segunda-feira, 25 de dezembro de 2006

S.D.H.


Todas as dores deste mundo são minhas.
E ah, se não fossem! De tantos amores
deitaria nu em pêlo,
Entregue às sortes da vida.

Toda a infelicidade, deprimência e as feridas
Pertencem ao mesmo homem,
Que, em mim, sem mim habita

E se pudesse ter comigo mesmo, apenas uma noite
Livre de um corpo que me renega, dia a dia,

Plantaria flores mortas sobre o asfalto
Descansaria de olhos fechados à sombra da vida.

Toda a fumaça, o caos urbano e a gritaria:
Não há quem por elas morra de amores!
Preencho o peito com o vácuo:
Impuro asco à nostalgia.

Toda essa cidade e essa gente infeliz e sábia,
Bebe do mesmo esgoto e caga nas mesmas calças,
Escorre em valas nas avenidas,
Se suicida aos montes,
como se faltasse algo em suas vidas!

Ah, Deus, mas assim como eu,
Por elas, nunca morra de amores!
Livres estão eles, nas ruas da corte
Travestindo-se homens de bem pelas esquinas

E nós nos lamentando no asfalto
Pedindo esmolas e gritando alto
À platéia louca e ensandecida

Que pisa nas flores e atravessa o palco
Cospem em nossa cara, em nossa casa,
É um teatro
No qual renegam suas próprias vidas.

E é como eu sempre digo, meus amigos,
A vida é um tanto injusta com os vivos:
Todas as dores deste mundo são minhas.

* Clima natalino...?

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