segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Quelque beauté


Il y a quelque beauté
en la voix de ces qu´ont perdu leurs idées
comme s´ils ne voyaient eux-mêmes
pour decouvrir des sons perdus dans leurs yeux

C´est dommage de voir tes rêves faiblir
Perdre leur sens, leur raison d´existir
comme si tout à qui vous restez en pensant
Était seulement, pas vraiment, une partie

D´un monde qui change, mais ne tourne plus
Qui transforme tes idées, te fait perdre tens sens, tes plaisirs
Il y a quelque richesse, quelque beauté, quelque poésie
dans ce qui fait artificielle ce qu´on appelle une vie.

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Head over heels

Ele tenta centrar a cabeça,
sei lá - dar as voltas por aí que sempre soube dar:
descansar, quem sabe, às vezes,
faz (ou fez) sentido: dormir, nada-fazer,
sorrir, pensar;

Mas quem dera bastasse isso;
a voz que fala, em tom omisso,
que está na hora de acordar,
logo lhe vem à mente:
passa o sono, acorda!,
já foi-se o tempo de deitar;

Ele escrevia romances,
sem sentir medo, sem vê-los no espelho,
sem viver nenhum,
só lhe bastava ver tudo aquilo passar;
Era tal qual filme escrito,
verso e rima pobre, canção sublime
do dia-a-dia que doía não poder passar.

A vida era tão diferente:
ele tentava esquecer dos problemas,
dos contratempos, das asneiras cotidianas
- seu mundo não era das coisas mundanas... -,
mas há de se convir, é preciso viver aos poucos,

O há-de-vir nos é, sempre, pequeno,
é promessa e veneno
que envenena ao longo dos anos,
que nos faz menos loucos;

Bem que ele tenta virar a mesa,
jogar tudo pro alto e apostar errado
é só arriscar - fazer as besteiras, dar o que falar;
mas os tempos são outros, agora é certo,
está centrado, estático, correto,

Tão amarrado que parece homem feito,
tomou jeito,
e, agora, fica velho;

Quem dera estivesse satisfeito,
no peito, sabe que é tudo mentira,
quase-vida sem cores, amores,
romances e versos.

terça-feira, 2 de setembro de 2008

Cálice otário *

Cálice otário, pinga essa seiva:
essa rima sem gosto,
essa pinga sem efeito;

Pinga sobre teus fiéis o sangue imundo e espesso
que flui no chão banhado a ouro
de templos rebocados em fé e gesso;

Beija as mãos calejadas de um demônio,
como beija os lábios do anjo caído que encarnas:
reverte essa tua renda suja e sacra
a surtos selvagens e orgias comungadas:

À santidade de tantas putas inocentes!

Cálice otário, pinga essa seiva:
essa rima sem gosto,
essa pinga sem efeito;

Que queimem na fogueira esses teus livros
com mentiras sedutoras de um paraíso desconstruído
chega de promessas infundadas,
almas atordoadas, obras inacabadas e santos pervetidos;

Onde tua hóstia sagrada promete e não cumpre,
e atola o mundo de loucos enrustidos,
tuas bordas cospem lágrimas, cálice:

Que se encham tuas ancas das moedas crentes dos que te seguem,
de mãos juntas, entoando ladainhas que teatralizam a farsa
nessa via crucis diária, na autoflagelação que o torpor salva:

O sangue é um troféu vívido
que a mostra tua humanidade enquanto fase larvária!

É, é mesmo um longo caminho, cálice
e, enquanto joelhos dilacerados se protegem mais tarde no vinho que guardas,
embebido na tua baba
e bebido por teu Deus,
estaremos nós, homens comuns, aqui, servindo a ti e por ti sofrendo,
por algo que, no fundo, nos convence,
mas que não existe, não subsiste e que jamais nos pertenceu:

Cálice otário, pinga essa lástima:
essa lágrima amarga,
essa angústia eternamente incrustada em nosso peito.

