terça-feira, 28 de março de 2006

Circuncisão Poética I


Todas as poesias têm algo a dizer
Prefiro ter uma mensagem em cada linha
Um parágrafo silencioso em um ponto
A uma estrofe de verdades em cada mentira.

Não agrado aos metrilíneos
Aos obcecados, poetas de "pão e circo"
Sou Barroco em pleno Modernismo
Exagerado, porém sincero
O paradoxo eu reitero
Como o guia da mente que vos escreve.

E vêm à tona os lugares-comuns
O previsível? Não me peça originalidade!
Vou reciclar-te tal qual poesia Árcade
Te farei domínio
Serás fascínio
Obra pendurada na parede de qualquer bordel.

Sim, toda poesia tem seu significado
Mesmo eu sei disso - e tento dar-te asas
Achar em ti meus olhos e braços
Como se pudesse assim me eternizar

Por isso, sou um dito assassino
Aos obcecados, cá está meu tiro às cegas
Sou louco, coringa rouco de tanto gritar poesia
Cansado de vomitar especulações, abstrações e teorias
Á métrica, ficam aqui as desculpas
Mas a mim sou guia e danço comigo mesmo
E os passos se renovam a cada dia.

Na gritaria,
ouço uns.
Batem palmas?
"Lá se vai mais um poeta!"
Vou entregar-me à fogueira
e à dor que me espera
Inquisidores, adeus!
Já vou tarde.
Continuo sem significado.
Sem mensagens e sem linhas.
Sem pontos, verdades ou mentiras.
Continuo nesse recíproco bem-estar
De morrer assim,
com a verdade nos punhos sozinhos.

José Augusto Mendes Lobato 27/03/06

Acabou-se a contagem.
Chega de "X"´s e "I"´s e "V"´s.
^^

sexta-feira, 24 de março de 2006

XXXVII - Dez Minutos

Dançou na rua banhada pelo luar
Chorava de bruços no dia seguinte
Ele a apertava com força,exigia silêncio
Dez minutos de tortura,e sentou à mesa com os amigos.

Assunto vai,assunto vem,
Chegava à mesa o licor e o vinho
Mal sabiam que estariam mortos,exceto ele na manhã seguinte
Após dez minutos de dizeres entorpecidos.

(...)

Ele estufava o peito ao falar dos amigos
Se julgava maduro,não ouvia os pais
Cercado das companhias que lhe davam abrigo
Por dez minutos,isolados minutos de paz

No dia seguinte,não teve tempo de mudar de idéia
Acordou sufocado,nem sabia do que se tratava
Olhou às pressas para os lados,viu um breve sorriso
Seguido de dez minutos de gritos sufocados por uma mordaça

(...)

A vida presenteava-os com o melhor da vida
Mas o irmão dele parecia não se conformar
Sentia no peito um grande vazio
Como se dez minutos a sós pudessem o curar

Acordando cedo aos domingos
Almoçando sozinho na sala de jantar
Pergunta a si mesmo sobre o que faz de sua vida
Dez minutos e o corpo desaba do décimo andar.

(...)

Disse adeus ao telefone
Prometeu nunca mais o procurar
Aquilo era errado,contra-evolutivo
Tinha mulher,casa e filhos e dez minutos pra voltar pra casa

Mas nada que não se resolva com um incentivo
Os dois tinham empregos parecidos,foram trabalhar
O acaso os encontra,não há mais nada no caminho
Dez minutos passados e eles formaram um par.

(...)

Prometeu a si mesmo não se lembrar
Que já guardou sorrisos no peito
E que todos lhe faltaram o respeito
Foram exatos dez minutos ajolheado no altar

Pedindo conselhos,explicações
“Meu Deus,porque não alcanço meus objetivos?
Contidos e concisos,mas sempre sinceros”
Dez minutos lhe lembraram que ser feliz é um ofício.

(...)

Ela diz “não ter culpa”,ele finge não ter esquecido
Foi muito azar ter logo ele visto
“Foi por tão pouco,meu amigo!
Dez minutos e ele nunca ia te encontrar”

A briga os afastou por períodos
Os dois não se falavam há anos
Mas um dia eles deram pra se cruzar numa esquina
Dez minutos e os dois se agarram num canto.

(...)

Em seu leito de morte,o moço chorou,indeciso
Nem sabia amar a vida desse jeito
Sempre quis morrer,mas agora sentia medo
Dez minutos de sufoco e lembrou que preferia estar vivo.

Mas ela nem sabia do que agora acontecia
Estava do outro lado da cidade,“indefesa”
Dançando na mesa,bêbada
Seus dez minutos valeriam uma vida

E o moço morreu sozinho.
Sem nunca ter aprendido a amar.
Nem mesmo por dez minutos.
Nem mesmo por um segundo.

