quarta-feira, 16 de agosto de 2006

Floreios.

Acorda, e mais um dia vivido a esmo
Lhe cede os braços, tão abertos como nunca puderam estar
Sorri para o mundo, e sente a dor no peito
Menino sonhador esse, que começa a andar
E a, só, chegar aqui.

Insiste em enrustir a sorte que tem com erros
Não mede cansaços para, lento e vil, entregar-
Se alguém neste mundo desconhece o desalento
De amar sozinho, isento de culpas ou planos,
E, no fim do dia, cair aos prantos e se jogar,

Que atire a primeira pedra!
E me diga na cara que os tapas que levo são o virar do vento
E não as marés violentas que arrancam minhas entranhas
E me ferem o corpo, a alma e o peito
Fazendo de uma mesa de bar sujo leito
Agora, com todo o respeito, me deixa aqui, sozinho,
Deixa meu estar!

A porta que, essa luz, repudia, já me foi um espelho
Onde retorcido sentia o ardor da febre a contorcer
Neste antro sujismundo de artistas pobres e infelizes
Onde, com seus pincéis e meretrizes
Passam as noites a declamar
O ódio pelo mesmo mundo de injustiças.

Fogem eles dos assuntos com a mesma destreza?
A arte de iludir é grande habilidade
Confunde o martírio de ser só com a inábil realeza
De ser, para si, um perigo e uma metade
A, só, ruir.

E que atire a décima quinta pedra
Quem não conhece bem a dor táctil de amar
E não tem, em meio às tripas, pulsante seio
Que assim, sem sangue ou floreios
Sofre inábil, tal qual coração jovem,
sem sequer poder lutar!
Agora, com todo o respeito, me dê um motivo para me sentir aceito
Pelo menos você,
Me deixa calar!

José Augusto Mendes Lobato 16/08/06

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