sexta-feira, 24 de março de 2006

XXXVII - Dez Minutos

Dançou na rua banhada pelo luar
Chorava de bruços no dia seguinte
Ele a apertava com força,exigia silêncio
Dez minutos de tortura,e sentou à mesa com os amigos.

Assunto vai,assunto vem,
Chegava à mesa o licor e o vinho
Mal sabiam que estariam mortos,exceto ele na manhã seguinte
Após dez minutos de dizeres entorpecidos.

(...)

Ele estufava o peito ao falar dos amigos
Se julgava maduro,não ouvia os pais
Cercado das companhias que lhe davam abrigo
Por dez minutos,isolados minutos de paz

No dia seguinte,não teve tempo de mudar de idéia
Acordou sufocado,nem sabia do que se tratava
Olhou às pressas para os lados,viu um breve sorriso
Seguido de dez minutos de gritos sufocados por uma mordaça

(...)

A vida presenteava-os com o melhor da vida
Mas o irmão dele parecia não se conformar
Sentia no peito um grande vazio
Como se dez minutos a sós pudessem o curar

Acordando cedo aos domingos
Almoçando sozinho na sala de jantar
Pergunta a si mesmo sobre o que faz de sua vida
Dez minutos e o corpo desaba do décimo andar.

(...)

Disse adeus ao telefone
Prometeu nunca mais o procurar
Aquilo era errado,contra-evolutivo
Tinha mulher,casa e filhos e dez minutos pra voltar pra casa

Mas nada que não se resolva com um incentivo
Os dois tinham empregos parecidos,foram trabalhar
O acaso os encontra,não há mais nada no caminho
Dez minutos passados e eles formaram um par.

(...)

Prometeu a si mesmo não se lembrar
Que já guardou sorrisos no peito
E que todos lhe faltaram o respeito
Foram exatos dez minutos ajolheado no altar

Pedindo conselhos,explicações
“Meu Deus,porque não alcanço meus objetivos?
Contidos e concisos,mas sempre sinceros”
Dez minutos lhe lembraram que ser feliz é um ofício.

(...)

Ela diz “não ter culpa”,ele finge não ter esquecido
Foi muito azar ter logo ele visto
“Foi por tão pouco,meu amigo!
Dez minutos e ele nunca ia te encontrar”

A briga os afastou por períodos
Os dois não se falavam há anos
Mas um dia eles deram pra se cruzar numa esquina
Dez minutos e os dois se agarram num canto.

(...)

Em seu leito de morte,o moço chorou,indeciso
Nem sabia amar a vida desse jeito
Sempre quis morrer,mas agora sentia medo
Dez minutos de sufoco e lembrou que preferia estar vivo.

Mas ela nem sabia do que agora acontecia
Estava do outro lado da cidade,“indefesa”
Dançando na mesa,bêbada
Seus dez minutos valeriam uma vida

E o moço morreu sozinho.
Sem nunca ter aprendido a amar.
Nem mesmo por dez minutos.
Nem mesmo por um segundo.

José Augusto Mendes Lobato 22/03/06

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