domingo, 29 de janeiro de 2006

XXVI - Desconstrutivo


Abri teus olhos e tentei jurar para mim mesmo
Que não ia mais me meter,que ia deixar você dar de cara no espelho
E se descobrir vazia,oca,mais uma massa viva de apatia
Ia deixar teus passos se encontrarem com os meus
E talvez,por acaso,perderem a rota
Ia fazer dos teus sorrisos dor.

Abri teus olhos e não me diga que não entendeu
Prometi que tudo seria eterno enquanto durasse
Acabei por descobrir que nosso eterno de inverdades
Não existiu nunca,nem sequer foi imaginado
Talvez tenha sido tudo inventado
Fiz de toda minha inocência um mesmo amor
Apodrecer.

Não,não foi abortado
Muito menos terminado
Foi apenas um teatro
Que,em péssima atuação,conseguistes destruir

Foi bom,sim,mas enquanto passado
Agora é a vergonha que engulo,calado
Essa ridiculeza que é ter te engolido em seco
Dado a cara a tapa sem enfrentar o medo
De estar de mãos dadas contigo e não ver,ao meu lado,ninguém.

José Augusto Mendes Lobato 29/01/06

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Vazio criativo.
O "Disappear" nunca soou tão verossímil. ¬¬

quarta-feira, 18 de janeiro de 2006

XXV - Monocromismo


Não há chance para cansaço
O cansaço é o coma do meu mundo
É meu estereótipo de vagabundo
Escondendo todo o inconformismo e beleza
De simplesmente não aguentar mais
Ver tudo,não ter nada e nem sonhar o ter

Andamos a passos largos,mas não vamos a lugar algum
O que fingimos ser saudosismo
É a sensação de não ter o presente nas mãos
Nem sequer uma razão ou outra escolha
Senão mentir para si mesmo

Nem mesmo o silêncio tem um eco
Os dias são apenas horas jogadas,sem foco
Aleatórias como as palavras que temos que ouvir
Tristes,afogadas,como os sonhos

Mesmo assim não estamos prontos para ver tua máscara cair.
Essa verdade que cura,machuca.
Essa realidade tão impura nos confunde.

Preferimos nos esconder atrás dos punhos cerrados
Dos corpos uniformizados
Das guerras e do sangue seco estancado
Nesses corações sem força para bater

Preferimos ter nas suposições,fatos
Sermos monocromizados
E resmungarmos calados
Sobre a deprimência humana

Enquanto colaboramos com nosso próprio conformismo
Borrando rostos difusos nos retratos
E perdendo nossos passos
No caminho inconfundível da autodestruição.

José Augusto Mendes Lobato 18/01/06

sábado, 14 de janeiro de 2006

XXIV - Deriva


Então chega a hora de um ponto final
Um pouco de gritaria cortando o silêncio
Não fosse o que eu próprio conspiro
Talvez fingisse uma tal inocência
Que não enxergo dentro de mim
Talvez sorrisse com naturalidade
E falasse mais o que não penso
Ou o que tento não pensar.
Ou o que tento não sentir.

Sim,eu por várias vezes tentei mudar
Tentei ser normal,tentei viver em paz
Tentei ver em problemas um quê de monotonia
Tentei me ver sorrindo,mas o reflexo no espelho
Me ataca,sorri descontraido,me desafia
A entender um pouco mais de mim

Mas não mudo,não dou razão,nem entendo
Brincando comigo mesmo,sempre sem rumo e desaprendendo
Sei que amanhã apenas farei um remendo
Nos sonhos e no futuro que mantenho à deriva.

Quem sabe mais do que uma tempestade
Não seja suficiente para despertar?
Vai ver nem um tapa na cara arranque esse sorriso
Essa máscara vagabunda talvez não caia com gritos
Mas sim com um simples "não" silencioso
Um choro meloso,real e contido

Tentei,às pressas,enxergar no ponto final
Uma razão para ouvir e ficar calado
Mas quem disse que eu me ouvi?

(José Augusto Mendes Lobato-14/01/05)

terça-feira, 10 de janeiro de 2006

XXIII - Reflexivo


E pensar que um dia já andei em passos marcados
Exclamei frases soltas que se completavam
Vi a simetria de todas as coisas que se anulavam
E pensar que tinha um sorriso travado na boca
Que exibia com todo o estardalhaço

Meio sonso,meio cansado de pensar
Inconformado por natureza com minha incapacidade de calar
Os outros...e que outros seriam esses não fosse eu
Para lhes dar um anti-modelo
Um dos piores pesadelos que a natureza lhes concebeu?