* Por Camila Barbalho e Guto Lobato - meados de outubro de 2005



(Meu Deus... uma raridade achada aqui, nos arquivos do computador. Escrita de brincadeira - é bom ressaltar -, numa madrugada passada a esmo em alguma janela de bate-papo do MSN Messenger. Quando éramos jovens, e a poética nem sempre caminhava junto a nossas crenças. Quando era mais fácil ter um eu-lírico dúbio, polêmico e algo "maldito")

domingo, 31 de agosto de 2008

Downtown



Quando transferida à pequenez de versos,
à simplicidade de rimas,
deixa de ser concreto, cimento, rua, cidade;
vira palco de velhas histórias
que reavivam a tez de noites cálidas e cristalinas

Conforme os olhos se acostumam à luz
e, de tão opacas, as curvas borram, contorcem e fingem,
deixa ela de ser presente, passado, futurismo,
afunda a si e às suas próprias memórias
num quase-tempo de espaços vagos que, aqui, colidem,
vagos e, por pouco, aparentes.

segunda-feira, 25 de agosto de 2008

Blank Page

If they need to wave their hands
to listen to the tunes in their heads
and all they see are shadows of greater trends
which always go back and forth,
in a blank page with thousands of phrases
it hurts to see how they trust in their God there above,
but how they all end up alone in the end;

And if they need to write it down
instead of shouting it on the walls
something´s clearly wrong with the air they breathe;
and the ones they pretend to be:
their wasted faces glaring our hidden traces
it hurts to see how someone can be mistaken
but how, in the end, someone will always believe;

Guess i´ll be just able,
to end up entire
while you´re on aboard
trapped in the wire

Guess i´ll be feeling fine
just not to be alive,
while you crawl around,
round n´round,
with eyes and hands all tied.

If they need to have some ground to step on,
to walk on full of rules in their heads
to have some inner strenght that´ll always be there
but all they see´s that when they wake up
it´s gonna be always the same thing
a blank page full of senseless phrases:
it hurts to see how they trust in their intelligence, there above,
but meanwhile, everyone´s just so out of sense!

If their greed must be a shattering glass
and all the pieces are all right there, in your faces
it hurts to see how faith and hope rest all enthroned
but listen to you worst enemy:

Ain´t life good enough to live alone?

Guess i´ll be a hero
to lay here without a smile
While you all look at me
thinking of how i ain´t worthwhile;

Guess i know it´s a high ecstasy
to disappear without a trace
While you all just live
Looking for an empty space to breathe.

domingo, 3 de agosto de 2008

Vieillissement


Ainda que esteja em silêncio, diz mais do que muitos.
Diz, pois em seus olhos há a tristeza de mil universos,
a pobreza de rimas e versos envelhecidos pelo desuso;

Ainda que a fraqueza de seus gestos denuncie embriaguez,
seduz tê-lo ao lado e contemplar a acidez dos tempos,
pois em suas frases de aparente pequenez,
há o ódio e a clareza de mares revoltos,
absortos em uma luta própria com a insensatez dos ventos;

Quando ele admitir ter, em seus ídolos imortais, um falso alento,
diga para ele "que ainda há muita beleza nesse mundo:
nem tudo já lhe foi exposto!":
Provavelmente, responder-te-á que não são necessários disfarces
Quando o espelho, por si só, já reflete duas faces
de um mesmo homem mudo, frágil, descrente,
quase um mundo, vivo ou morto - ou aparente -;

Ele, mesmo assim, fala em silêncio o que muitos pensam
mas não têm coragem de dizer;
Pois em sua prosa há tristeza, mas, também, argumento que a enriqueça
e renegue a fraqueza de nossos prazeres intermitentes,
nossa ânsia de bem-viver!

