As linguagens enganam de tal forma
que qualquer noção de espaço e tempo, ora
medida aos berros e aos gritos
Agora é feita de sussurros e fingimentos
tão fúteis, pequenos remendos fugidios
de pequenos recortes em nosso escasso,
porém, mal-usado, tempo;
não é preciso meias-palavras ou outros termos
basta falar que elas, lentamente, mudaram
e sem a intenção de nos fazer segredo;
E, há pouco, alguém clamou,
que os muitos pequenos tropeços eram um presságio;
mas que aviso é este que nada indica?
(Aliás: alguém, hoje, ainda comunica?
Pois o que parece é que a língua sobrevive nos lábios,
mas, jamais, no papel e no bom senso);
E nos espaços contíguos de quem senta, lado a lado,
e sequer olha pros lados, como que esnobe e egocêntrico,
na verdade, há quem diga que tamanha vaidade
não passa de máscara e falsa sobridade
vestida às pressas para remendar o medo;
E, assim, as pessoas se enganam de tal forma,
que lhes parece falso admitir estar certo,
e ver que, de perto, as loucuras tão crônicas
das ruas, esquinas e cidades, megalômanas,
são o reflexo vivo de um futuro incerto,
porém, fadado ao cansaço:
Pois esperar, esperar, esperar, é o lema dos tempos modernos
e ninguém precisa de meias-palavras ou meios termos,
abstrações linguísticas, fingimentos ou sorrisos a esmo:
basta viver em um espaço-tempo (im)próprio, e nele, insistir
em dizer e fingir que, não,
não estamos loucos, pobres de espírito e indefesos.
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