E pensar que um dia já fui objetivo
Mesmo quando escrevendo para mim mesmo
Lembrar de cada hora redigindo linhas e mais linhas de texto
Tentanto me dar consolo por ser tão ridículo
Tão errante e tão improdutivo
Já até fui compreensivo!
E pensar que um dia já levei tapas na cara
E os respondi com abraços...

Meio sem forças,cansado de me revoltar
Tentando andar de volta nos trilhos,pisando em falso
Dando impulso nos passos,tentando encurtar o caminho
Que tão bem conheço
Peço,aos berros,um espelho
Pra ver se tudo o que eu vejo à frente já não vi dentro de mim

E olha só que ironia
Um dia todos esses desgraçados,que agora dão risadas do meu desespero,
já me deram conselhos e me fizeram acreditar que,sim,
não devo seguir conselhos.
E pensar que já tive uma direção para onde arrastar meus pés
E só me resta agora esse chão batido para pisar

E pensar que o que tive foi medo
E não é que não soube os vencer?
Pois é...
Eu lutei,mas não consegui engolir a mim em seco
Eu gritei tanto para Deus!
Pedi para ele me mostrar o sentido de tudo que eu sinto
Recebi o silêncio em resposta
E assim,sem retóricas,
voltei para casa e fiquei deitado chorando baixinho.
Contando as lágrimas que secavam no lençol
Contemplando toda a solidão e toda a tristeza de ser apenas eu mesmo.

José Augusto Mendes Lobato 10/01/05

quinta-feira, 5 de janeiro de 2006

XXII - Desconquistas


São tantas horas vagas
Tantas noites a sós
E reuniões no domingo
E chás das cinco
Argumentados por um outro sem voz

Tanta frieza cansa
Os feriados passando batidos
As "crianças" são abortos enrustidos
Que um dia saíram de dentro de mim

Você é tão sensato
Respondendo sonso
Preenchendo a vaga
Que deixas

Sorrindo e gemendo calado
Deus e o mundo dando os braços
Você dando as costas
Afrontando o tempo e o espaço
Marcando os rostos a tapa
E a ferro e fogo

Desculpas vãs e inexatas
As mesmas palavras disfarçadas
Nessa boca suja,imunda
Esse papo não te sustenta;
O silêncio te afunda

Então o que fazer?
O que dizer?Melhor sofrer
Chorar nos lençóis
Que deixas

Batendo a porta,"está cansado"
- Vou lá na esquina,comprar um cigarro!
Pelo visto a fila estava braba
Não há espera entre as paredes de um quarto
Antes clamar por companhia
Marcando o rosto de tapas
E cheirando a uísque,chegando,
vens sorrindo e lavando as mãos,
dando um beijinho e deitando ao meu lado
Por cima do suor,da libido e do pecado
Mal sabe o espaço que a cada dia
Desconquistas em meu coração.

José Augusto Mendes Lobato 05/01/06

terça-feira, 3 de janeiro de 2006

XXI - Dias De Paz


Mudanças não vêm assim
Não ponha a culpa em ninguém
Não abrigue tanto ódio no peito
É apenas mais um dia após o outro,enfim

Não queira extrair palavras do silêncio
Nem tente tirar a mente do consenso
Não existem meios,entrelinhas ou desvios
Só há um caminho a ser seguido,enfim

Ouça os tiros ecoando pela parede do teu quarto
É teu espaço destroçado,invadido
E para que sair?
Deixa o sangue banhar tuas mãos e teus braços
Deixa estes teus olhos cansados
Enxergarem a paz antes de dormir

Não crie beleza em retratos borrados
Não lute contra a frieza nos olhos cansados
Não tente ver doenças numa realidade oportuna
Não ache na descrença uma redoma tão soturna

A luta é vã
Tente ser são
Diante de um espelho, que serás?
Para que abrir os olhos em guerra
Se podes descansar em paz?
Entrega teu corpo e tua alma
Ao ópio de viver são
Entregue ao descaso
E à alienação de dias de paz.

José Augusto Mendes Lobato 03/01/06

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Poesia insana,doentia.