José Augusto Mendes Lobato 22/03/06

quarta-feira, 22 de março de 2006

XXXVI - Confissão?


Eu sinto em me informar
Mas já passou, na verdade,
nem chegou a passar, mas enfim
Eu mereço me contradizer assim
Sem dizer nada

Eu sinto em te magoar
Mas eu sei que sou tudo que tentei ser
Nem cheguei a ser, mas não importa
Fingi na hora nem perceber
Que estava um pouco transtornado
Pela tua presença,pelo teu simples estar

E nem preciso falar!
Será que eu não aprendo?
Parece que deixo falar pelos poros o que sinto
Sem mover um dedo sei que estás sabendo
Que eu estou mentindo, enrolando e deixando
Num canto tudo aquilo que quero dizer, mas não digo.

Nem vou me prolongar
Basta te lembrar que esses dias têm horas largas
Opacas até eu me acertar na frente do espelho
E decorar bem o que vou te falar dessa vez
Nada melhor do que ter a minha vez
A nossa vez
E poder te falar de peito cheio
Que eu já me sinto novo.

José Augusto Mendes Lobato 22/03/06

domingo, 19 de março de 2006

XXXV - Sete Horas


Já estive mais cansado,sei
Que outros tempos são um porto seguro
Para fazer deste tempo algo a se lembrar
Hoje teve coisa boa,o cansaço compensa,sei
Mas também sei que nem todo cansaço cansa de se sentir;
Ao menos não por aqui.

Já me deitei com os olhos mais pesados
- Ei,não me diz que não sabiam?
Eu tento,por inércia,descansar
Em cada sonho bom que alimento
Nem vem me dizer que é bom eu desistir
Ando deixando falar mais o cara que guardo no meu peito

Agora eu posso dizer
Que já fiz o que devia ser feito
Que guardo um som no peito
Um violino distorcido,música louca
Um caderno cheio de poesias debaixo do travesseiro
E que dessas pequenas coisas posso me orgulhar
E que no meu canto posso de tudo e mais um pouco rir.

Nem sei se vale a pena ressaltar
Mas eu prefiro errar assim,sabendo do erro
A seguir um molde pré-fabricado
Casa de massinha,bonecos programados
Sorrindo e rindo e se escondendo
Sempre que a saudade aperta.

Já,já guardei o violão no armário
Mas a música não se deixa acabar
Ela está nos meus lábios
Ecoando nas paredes
Rasgando a seda que é o teu olhar

Quebrando o clima estável que ninguém ousou quebrar
Deixando as janelas abertas pro mundo
Hoje a sala de jantar vai tremer
Por favor,compreenda esta juventude,
deixa estar.

Agora eu posso dizer...eu já sei me cansar!
Já sei o que é ter meu próprio tempo
Ter umas sete horas de barulho
Uns sete séculos a se lembrar
Perfeição essa que me deixo lembrar
E só pra não ficar triste
Prometo a mim mesmo que semana que vem tem mais,
é só acreditar.

José Augusto Mendes Lobato 19/03/06

quinta-feira, 16 de março de 2006

XXXIV - Resposta Autoprogramada


"Wake up,these are new times darling..." - Oasis (Cloudburst)

Bem que eu tinha apostado comigo mesmo
Que em menos de uma semana viria a tal "resposta"
Ô teimosia a minha,nem sabia o que estava perdendo
Em vez de calar os dois com o silêncio
Perdi para mim a tal aposta

Eu ainda brinco com as palavras
Eu ainda conheço o íntimo da ambiguidade
Eu ainda consigo me surpreender a cada dia
Dançando comigo mesmo em uma folha de papel
Remoendo e encolhendo as verdades

E,mesmo assim,ainda fui "agressivo"
Ainda que eu bem lembrasse no final
Que tudo que eu queria era justamente paz
E quem sabe um pouco mais de liberdade para eu dizer o que sinto
-No meu canto,vale ressaltar

Não quis dizer nada
E olha que falei tudo
Rimei o nexo com os devaneios
Uns tapas na minha cara com um sorriso difuso

Na verdade,não era agressividade
Na verdade,não falei nada mais que o óbvio
Na verdade,não sou dois,não mais
Sou um e esse um é meu par
E,sim,eu estou em paz.

José Augusto Mendes Lobato 16/03/06

Vamos ver se até esse blog foi "crackeado" =P

quarta-feira, 8 de março de 2006

XXXIII - Sobre outros tempos


Não preciso mais perder meu tempo.
Não preciso mais de tempo.
Não preciso ter tempo.
Não peça tempo.
Não dê tempo.
Não vem.
Nem.
Nem vem.
Coisa mais chata.
Essa total e real falta.
Do que dizer quando te bate.
Essa solidão,essa falsa saudade.
Não sou eu que vai te preencher.
Não preciso mais perder meu tempo.
Não quero mais te dar um tempo.
Não sei nem se me lamento.
Por dar um ponto final.
Por cima d´outro fim.
Não depende de mim.
Não vem assim.
Nem me vem.
Nem mais.
Não mais.
Nem.

