terça-feira, 24 de julho de 2007

Por trás dos poros

Sempre soei, por trás dos poros, vil demais para ser ouvido por vocês,
mesmo que tudo se resumisse a pequenas e antigas conclusões:

Descubro-me ileso, um homem-abismo, sem eixos,
perdido em uma sucessão de vultosas menções,
rabiscando, nas paredes, lascas perdidas de anseios
e novos caminhos para as mesmas direções.

Tenho, à vista, um cenário propício
para concretizar meu escapismo
por trás de rios de subjetividade:

Dou-lhes desejos, medos, nobres covardias,
individualismos, egocentrismos, porcarias
de introvertismos e tesas irrealidades!

Sempre quis ser, por trás dos poros, mais do que podia por vocês,
mesmo que renegasse o que restava de vivo em minha arte:

Destilo acordes e notas, pequenos versos e trovas,
desafinadas como se fossem naturais:
os mesmos deletérios em dissonâncias novas,
ecoando sozinhos em um resmungo à parte.

Tenho a coragem de muitos e a inocência de poucos,
a dimensão exata da demência,
sei a razão que vês em tanto alarde:

Estes ultrajes qual constrangedores,
ressentimentos e dores imbecilizados
São produtos de uma profusão de desvalores
de um raro inconformismo,
de um amor ao martírio de tenra inutilidade!

domingo, 15 de julho de 2007

Ódio Secular


Só Deus explica qual é o problema
dessas pessoas que empinam os dedos
das mãos, dos pés, os olhos e o queixo
e fingem-se tão sóbrias e cheias de si
Tão óbvias em seus insights frescos!

Comentários certos na hora certa,
olhares lânguidos e palavras sábias;
Vão se foder... vocês, por acaso, imaginam
que a inteligência é coisa inata
E não produto de seu ego pitoresco?

Só eu entendo qual é a graça
de ser errante, previsível, infeliz e contente,
meter os pés pelas mãos e lábios, ou achas
que tanta perfeição é trivial, naturalmente
E não premissa para engolir melhor a si em seco?

Só o Diabo explica, mas ninguém me ouve, então
continuem vocês nessa vidinha de plástico
embebedem-se em rixas e colunismos sem teto ou chão
vou continuar aqui, assim, performático
Um quase apático no seu mundinho de ouro e esterco,
um velho espelho jogado no seu porão.

segunda-feira, 9 de julho de 2007

Insight

You stand in silence,
swept into the world you´ve created
By means of hatred and violence,
It´s no surprise you´re so disgraced

You hear them weeping
Their nails thumbing to the walls
And no one´s hearing, no one´s giving
A damn to one who crawls...

Behind you,
It´s just the same way you play
Driving insane from day to day...

You gaze to dark skies
Wiping tears off your whitened face
There´s a silence that cries
Between lines of unwritten space

Your heart´s still beating, though;
Who is this child you see on the mirror?
And no one´s seeing, no one´s listening
A damn word that you said so clear...

Before you do,
they´re all losing their grip
Driving insane from day to day...

You stand in silence,
and hear they sliding through the room
The more you´re silent
The more you hear them step on you;

You hear their thumbing nails on the door
You hear them asking for some more
Then you let go the devil in you.

El Club Silencio

Cale a boca,
e entre sem pudores,
esqueça dos rumores,
sinta-se à vontade;

Deixe,
fazerem-se inverdades,
de tantas vergonhas e sobriedades,
não finja estar sadio;

Não finja ser covarde,
já que os homens de bem, coitados,
não passam de marionetes de alma pura
A nós, meu caro
fica o papel de transformar o submundo
Em um antro de demência e luxúria:

Mande-os à merda, enfim
E junte-se aos demônios da sociedade.

Goze,
de tanto esforço e decência,
de toda a resignação e insistência
dos filantropos e intelectuais;

Cuspa,
na cara de todos,
deixe-os emocionar os frouxos
com suas propostas e guerras sociais

Pois este baixio de loucos
já tem homens de bem aos montes
e nada faz pelos que se assumem errantes;
Sempre, sempre, a mesma merda
reclamam dos cantos imundos
mas, o que fazem, além de postulados arrogantes?

Nada!
Mande-os à merda por mim,
pois tenho muito o que fazer na incubência de cuspir verdades.

domingo, 1 de julho de 2007

SP

Ah!
Há traços azuis por trás de tantas curvas cinzentas
Nas esquinas e becos, várias vozes e cantigas
Ecoando; Descansando sob o ar frágil e seco
Estão mil anos de devaneios urbanos
Por trás de olhos os quais vejo
na correria repousando
Um ar de amor ao desespero
e de torpor a ser humano.

E tantos tragam a luz do sol do meio-dia
Com seu hálito fresco e corpo cansado
A fumaça das ruas, vivas e cruas,
estradas de um pulsar ardente
É abrigo para toda essa gente
Que, ao apertar o passo
Se afoga em um ar febril e gelado
Se finge dona de um teatro
que encena e não sente.

Mas ah!
Há beleza em tanta loucura
Na imensidão de som e fúria,
há uma tristeza que não mais se sente;

Há, enfim, poesia na grande cidade,
as rimas renascem em meu peito;
de tuas cinzas, beldades:
Que o asfalto nasça
Viva a arte sem limites desta cidade inconseqüente!