Antes eu sentia como se sempre fosse nossa a primeira vez
E todas as curvas do teu corpo fizessem sentido
O toque denso das palavras deitando-se sobre nós
E a fumaça pairando no ar, dançassem sob mais um luar pervertido
Hoje eu sinto como se não fôssemos tão jovens
E, não fôssemos tão íntimos,
Sentiria-me mal de olhar no relógio e descobrir
Que nem mesmo essas horas te trouxeram de volta
E eu nem sei se te quero à porta
Sorrindo vil para o menino dentro de mim
É tão estranho!
Eu sei que esta vida não é nossa
E que suas escolhas não são minhas
Mas faço de minha voz uma nota
Um grito escondido atrás de mais uma porta
Que arrombamos, sorrindo
A cada dia mais pobre de almas
A cada dia menos vivos nos descobrindo.
Hoje já não me sinto jovem
E não me dói sentir a fumaça ser varrida pelo vento
E as palavras de outrora serem versos escritos na parede
E o luar morrer sob mais um céu urbano e modorrento
Amanhã darei as mãos para a morte
E descobrirei que o maior estranho que conheço sou eu mesmo
E que, em vinte anos, nunca tive a chance de chorar
Reclamar com as paredes por tanto silêncio e sossego
Antes sentia como se fosse sempre a última vez:
Eu não acredito!
Hoje eu me sinto um cara de sorte
Por ter o prazer de cuspir na tua cara e dizer o que sinto.
José Augusto Mendes Lobato 19/07/06
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