Ainda que a tez de suas rugas denuncie atraso e passadismo,
tenham certeza: ele afirma, a quem quer que seja,
que o futuro é tão certo, e o entre-atos tão jocoso e febril,
que nada adiante fingir não ver, nele, um reflexo,
um convite forçoso e algo poético à evolução humana,
tão torpe, necessária, involuntária e senil.

segunda-feira, 21 de julho de 2008

Laissez le vôtre

Sob uma perspectiva recente,
vejo, vi e veria mil vezes o quanto não te disse
O quanto sofri e, às vezes, mascarei,
quantas vezes eu deixei
que tu andasses, caminhasses, caísses

Mas sem te proteger, eu esperei,
sob olhares às vezes intransigentes,
O que eu perdi ou ganhei assim, não sei,
quantas vezes disse e não pensei
que respondesses, sentisses, reconhecesses

Mas sempre o deixastes por ver!
Esperou tanto de minha inteligência,
sob um viés de subjetividade difusa, opaca
brilhastes,
e eu fiquei aqui, vendo,
eu vejo e vi e entendo,
que tanto brilho, tanta normalidade
tanta veracidade não era para ser;

Toda essa beleza que engana entrou pela minha porta,
e hoje, amanheceu sem estar na cama;

Toda essa leveza que meu corpo viu aqui nua, exposta,
hoje amanheceu bem longe da alma que a completa,
das palavras que a ferem e das mentiras que ela ama.

domingo, 13 de julho de 2008

Flies

They´re all melt in silence,
you wave your hands round and round
but all you catch are shapeless shades of tears

This warm summer´s breath,
is said to be driving everyone mad
but this room´s so quiet, i guess there´s nothing like fear

God knows how i´ve tried to hold you tight,
and seize the day:
I guess they´re leading our way...

So you´re searching for these flies at night
but they´re all already dead;
You´re dreaming of those blackened skies
but they´re all already red.

They step into violence,
kill each other with hands untied
but all they win´s a blood-stained hand of fate

The lights have been shut,
I´ve seen many faces of God,
and them all hurt and lead to the same disgrace

No one knows where to hide, ´cos we´re in the tide
tied to some selfish plan:
I guess everyone should just sit and wait...

Believe you got reasons to fight, but
clean up the blood in your hands;
You dream of souless devils, but,
look in the mirror, my friend.

sexta-feira, 11 de julho de 2008

18h30, 30ºc


Uma cidade, dois quartos;
o cansaço de um céu escuro e quente
Um sol que insiste em se pôr tarde
uma noite que insiste em se fazer ausente

Dois bares à frente, nenhuma vontade;
Dois copos, um vazio, outro transborda
Um trânsito louco, perdido, duas pistas
um tráfego berra, rouco, os sinais calam
Mais uma nuvem de chuva que se aproxima.

Duas vagas, uma mesa, três cadeiras em volta;
Um céu azulado, dois passos e um atrás
Uns acordes dissonantes, incontáveis vozes
Uma mão flutua, entre tantos poucos amantes

Uma dança, dois passos nunca aprendidos;
Duas voltas para casa, a mesa lá, teimosa, fria
Uma garoa que nunca vai, a música lá fora
o silêncio aqui dentro,
que cala, consente, desafia;

Dez andares de escada, uma roupa e mais nada,
duas chaves e um carro, guardado,
Uma noite sufocante, um calor gritante,
dois berros abafados

Uma avenida, duas pistas, um cruzamento;
Outra nuvem de chuva, um sinal quebrado (verde)
Um cigarro, dois vidros baixos, um ponto cego
Dois homens armados, um grito, um sufoco, um berro

Dois silêncios, dois anoiteceres
vida e morte na cidade grande;

quinta-feira, 19 de junho de 2008

Sasom i en Spegel

Que cenas belas me trazes,
nesses pequenos punhados de sal e vento
teus dedos penetram, hoje, a surdez dos mares
e a loucura dos ares que enrubescem o tempo

E trazem, consigo, contigo, essa riqueza inerte
de sensações, anseios, devaneios e transvirtudes vagas,
essa poética algo melodiosa e frágil das águas revoltas e ondas cálidas
e da brisa febril que - diriam - tem algo de mágica,
esses cenários que trazes das velhas praias:

Paisagens férteis à alma,
mas que, por ti e por mim, são transformadas em dor e torpor físico.

Quais são os mistérios que mesmas vozes,
quando voltadas a nós, fazem tornar em medo:
Miragens, impressões, variáveis... hipóteses?
Ou será que as formas de uma quase-arte de fingir (ainda) nos é alimento?

