domingo, 3 de janeiro de 2010

Colours #1


E foi assim, sem mais nem menos:
Saiu de casa batendo as portas,
Levou à mente a cobrança insuportável,
As vontades incontroláveis
E os problemas cotidianos
Como que cobrando-lhes algo mensurável;

Era uma noite memorável, aquela:
Passou o ano inteiro atrás de respostas,
Ele fingiu tê-las, mas sempre deu de ombros
Sem dar as costas, deixou-as no ar
E as intermináveis chatices cotidianas
Fizeram o favor de deixá-lo insuportável

Mas o pior era aquela mansidão, aquele ar afável
Que tanto disfarçava os dissabores e lástimas
O pior era esperar resposta,
Como se tanta dor fosse assim, palpável
E visível em pequenas – e falsas – lágrimas.

Acordou sobressaltado, em agonia,
Levantou da cama com o coração à boca
Veio à mente a imagem insuportável,
A distância que jamais amargaria,
A certeza que tinha e teria
Garantindo-lhe que era algo interminável;

Foi uma madrugada memorável, aquela:
Passou a vida inteira em linhas óbvias,
Agora sabia não tê-las à frente,
Deu de ombros,
Sem resmungos à porta, deixou-se levar
E a inesperada tristeza cotidiana
Fez o favor de prová-lo vil e frágil

Talvez tanta sofreguidão, tamanho arrastar de palavras
Não seja mais para disfarçar tensões tão pungentes:
Seja, na verdade, para provar belos e ardentes
Dissabores assim, palpáveis
E visíveis em eternas – e jovens – mãos tão bem atadas.

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