Você percebe:
Ela nunca me olhou com bons olhos
Sempre se fez de boba, agora vem e senta no meu colo
Pedindo um ombro para lamentar sua vida
Não esquece
De citar o poder do acaso nosso,
E vem dançando, derrubando o copo
Embebendo meus lábios com as coxas ungidas
Como que se insinuando para um mundo louco
Que nem se dá ao trabalho de trocar olhares
E lhe abre as pernas, lhe dá paixões fugazes
Amanhã, acordará sozinha,
sem identidade, a mais nova celebridade
descabelada, gritando nas ruas, tadinha,
nua em pêlo.
Ela insiste em dizer que é assim mesmo, hoje em dia
Chega de conversa, mergulhe nos lençóis,
E venha me dizer o que lhe falta por aqui
Qual é a grande atração do filme de sua vida?
Senão fotos borradas
Taças quebradas
Aos pés dos fotógrafos
Debaixo da escada?!?
Manchetes de primeira página
Vidros peliculados
Lábios viscosos, vestidos vermelhos
Mãos afins nos seios
Família tensa, sorrisos à mesa
Pais estupefatos?!?
Você percebe:
Ela nunca olhou para si com bons olhos
Deitou em mil braços e, acaso veio,
Encontrou, entre eles, um otário
E provou a nós, demais e consequentes otários
Visionários da vida alheia
Não adianta reclamar de boca cheia!
O corpo é a alma do negócio
E a sorte já está desnuda na mesa.
José Augusto Mendes Lobato 17/07/06
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