Ao sabor de um andar de curtos passos, forçados,
formas pegadas de uma tal imagem de memória seletiva,
deixando para trás toda e qualquer invenção ou forte assertiva,
como se essa infância tardia, quase senil, lhe fosse qualidade,
como se de nada nos servissem tanta poética, tantas imagens:

É essa mistura de água, sal, areia e anacronismo
que, em ti e em mim, ganha vulgaridade
ultrapassa as barreiras e o indolor da subjetividade,
para, aqui, tornar-se alimento carnal aos prazeres do espírito.

quinta-feira, 12 de junho de 2008

Drop

Dizes a mim, Não tenhas pressa!,
tenhas calma, que é tão simples assim,
falar dos outros, falar de si,
fingir-se outro, mesmo que só o faças para conseguir dormir,

É tão polêmico, isso, tão experimental,
tenhas paciência - Quem diz agora, sim,
sabe que fingir-se louco é narcisismo pouco,
e, com tantas frases e esse ego solto,
pouco resta para dizeres a mim;

Vives por eles?, questionas depressa,
mas haja insistência para tanta voz me extrair,
quem sabe ninguém mais se recorde,
dessa voz que cantou em capela, sem acordes
ou dissonâncias, a noite quente e velha,
que me faz suar, cantarolar e sorrir...

A beleza inerte dessas bordas velhas,
desses sorrisos sujos e pequenas grandes vielas,
a planície esverdeada, quente, tropical, abafada,
como que cansada de me ver torcer por sua queda!

Dizes a mim, Não tenhas pressa!,
tenhas calma, que é tão simples assim,
reclamar de todos, e de alguns poucos que estejam por perto,
em brados sóbrios e polidos, repletos de arroubos filosóficos,
poemas bobos e sentimentos tórridos,
afinal, o que falar se ainda não há alternativa a fingir?

- Pois eu digo a todos, Vão à merda!,
com certo ar jovial e a alma, essa sim reluzente,
porque essa sujeira, essa velhice, essa poeira,
já não é mais guardada por ninguém,
já não é parte de ninguém além,
parte de um além de ti e de mim.

sexta-feira, 6 de junho de 2008

O avesso do avesso do avesso do avesso

Dizes a mim que perdestes a subjetividade,
como se alguém a houvesse arrancado de tuas mãos à força,
como se tudo o que te fosse cotidiano não servisse à mente,
e, sim, fosse apenas remendo de uma redoma fosca,
dona de um inegável vazio repleto de assertivas e verdades intermitentes;

Brados aos quatro ventos não criarão, em ti, individualidade:
nesses gestos e trejeitos que a ti são impostos, não há existência,
como não há qualquer retórica, tampouco razão, reflexão ou debate,
resta-nos seguir adiante e, mergulhados em rios de objetividade,
traçar frases prontas em linguagem chula, como que celebrando a própria demência;

Tudo porque, ao contrário do que dizes, não perdestes, em momento algum, qualquer singularidade.
O que vives e finges vale poucas linhas, e as linhas de tua vida são pura modernidade:
retilíneas, medíocres, frágeis, eternas e, no sentido oposto, fugidias, quase que imersas em sua própria complexidade;

segunda-feira, 12 de maio de 2008

Soothin´


- Dizes que, com o tempo, tudo torna-se inércia,
que a passagem do tempo é leito
de sucessões e repetições dos mesmos erros:
mas, em algum tempo, haverá tempo
para se pensar sobre o torpor, a dor,
o descaminho e o (des)respeito?

- Não, pois hás de lembrar que, de falhos,
tornamo-nos meros contempladores,
como se algo nos livrasse de qualquer moral
E o que, outrora, chamávamos de valores,
agora são instintos juvenis de uma febre passional.

- Mas, se o que cultivas dentro de ti,
um dia chegasse às raízes das estórias
e fizesse, de todos, pequenos heróis em suas memórias
o que seria da melancolia, da frieza, da maldade,
senão hipótese?

