quarta-feira, 30 de agosto de 2006

Tardes e Noites em SP

Noites e tardes frias, ar seco
Acordes de bossa nova ecoando
Nas esquinas e nos becos;
Engarrafamentos e curvas
Sob a chuva de um sábado modorrento
Por trás dos ternos engomados
Os corpos tremem de frio em seus lamentos

Lamento, mas não espere
Das cinzas e da pólvora achar
Um abrigo, para nessas horas vazias e foscas
Sob outros lençóis se deitar;

Cante, mas não se encante
Com a melodia doce que insiste em cantar
A voz que entoas é semblante
De solidão a, entre os arranha-céus, ecoar.

Almoço em correria, carne engolida em seco
Sexo casual, meia hora no sinal
Gemendo no meio do asfalto:
A cidade é um puteiro!
Depois do trabalho, um jantar requintado,
Fast-food "brasileiro"
Por trás do ar de despedida
Vida bandida lhe arranca o peito

Lamento, mas não espere
Paz de espírito e descanso encontrar
Espere um riso, triste e indeciso
Sobre os lábios poluídos pairar

Tente, mas nunca invente
Tornar as coisas diferentes do que são
É sua sina, a deles e a minha
Viver noites e dias em um frio que não tem fim
Mesmo sob os confortáveis lençóis da ilusão.

José Augusto Mendes Lobato 30/08/06

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