José Augusto Mendes Lobato 08/03/06

segunda-feira, 6 de março de 2006

XXXII - Além Do Mais


Não consegui dormir essa noite
Os lençóis não me recebem
O café não me aquece
Nem mesmo um filme me adormece
Não quero nada menos do que estar comigo

Mas nem sei se brigo
Se pego o telefone,te grito umas verdades
Dou a cara a tapa,em nome da minha dignidade
Ou se sento num canto qualquer e deixo estar
Chorar um pouco mais,ficar a sós com minha saudade

Sinto frio,medo,
O vento lá fora arranha os vidros da janela
E é segredo
Que teu carinho é o que desejo
Que o silêncio é meu companheiro
Que às vezes a dor aperta
Por tantas vezes em que finjo ter abrigo

Entre quatro paredes
Que mal me encarceram
Mal me libertam do mundo
Que renego e abandono,
Tão sozinho

Não pude evitar : andei até a janela
Abri e senti teu cheiro entrar
Minha alma e meu coração perfurar
Chegaste ao décimo andar
Me tiraste um mundo que nem sei se mereço

Olhei para baixo : mil vocês a andar
Com os passos apertados
Olhos inertes a me encarar
O que me resta é me entregar
Ver se,ao menos lá embaixo,eu te mereço

Sinto o vento no peito
A dor ficou lá em cima,os frascos na janela
E é segredo
Que teu carinho foi tudo que tive,foi o medo
Que nos afastou em silêncio,e agora,inteiros
Estão meus braços,abertos
Ao menos olhe em meus olhos agora
Lembra de mim?

José Augusto Mendes Lobato 06/03/06

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Nome dado pelo sr.Rafael "Vovó" Vouzela.
Valeu Vovó!!! =D

quinta-feira, 2 de março de 2006

XXXI - Rasante


Foi tão bom quebrar o silêncio
Tão bom lembrar de tantos dias
De quantas outras horas
De quantas outras memórias
Daquele absoluto carinho que ganhei por mim

É tão bom me sentir indefeso
Ao ver justo o que vejo
Esses passos errantes que me fazem imperfeito
Mas certo do que tenho em mãos
Certo do que sinto
Certo do espaço que ocupas em mim
Sim,nem mesmo anos
Nem mesmo a eternidade
Me tira do peito a lembrança
De dias lindos que vivi

E eu,
Que já me senti,por tantas vezes,revoltado
Em ter em mãos um amor acabado
De repente,percebi
Que sim,esse amor por horas renasce
Nesse sentimento de pura amizade
Em um amor em liberdade que sinto aqui
Dentro de mim

Foi tão bom sentir o que penso
Ouvir o que penso
Perdoar quem o disse a mim
Em nome das memórias
Da construção da história
Do que um dia senti

E eu,
Que já nem mais sonho acordado
Confesso que acho que não esteja errado
Em ter por ti afeto,paz,enfim...
Esse carinho,essa amizade
Dita perigosa,me parece verdade
Não quero ter mágoas,
Não quero ter esse peso
Quero dar asas a mim mesmo
Voar mais longe
E eu vôo,errante assim

Escrevendo outros versos
Lendo outros livros
Chorando por outros motivos
Sorrindo por outros ventos
Caindo em outras armadilhas
Quebrando outros encantos
Dizendo adeus a outros planos
Nunca mais aos prantos
Aprendendo a sorrir um pouco mais para mim
Aprendendo a ser a cada dia mais feliz,assim.

Paz.
Sons.
Sol.
Sal.

José Augusto Mendes Lobato 02/03/06

quarta-feira, 1 de março de 2006

XXX - "About Me" Nº999


Eu?
Nem queira saber!
Eu prefiro me manter imparcial
Um tanto de defeitos,talvez
Jogados contra o vento
No relento,
Ou um tanto de qualidades mantidas no silêncio de atitudes?
Não sei...

Agrado a mim mesmo até segunda ordem
E a não sei mais quem
Nem me lembro da última vez
Que tentei me cansar
De cair e levantar toda vez
Tentando segurar o ar em meu peito
Mas não venha me dizer
Que posso estar insatisfeito
Saiba que o imperfeito já me faz a companhia mais perfeita
Que a perfeição jamais me fez

Eu?
Nem queira saber...
Sou alguém que abrirá e fechará portas
Caminhando a passos largos
Com a certeza de que,cedo ou tarde
Alguma hora será minha vez

José Augusto Mendes Lobato

01/03/06