Essa cidade tem um tom, um som, que pertence a ela e a ninguém mais,
uma profusão de cor e decadência, enclausurada no asfalto.
Há uma dor que cresce e vende-se pelos becos e pelas esquinas:
essa cidade entende-se abismo de novos tons e velhas rimas.
O calor não arde, o suor não escorre;
Os gritos não saem, o vento percorre
seus traços vãos, pelas vãs escadarias,
arranha-céus e cortiços que sobrepõem-se nas avenidas.
O temor que cala e toda essa tensão contida,
estão dançando de mãos dadas, ao som da mesma batida.
São tantos ritmos vencidos pelos carnavais e pelas buzinas
Que desses homens tão metálicos, só saem notas repetidas
Essa gente inerte e sem vontade vive à espera de quais dias
Senão as mesmas noites monótonas, tão lisérgicas e premeditas?
Há uma frustração latente que vence as frustradas tentativas
De tantos homens infelizes que buscam retornar à vida.
E a todos os leitos de morte, as sirenes e a histeria:
Aos homens de bem, a mais sincera indiferença,
São pedaços reunidos de uma história encardida:
Essa cidade é o limbo de toda alma em decadência
E o vivo espelho da demência de uma geração vendida.
Essa cidade tem um tom, um som, que pertence a ela e a ninguém mais.
Uma profusão de bolor, artificialidade e ódio em suas entranhas.
Há uma tristeza que resiste ao café e à aspirina
Essa cidade é abismo de homens bons
imersos em suas sinas e artimanhas.
O peito não arde, a ferrugem corrói;
O sangue coagula, a mente não destrói.
São poucos os sãos a se jogar pelas escadarias
que separam homens de bem,
de suas impuras mortes vivas.
O amor que parte e arrepia a espinha,
é o furor e o alarde das mais sós noites frias.
E sob essas noites tão cálidas e as manhãs tão escurecidas dormi em teu ombro, meu amor, nessa cidade de pobres rimas.
08/12 - Inspiração tirada do filme homônimo de David Lynch, e de umas certas luzes natalinas brilhando no horizonte da cidade. Prometo que essa vai ser a minha última incursão no tema eu-odeio-cidades ;)
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