quinta-feira, 15 de dezembro de 2005

XI - Crônica poética de mesa de bar


Te reconheci pelo jeito de andar
Tens os mesmos sonhos enrustidos
A mesma inconstância de odiar

- Você também,meu caro,vejo através dos teus olhos
Vamos fingir que podemos confiar um no outro?
Prometo dar a ti mais uma dose de ódio

Senta à mesa
Pede mais um drink!

Tens o mesmo papo encardido
- Você que sabe,meu amor,vejo apenas o que não é sentido
Finjo que por esses olhos nada passa
Prometo que neste coração nada é escondido

- Junte-se ao grupo
Tome um porre hoje comigo!

Entre um olhar e outro,caem as máscaras
Um sorriso largo que ofende
Um tapa na cara que abraça
Somos todos iguais perante a verdade
Decadentes,dementes
Deprimentes
Caras-metades vãs e inconsequentes.

O papo tá muito divertido,
mas cadê as palavras?
Onde foram parar os clichês nojentos
Estão eles entregues às traças?

- Não me diga!Que estranha essa vida
Sente,diga olá e me ofereça uma bebida

E eis que,em meio a aplausos,surge nosso eu lírico irônico
Sorrindo e cuspindo em nossos ouvidos
O mesmo discurso lacônico
As mesmas palavras embutidas em goles de uísque
Saem os vermes enterrados na pele
Saem os monstros que mantém embutidos
Nossos desejos mais inusitados
Tarados,safados
Pervertidos
- Enojados?
Que fiquem para trás os infelizes!

Já chega de devaneios
Vamos aos assuntos batidos
- Como anda esse governo?
Fica aí,que o papo vai ficar bonito!

Teimosia mata,meu senhor
- Acenderei só mais um cigarro!

As mãos se entrelaçam,bêbadas,perdidas
Promessas novas são rebocos
De mais promessas não-cumpridas
D´outros dias que passaram
Sob o mesmo luar
Igualmente sem par
Sem ar
- Descansar?
Isso é para os iniciantes
Já sou o teto desse bar!

- Chega mais que já estou cheio!
Aonde é que essa conversa vai terminar?
Não sei de vocês,mas a minha cabeça já está doendo
- Vai acabar em motel,meu amor
A noite segue enquanto houver luar!

- Deus que perdoe nossa total deprimência
Mas eu me conheço bem demais para acreditar
Que saio daqui vivo dessa vez
Que vou achar o caminho de volta pra casa...

Sãos e salvos num debate às avessas
Onde todos gritam e fingem escutar
Ninguém está a salvo,ninguém é inocente
E não é incoerente desconhecer o ombro em que se vai chorar
E,tal qual velhos amigos,
Todos se ajudam e se dão motivos para um ao outro chorar
Bastam as respostas disconexas
E as vidas são expostas indefesas
e decoram o ambiente
tenebroso e decadente de mais uma mesa de bar.

José Augusto Mendes Lobato

15/12/05

4 comentários:

Luiz Mário Brotherhood disse...

caralho guto.

realmente...
tá ótimo essa poesia cara,
e rapa
tá muito do caralho

eras
parabéns mesmo.

Leo Nóvoa disse...

dukaralho gutao
uAHEuhaeuuhuiui



essa filosofia me soa familiar... acredito que pra ti tb...

iHAEuhaeuhAUEIhaUehAUIEh


flw abraço

henrique disse...

nossa
sua poesia é muito boa mesmo
fiquei feliz :)
parabéns^^
continue assim ou melhor:
melhore sempre :)

Anônimo disse...

Como sempre,tá maravilhoso;mas ás vezes fico imaginando como seria legal se escrevesses algo feliz!Por que não tentas?Tenho certeza que vai dar certo,e se não der de primeira,é só tentar,afinal,eu LEMBRO da época em que só escrevias em inglês!Hehehehe,e olha agora como teus textos são ótimos em português!Te amoo ;O*