando no ar,
enquanto o último beijo e o último olhar se entrelaçam.São
a matéria que resta,perfurando a leveza do ar puro com a
navalha do espírito.Os espelhos estão quebrados.
Os cacos,é claro,estão em outras mãos.

sexta-feira, 9 de dezembro de 2005

VIII - Oito anos


Oito anos são perdidos
Numa redoma de repetições
De pleonasmos invertidos
Construímos nossas religiões

Nos julgamos decididos
Mas o que temos em nossas mãos
É sempre um prato resfriado
Já usado e mal lavado
Que mantém nossos pés no chão

Oito anos já nas urnas
Os nomes se repetem por convenção
Não temos mais no que acreditar
Até para odiar nos falta opção

Nós julgamos pervertidos
Quem não teme dizer não ao que restou
Ao que não faz mais sentido
Mas pelo visto o que nos sobrou

Senão mais oito anos refletidos
No mesmo espelho encardido de ilusões?

Mais uma década perdida
Entre promessas e esperanças vãs
Nos arrastando e abrindo as mesmas feridas
As mesmas vidas sentadas ao divã
Previsíveis
Repetitivas.


José Augusto Mendes Lobato

09/12/05

quarta-feira, 7 de dezembro de 2005

VII - As cartas


Nem mesmo o pior dos cantos
Ou a mais suja das palavras
Ou o mais amargo dos sabores
Descrevem o que sinto quando
Descrevo esses círculos criando
Expectativas que vão se reciclando
Com cada carta que insisto em não abrir

Tento fazer de meus atos justiça
Mas pareço criar mais lacres na dobradiça
Que me separa da resposta
Que temo e quero tanto ler

Temo que a verdade seja apenas uma utopia
E que essa utopia jamais irei conhecer

Nem mesmo às mãos que confio
Ou às horas que atravesso
Ou aos medos que em mim gritam
Dedico minha coragem,no entanto
Toco a seda e perco todo o encanto
De ter uma carta e não querê-la abrir

Tento fingir a mim mesmo que sou louco
Mas o que me dói é saber que isso é normal
Que me separo forçado,afinal
De um punhado de palavras que não tento entender

Abro mão de descobrir o que sinto
Pois sinto o que abro mão de descobrir

Temo que o que sinto é um impulso
Que tudo que tenho no peito é uma ilusão que criei
Temo que esteja livre e nunca tenha amado
Temo que agora esteja conformado
Em não saber nem mesmo o que sou
Em não saber nem mesmo o que sei.

José Augusto Mendes Lobato

07/12/05

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O medo de amar,embora nunca tenha me atacado,
ataca a tantos que já até conheço-o por terceiros.Dedico
este a um amigo meu que sofre por não levar para o coração
o que planeja sentir.Dedico também a todos que por ora se
identifiquem.

terça-feira, 6 de dezembro de 2005

VI - Adeus


Adeus ao que restou de você
Nem palavras mais tenho para descrever
Tantas máscaras sobrepostas
Deixaram rasgadas e expostas
Cicatrizes que escondes e finges não ter

Teu corpo é segredo envolto em fino
Véu de veludo,negro e rubro
Teu seio abriga um coração partido
Que grita para ser ouvido em meio a tantos sussurros

E lágrimas contidas
Escorrem por entre teus dedos
Levas a mão ao rosto,resta teu ventre exposto
Sangrando e pagando pelos mesmos erros

Tua alma em aborto
A navalha em tuas mãos
Chuva escarlate em teu corpo
Ódio em teu coração

Adeus,e não diga que eu não soube ouvir
Por favor desista de tentar criar em mim culpas
Não me peça desculpas
Não pegue seu passado e cubra
Com as mentiras que espalhas por aí

Teu corpo é carapaça para as sombras que te circundam
Névoa eterna essa que te apaga e te domina
Teu seio abriga um coração que mal bate
Afogado por tantas mágoas falsas,enrustidas

Entranhadas em tua vida
São tua voz ecoando noite e dia
Levas a mão ao rosto,teu coração exposto
Começa a sangrar e você vai,perdida

Levar um amor ao aborto
Com a navalha nas mãos
Dando adeus ao sonho morto
De sentir seu próprio coração

José Augusto Mendes Lobato

06 & 07/12/05

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Distorções.Exatas ou não,sempre borram nossas
memórias,doces e inocentes.Agora nada mais lembra
aquele ambiente lindo que criamos.Escorrem do papel
lágrimas que andavam pedindo para serem choradas.E
desaparecem,depois de cair no chão e evaporar.Serão a
chuva que levará toda a sujeira que espalhaste embora.
Serão nossa redenção.