- Nada, pois há algo de muito podre em tuas entranhas,
e, mesmo que negues, há demagogia em tuas assertivas,
hás de aprender, meu amigo, que não há beleza na revolta;
pelo contrário, há demência, loucura, passadismo, fantasia:
Hás de aprender que, de tão pensantes e sonhadores,
tornamo-nos instrumentos da pequenez de um grande opositor passivo.

- Deus?

(...)

segunda-feira, 21 de abril de 2008

Changement


Há certa beleza
em tanto silêncio,
em tanta inocência,
tamanha decência,
do acaso de poucos,
do interesse de muitos,
da censura dos loucos,
da riqueza dos eleitos
e pobreza dos súditos;

É de pouca fineza
entreter-se ao ver
tanta gente sem culpa,
aos poucos, perder
o senso de luta,
a certeza da justiça,
o idealismo, as frases prontas,
fugirem à mente,
serem dominados pela preguiça;

Há um conformismo, sim,
que consome as entranhas,
e as trivialidades cotidianas
tornam-se sustos,
e as paisagens urbanas,
com suas cores e formas desumanas,
tornam-se robustos ideais de civilização;

Quando não há mais força,
tampouco desejos,
E, mesmo assim, todos correm,
é sinal de que, de livres,
só estão os poucos que morrem,
e os loucos que colhem as sementes do auto-desprezo.

quinta-feira, 10 de abril de 2008

About a girl

Foi embora assim, frágil, sem proteção,
levou nas mãos o abrigo; nas costas, um sonho contido,
e, os punhos cerrados, atravessou pequenos trilhos,
e, assim, deu um rumo aos seus sentidos,
para seu ir e vir aos mesmos caminhos -
ou os mesmos destinos?, talvez ainda não;

Cruzou ruas sem sinais, sinais sem esquinas,
o sol, lá em cima fervia, as solas dos pés, sofridas;
dor nas costas e os graus subindo, contáveis noites maldormidas,
Catou, no chão, folhas encardidas, fez delas sua casa,
para que seu ir e vir tivesse, ao menos, uma pausa
mas, cansar e fingir, talvez ainda não;

Mas, toda aquela loucura que via em fotos,
aqueles sonhos, aquelas luzes, aquela correria
não lhe conferiam a beleza que irradia nas imagens, estáticas (frias)
caminhou, caminhou, caminhou, nada encontrou
e, pela primeira vez, deixou-se dormir no chão.

Depois de pedir e, falsa, sorrir, veio a ajuda -
a chuva vinha e, à noite, lhe maltratava o pulmão,
aqueles corpos difusos, pílulas e becos intrusos,
lhe deram novo gás e, mesmo feridos,
os poros de seu corpo retraído,
absorveram as dores da mente e do coração;

Mas, de tanto ir e vir, voltou a se sentir pequena,
não via beleza no heroísmo que impera, no asfalto que fervilha,
nos sinais comedidos, nas curvas, carros e vivências amenas,
de tanto os passos medir, e, neles, confiar e ir
feriu os jovens sentidos e entregou-se:

Quem, outrora, pulso forte, atravessou o sertão,
largou as sacolas para o alto ao meio-dia,
e, novamente frágil, infantil, fria,
atravessou o linhão.

segunda-feira, 7 de abril de 2008

(Re)ciclo

Há quem diga que, pequenos, já o somos demais
E simples, retilíneos, que o sejamos nas entrelinhas,
mesmo que complexos nas mais velhas ladainhas
de contar nos dedos pequenos feitos e grandes projeções
(como se fossem - quem nos dera! - críticas, objeções);

Mediocridade, todos os sentem, mesmo que em acessos pífios
cerrados em punhos cansados, machucados de tanta insistência,
mesmo que estejam acostumados à mediocridade e à indecência
de assobiar grandes desejos que não tomam parte em outras vidas
(como se fossem - imagine - novas chances de entoar iguais canções);

Há quem insista em fugir do lugar-comum
e encontrar outros termos sóbrios para os mesmos fins
mesmo que nada consiga transferir-lhes o sentido,
e seja melhor contar segredos fingidos, inexistentes, pobres, enfim:

Sinceridade, todos a temem, mesmo que sob lençóis translúcidos,
cansados em punhos cerrados, feridos pela incoerência
de, mesmo que capazes de abrir os olhos e expor-nos ao amor e à condescendência
de atos fugidios, jamais farão, sequer, existências,
do que um dia não passou de hipótese vaga,
quase-formas opacas de pouca tez e consistência.

