Ele tenta centrar a cabeça,
sei lá - dar as voltas por aí que sempre soube dar:
descansar, quem sabe, às vezes,
faz (ou fez) sentido: dormir, nada-fazer,
sorrir, pensar;
Mas quem dera bastasse isso;
a voz que fala, em tom omisso,
que está na hora de acordar,
logo lhe vem à mente:
passa o sono, acorda!,
já foi-se o tempo de deitar;
Ele escrevia romances,
sem sentir medo, sem vê-los no espelho,
sem viver nenhum,
só lhe bastava ver tudo aquilo passar;
Era tal qual filme escrito,
verso e rima pobre, canção sublime
do dia-a-dia que doía não poder passar.
A vida era tão diferente:
ele tentava esquecer dos problemas,
dos contratempos, das asneiras cotidianas
- seu mundo não era das coisas mundanas... -,
mas há de se convir, é preciso viver aos poucos,
O há-de-vir nos é, sempre, pequeno,
é promessa e veneno
que envenena ao longo dos anos,
que nos faz menos loucos;
Bem que ele tenta virar a mesa,
jogar tudo pro alto e apostar errado
é só arriscar - fazer as besteiras, dar o que falar;
mas os tempos são outros, agora é certo,
está centrado, estático, correto,
Tão amarrado que parece homem feito,
tomou jeito,
e, agora, fica velho;
Quem dera estivesse satisfeito,
no peito, sabe que é tudo mentira,
quase-vida sem cores, amores,
romances e versos.
Sem pretensões, sem referências pseudoliterárias, sem joguetes verbais de grande complexidade, sem autores obscuros de referência, sem nada. Só escrita.
quarta-feira, 24 de setembro de 2008
terça-feira, 2 de setembro de 2008
Cálice otário *
Cálice otário, pinga essa seiva:
essa rima sem gosto,
essa pinga sem efeito;
Pinga sobre teus fiéis o sangue imundo e espesso
que flui no chão banhado a ouro
de templos rebocados em fé e gesso;
Beija as mãos calejadas de um demônio,
como beija os lábios do anjo caído que encarnas:
reverte essa tua renda suja e sacra
a surtos selvagens e orgias comungadas:
À santidade de tantas putas inocentes!
Cálice otário, pinga essa seiva:
essa rima sem gosto,
essa pinga sem efeito;
Que queimem na fogueira esses teus livros
com mentiras sedutoras de um paraíso desconstruído
chega de promessas infundadas,
almas atordoadas, obras inacabadas e santos pervetidos;
Onde tua hóstia sagrada promete e não cumpre,
e atola o mundo de loucos enrustidos,
tuas bordas cospem lágrimas, cálice:
Que se encham tuas ancas das moedas crentes dos que te seguem,
de mãos juntas, entoando ladainhas que teatralizam a farsa
nessa via crucis diária, na autoflagelação que o torpor salva:
O sangue é um troféu vívido
que a mostra tua humanidade enquanto fase larvária!
É, é mesmo um longo caminho, cálice
e, enquanto joelhos dilacerados se protegem mais tarde no vinho que guardas,
embebido na tua baba
e bebido por teu Deus,
estaremos nós, homens comuns, aqui, servindo a ti e por ti sofrendo,
por algo que, no fundo, nos convence,
mas que não existe, não subsiste e que jamais nos pertenceu:
Cálice otário, pinga essa lástima:
essa lágrima amarga,
essa angústia eternamente incrustada em nosso peito.
* Por Camila Barbalho e Guto Lobato - meados de outubro de 2005
(Meu Deus... uma raridade achada aqui, nos arquivos do computador. Escrita de brincadeira - é bom ressaltar -, numa madrugada passada a esmo em alguma janela de bate-papo do MSN Messenger. Quando éramos jovens, e a poética nem sempre caminhava junto a nossas crenças. Quando era mais fácil ter um eu-lírico dúbio, polêmico e algo "maldito")
essa rima sem gosto,
essa pinga sem efeito;
Pinga sobre teus fiéis o sangue imundo e espesso
que flui no chão banhado a ouro
de templos rebocados em fé e gesso;
Beija as mãos calejadas de um demônio,
como beija os lábios do anjo caído que encarnas:
reverte essa tua renda suja e sacra
a surtos selvagens e orgias comungadas:
À santidade de tantas putas inocentes!
Cálice otário, pinga essa seiva:
essa rima sem gosto,
essa pinga sem efeito;
Que queimem na fogueira esses teus livros
com mentiras sedutoras de um paraíso desconstruído
chega de promessas infundadas,
almas atordoadas, obras inacabadas e santos pervetidos;
Onde tua hóstia sagrada promete e não cumpre,
e atola o mundo de loucos enrustidos,
tuas bordas cospem lágrimas, cálice:
Que se encham tuas ancas das moedas crentes dos que te seguem,
de mãos juntas, entoando ladainhas que teatralizam a farsa
nessa via crucis diária, na autoflagelação que o torpor salva:
O sangue é um troféu vívido
que a mostra tua humanidade enquanto fase larvária!
É, é mesmo um longo caminho, cálice
e, enquanto joelhos dilacerados se protegem mais tarde no vinho que guardas,
embebido na tua baba
e bebido por teu Deus,
estaremos nós, homens comuns, aqui, servindo a ti e por ti sofrendo,
por algo que, no fundo, nos convence,
mas que não existe, não subsiste e que jamais nos pertenceu:
Cálice otário, pinga essa lástima:
essa lágrima amarga,
essa angústia eternamente incrustada em nosso peito.
* Por Camila Barbalho e Guto Lobato - meados de outubro de 2005
(Meu Deus... uma raridade achada aqui, nos arquivos do computador. Escrita de brincadeira - é bom ressaltar -, numa madrugada passada a esmo em alguma janela de bate-papo do MSN Messenger. Quando éramos jovens, e a poética nem sempre caminhava junto a nossas crenças. Quando era mais fácil ter um eu-lírico dúbio, polêmico e algo "maldito")
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