Acordou, da cama gritou para os pais:
Hoje vai ser um bom dia!
Saiu de casa, rodou, andou, deu voltas,
Encontrou uma gente de cara fechada,
Abraçou quem gostava,
Apertou as mãos, bateu algumas portas
Vendeu-se bem: menina esperta;
Mas, de novo, não ganhou nada.
Voltou pra casa cabisbaixa,
com a sensação de derrota;
chorou um pouco, trancou a porta,
depois voltou à sala,
Disse-lhes novamente:
Amanhã vai ser incrível!
Vou dormir, estou morta.
E assim foi mesmo:
No dia seguinte, estava na rua e viu as luzes ao longe
antes que pudesse dizer qualquer coisa
reconheceu a cara,
o suor, a cara de ódio:
lembrou seu fedor,
lembrou seu nome.
Saiu correndo
Derrubou uns pelo caminho
A bolsa caiu na vala
A chuva caía devagar, cortante
Sentiu-se impotente
Tentou pedir ajuda
Não deu tempo:
sentiu a pontada no peito.
Caiu no chão, devagar
viu-se, então, morrendo
beijando uma poça, virada pra serra
a alma ardendo.
Tão bela, tão exposta
largada na lama, que nem bosta;
fechou os olhos como todas as noites:
com um mundo inteiro gritando
e um monte de gente esperneando
lá dentro de si.
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