Tanta gente passa por aqui - às vezes anda, corre, se arrasta -,
mas nem por isso, de ver, crer e admirar por nós tornou-se digna;
É a mesma coisa, ser tão normal afronta e dói:
quem espera loucos e desvairados acotovelando-se nas esquinas
que o aguarde de olhos bem fechados e punhais nas mãos feridas:

Há quem diga que gente normal, boa sensível, já há demais,
e que não deixá-las em paz é mais é mais que uma velha sina:
É preciso ser oco, podre por dentro e, por fora, outro,
assim, há de ser pouco, muito pouco, e a elas, ser muito.

Tudo para que haja preconceitos, comparações e surdez,
tudo para que não haja mais vez de recriar e entoar os velhos motes em novos versos e rimas.

sábado, 29 de março de 2008

Postmodern

As linguagens enganam de tal forma
que qualquer noção de espaço e tempo, ora
medida aos berros e aos gritos
Agora é feita de sussurros e fingimentos
tão fúteis, pequenos remendos fugidios
de pequenos recortes em nosso escasso,
porém, mal-usado, tempo;
não é preciso meias-palavras ou outros termos
basta falar que elas, lentamente, mudaram
e sem a intenção de nos fazer segredo;

E, há pouco, alguém clamou,
que os muitos pequenos tropeços eram um presságio;
mas que aviso é este que nada indica?
(Aliás: alguém, hoje, ainda comunica?
Pois o que parece é que a língua sobrevive nos lábios,
mas, jamais, no papel e no bom senso);

E nos espaços contíguos de quem senta, lado a lado,
e sequer olha pros lados, como que esnobe e egocêntrico,
na verdade, há quem diga que tamanha vaidade
não passa de máscara e falsa sobridade
vestida às pressas para remendar o medo;

E, assim, as pessoas se enganam de tal forma,
que lhes parece falso admitir estar certo,
e ver que, de perto, as loucuras tão crônicas
das ruas, esquinas e cidades, megalômanas,
são o reflexo vivo de um futuro incerto,
porém, fadado ao cansaço:

Pois esperar, esperar, esperar, é o lema dos tempos modernos
e ninguém precisa de meias-palavras ou meios termos,
abstrações linguísticas, fingimentos ou sorrisos a esmo:
basta viver em um espaço-tempo (im)próprio, e nele, insistir
em dizer e fingir que, não,
não estamos loucos, pobres de espírito e indefesos.

quarta-feira, 26 de março de 2008

Half a page


Quite strange, but it´s raining on the inside
though the sky´s quite blank, and these words are claiming
but never echoing,
it´s such a shame, for our hands are all tied;

These are silent nights, but daylight´s never coming
in the gloowy corners of this damn room,
but it´s quite clear, they said it´s a path with no way out
but we´re all still believing
until the sounds of your moaning;

They say someone´s got to be leaving
to leave something better inside our minds,
so who´s to claim it shouldn´t be now
it could be tomorrow, next year, in another life

However, it´s the unwritten next page
of next day´s silent mournings that you´ll leave behind
while we´ll need to stand on the outside and breathe
forget it all, at least for tonight;

Quite strange, but no one expected it, for nowadays,
when nothing and no one seems to be alive in memories,
you´ve left someone, somewhere,
and though you´re not here or anywhere,
many will know you´ll be alive in everyone´s tears.

quarta-feira, 19 de março de 2008

So

There´s something, somehow charming,
in letting out the worst thing i´ve been feeding inside,
for no one knows how it´s such a shame for us
not to be ourselves, neither be you,
under this goddamn white light;

There´s smoke in the air, dirt on the ceiling,
This room´s much too gloomy to stand still and smile:
for do you ever feel so ashamed
not to be yourself, neither be him,
when you´re standing in here, under goddamn bright lights?

