segunda-feira, 7 de abril de 2008

(Re)ciclo

Há quem diga que, pequenos, já o somos demais
E simples, retilíneos, que o sejamos nas entrelinhas,
mesmo que complexos nas mais velhas ladainhas
de contar nos dedos pequenos feitos e grandes projeções
(como se fossem - quem nos dera! - críticas, objeções);

Mediocridade, todos os sentem, mesmo que em acessos pífios
cerrados em punhos cansados, machucados de tanta insistência,
mesmo que estejam acostumados à mediocridade e à indecência
de assobiar grandes desejos que não tomam parte em outras vidas
(como se fossem - imagine - novas chances de entoar iguais canções);

Há quem insista em fugir do lugar-comum
e encontrar outros termos sóbrios para os mesmos fins
mesmo que nada consiga transferir-lhes o sentido,
e seja melhor contar segredos fingidos, inexistentes, pobres, enfim:

Sinceridade, todos a temem, mesmo que sob lençóis translúcidos,
cansados em punhos cerrados, feridos pela incoerência
de, mesmo que capazes de abrir os olhos e expor-nos ao amor e à condescendência
de atos fugidios, jamais farão, sequer, existências,
do que um dia não passou de hipótese vaga,
quase-formas opacas de pouca tez e consistência.

Tanta gente passa por aqui - às vezes anda, corre, se arrasta -,
mas nem por isso, de ver, crer e admirar por nós tornou-se digna;
É a mesma coisa, ser tão normal afronta e dói:
quem espera loucos e desvairados acotovelando-se nas esquinas
que o aguarde de olhos bem fechados e punhais nas mãos feridas:

Há quem diga que gente normal, boa sensível, já há demais,
e que não deixá-las em paz é mais é mais que uma velha sina:
É preciso ser oco, podre por dentro e, por fora, outro,
assim, há de ser pouco, muito pouco, e a elas, ser muito.

Tudo para que haja preconceitos, comparações e surdez,
tudo para que não haja mais vez de recriar e entoar os velhos motes em novos versos e rimas.

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