V - Frente a frente


A que direção pretendes levar teus sonhos?
Para que ponto olhas quando cospes as mesmas palavras?
Cadê teu molde para dar sentido a tantas menções
Cadê teu foco se insistes em me dar
Respostas centradas?

Eu desejo de mim mesmo a força para esquecer
De tudo que dissemos
De tudo que fizemos
Em nome de algo que fingia ter
Dentro de mim

Sob qual álibi vais me arrancar os olhos?
Por quantos anos vai fingir conhecer a si?
Cadê suas palavras quando me encaras frente a frente
Cadê tua coragem?
Cadê tua vontade de reagir?
Respostas sem pé nem cabeça não vão mais me iludir

Eu desejo que teu seio ainda vá por alguém bater
Por alguém menos intenso
Menos propenso
A te amar e lutar pelo sentimento
A se anular por ti

A chuva negra ainda banha teus sentimentos
E ainda olhas para cima como que pedindo para que ela caia
E perfure teu corpo
E te arranque a alma
E te dê de novo a calma
E tire minha eterna memória de dentro de ti.

José Augusto Mendes Lobato 06/12/05

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Um título de poema que coincide com um disco sombrio
("V",Legião Urbana).Uma certa sombra que à espreita me
implora para dedicar dez minutos de produção textual para ti.
Memória morta,
memória fria.
Ainda bonita,
mas não existe mais.

sexta-feira, 2 de dezembro de 2005

IV - Negativo


Minha voz consome tuas palavras
Teus medos se tornam as minhas armas
Eu tenho em mãos a força que almejas ter

Tuas metas se tornam atos
Vazios,premeditados
Forçados em impulsos que insistes em sentir

Não dê o braço a torcer
Sabes que não podes contar com mais ninguém
Além de teu reflexo para formar um par
Dê as mãos para mim,te darei um destino
Um abismo,um caminho
Uma direção para olhar

Minha pele consome tua carne
Te tornas parte de mim
A cada gota de sangue que finges derramar

Em nome de ti
Alguém que nem mais existe
Uma sombra do que foi e agora já reside
Como uma triste memória que grita para se lembrar

Não finja ter algo a dizer
Sabes que as palavras não mais à boca te vêm
Não tens mais motivo para sozinho andar
Dá teu corpo a mim
Tua alma já me pertence
Olhe para os lados e pense
Há sequer um lugar para onde possas fugir?
Nem mesmo uma razão há:
Já és outra parte de mim.

José Augusto Mendes Lobato

02/12/05

quinta-feira, 1 de dezembro de 2005

III - Do outro lado

Caminhos cruzados
Olhos deram a resposta
Que teu corpo a insinuar
Me trouxe o delírio
O amor e o perigo
Que tentei evitar

E sem evitar
Lutei ao teu lado
As duas mãos rumo ao intenso
Caminho para a eternidade
Desejo que em ti tornou-se incerto

Te levando ao passado
Cada vez mais longe
Do outro lado do mar
Teus sonhos moram
Dentro de ti,
Mas por eles não sabes lutar.

"E os desejos cessam
Consentidos,estamos cansados
Teu corpo não mais recebe minhas mãos
Mas me sinto forçado a te honrar
Te dar mais que um par:
Te dar meu coração"

“Lutar contra o cansaço
Afogado no medo
De entregar o corpo e a alma
E o peito”
E vemos agora no espelho
O que um dia foi um par...

Eu vejo o outro lado
Cada vez mais longe
de onde você está
Teus sonhos moram
Dentro de mim
Mas teu coração aqui não está

Sonhos destruídos
E teus medos expostos
São tua alma em pedaços
O apagar da chama do teu coração.
Sei que não chegamos ao outro lado
Mas tenho meu destino em minhas próprias mãos.

José Augusto Mendes Lobato 01/12/05