When everybody´s watching,
everyone´s a living scorched damned disgrace,
And while the curtains remain falling
These weak smiles turn into one hellish face;

There´s something, somehow, darling,
that´s unveiling your mask and leaving you blind
for everyone knows how such policy, such high hipocrisy´s
leading someone to its own loss,
leading someone to its own unreal pride.

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

Metrópole

Rua, sol, chuva, calor, garoa, frio
Gente, sirenes, sinais, silêncio, esporro, grito
Filas, metrôs, escadas, empurrões, catracas
Vinho, hambúrguer, cerveja, sorvete, água com gás, cachaça;
Portas, elevadores, ranger de dentes, chicletes, café
Ternos, camisolas, bermudas, moletons, casacos e gravatas
Gente, mares de gente, pedaços de gente, gente cansada
Gente louca, gente sofrida, gente fodida, louca, amargurada;
Yuppies, vendidos, trabalhadores, camelôs, desempregados
Pedintes, bandidos, tecnólogos, doutores, gênios, concursados
Inscrições, requerimentos, ofícios, e-mails, cartas, formulários
Berros, sussurros, espirros, tosses, narizes de sangue e catarro;
Gente apressada, gente mal-amada, gente amassada, gente torcida
Gente estragada, gente enrugada, gente lembrada, gente esquecida
Gente enforcada, gente enforcada, gente largada, gente mal-dormida
Gente sensata, gente forçada, gente aguada, gente quase-vivida.

quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

Live

You´d better
feel amused just to be alive and lie
under a sunny day,
not slipping through the shadows of a rainy night

Because everyone in here´s used to go by
those empty days of patient
awakenings and whispers
and unhealing promisses of a good night

But no one´s sleeping
For it´s such a long way down if you´re tired
You´ve got to shake hands, and swim in the quicksand
Until they notice you´ve done all but lied

And smiled in the face of those who can´t believe
you´re still believing.

quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

A Seat

There you are,
swinging and running your fingers between trees,
you´re breathing slowly, the path is tightly
tied to the ghosts of your burned wings

Through hours of silence,
i heard your voice outstand the screams
you´re bringing down every concept
every part of you i had in me

Escaping, sliding through my hands
Your skin cracking,
demanding hours of uncanny dreams
This is your own river
You´re lost in there,
and don´t you know, it´s a long way to go
Until we meet something worth the price

Of these endless boundaries!

You took that car,
and went running through wastelands
you´re crying silently, just so defenseless
i could even wonder why you breath

But here you surprise us
you´re back in there with no good news
and they´ll wait for you
just until this dying soul is healed
inside the shadows of your decadent blues

Escaping, sliding down to your knees
Your smile cracking,
demanding hours of uncanny weeps
This is your only fear
You´re lost in there,
and don´t you know, it´s a long way to go
Until you fall asleep and dare

To feel hatred´s silent ecstasy.

terça-feira, 15 de janeiro de 2008

Liga

Isto, sim, é o grito reincidente dos loucos
Isto, sim, é a tal poesia para poucos;

Pois há versos que se tornam verdades,
curvas, esquinas, arroubos de insanidade
que, pouco a pouco, fazem questionar
as próprias verdades de quem as cria,
as recria, as procria, as esfria,

E faz, das rimas, pequenas beldades
manipuladas, tocadas, violadas, vendidas
e, pouco a pouco, unem-se e fazem feridas
nos versos pudicos de quem as inventa
as emenda, as encomenda, fingidas,

Essa, sim, é a cólera berrante dos roucos
Essa, sim, é a tal da poesia para loucos;

Poesia que, certamente, não deixa este plano
de metáforas, meias-palavras e doces eufemismos
e assim, de hipótese, é mais um ato de altruísmo
ser falsa, medíocre, safada, fugidia,

Se há coragem em seu peito, fuja de qualquer poesia
pois ela nos pega, nos amassa, nos contorce
toda a objetividade nos foge,
e, pouco a pouco, nos faz, de novo jovens,
nos arranca o que há de homens e faz, da carne, hipótese
do mundo, martírio
da vida, pecado:

E, assim, pouco a pouco, regredimos nós à fantasia!