domingo, 14 de janeiro de 2007

Cold


Em um frio subcutâneo,
Quase surreal
Acordo e adormeço ao som das mesmas músicas
E me permito, mais uma vez, tremeluzir;

Em batidas silenciosas
Ininterruptas em novo leito
Que me permitem por, um segundo, sorrir
Até as luzes intermitentes calarem meu peito.

Se há algo crescendo dentro de mim
E, em mim, cultivem o ódio
Que contenham-me todas as convenções
Que sejam meu leito o metal e o asfalto

E não suaves retalhos de um formol tão sólido.

Entre acordes estranhos,
Quase dissonantes
Estejam as melodias desafinadas e ocas
Das nossas canções relutantes;

Em rítmicas sinuosas,
Que nos empurram de volta aos lençóis,
Que um cigarro seja capaz de reatar os nós
Que aprisionam as palavras em meu peito.

Se há um frio assim, inerente
E, em mim, isso seja latente
Que calem-me todas as conclusões
Que o mundo tem a meu respeito.

Que eu seja metade de mim, doente,
Feito de carne e metal, tal qual vocês todos;

E que jamais eu me levante dessa cama novamente
Para ver o sol se pôr em mais um crepúsculo cinzento,
E ter a certeza de que vivo, sim,
Mas a cada dia mais morto.

José Augusto Mendes Lobato 14/01/07

* Uma dica: Ouçam a música homônima dos ingleses do The Cure, vão entender melhor esse poema.

Um comentário:

Benny Franklin disse...

Poeta: vejo que apesar da idade,
suas palavras sao fortes, densas. Cantos de fina estampa.
Parabens!
Benny Franklin