sexta-feira, 26 de janeiro de 2007

Meninas de Família


Meninas de família não gozam
Assim como são virgens,
Passivas, pacatas, inocentes
Suas pernas não se desdobram nunca
- São tão resistentes!
Mas diante da libido ou de um beijo na nuca,
talvez totais inconseqüentes;

Meninas de família são astutas e sensatas
Assim como não bebem:
Nunca as vi caindo nas calçadas...
As palavras que raramente lhes vêm à mente
Gritam pelos poros entorpecidos
tal qual estilhaços de copos caídos
no chão frio de uma noite ardente;

Meninas de família são influenciáveis
Assim como se deleitam sozinhas
não conhecem o sabor de uma loucura feita a dois
pois não podem sentir o gozo cedo:
Tadinhas!
Masturbam-se que nem loucas em seus quartos,
pensando em homens, festas e sexo barato
até caírem no mesmo sono intermitente;

Meninas de família não se drogam
Assim como foram ao cinema aquele dia
Filmes trash, pipoca e chocolate quente;
Suas mães não se esquecem nunca
do dia em que viraram gente
e "pareceram putas,
de tão cheias de vida, com a fumaça entre os dentes";

Meninas de família só se entendem entre si
Assim como sempre se dizem
mal-amadas, esquecidas por famílias ingratas
(e estão certas)
Seu valor se revela às próprias ruas
longe das cláusulas e convenções chulas
- São "vagabundas",
assim como você, ou como eu:

Meninas de família não são freiras,
assim como não são prostitutas.

domingo, 21 de janeiro de 2007

Festa Vazia


Trilhas sonoras, longas, cansativas,
irritantes, tediosas, forçadas,
RIDÍCULAS;

As mesmas músicas, acordes, melodias
dissonâncias, mil discrepâncias: igualmente
RIDÍCULAS.

O mesmo odor, calor, fétido, suor
inebriante, artificial, lisérgico
RIDÍCULO;

Copos, garrafas, vômito, sexo,
idas e vindas ao banheiro:
RIDÍCULAS.

É a mesma dança, morna, débil,
cansada, irritada, deprimente
RIDÍCULA;

Sábado, Domingo, Sexta ou Quinta
meia-noite ou às cinco, sempre serão (f)estas
RIDÍCULAS.

domingo, 14 de janeiro de 2007

Cold


Em um frio subcutâneo,
Quase surreal
Acordo e adormeço ao som das mesmas músicas
E me permito, mais uma vez, tremeluzir;

Em batidas silenciosas
Ininterruptas em novo leito
Que me permitem por, um segundo, sorrir
Até as luzes intermitentes calarem meu peito.

Se há algo crescendo dentro de mim
E, em mim, cultivem o ódio
Que contenham-me todas as convenções
Que sejam meu leito o metal e o asfalto

E não suaves retalhos de um formol tão sólido.

Entre acordes estranhos,
Quase dissonantes
Estejam as melodias desafinadas e ocas
Das nossas canções relutantes;

Em rítmicas sinuosas,
Que nos empurram de volta aos lençóis,
Que um cigarro seja capaz de reatar os nós
Que aprisionam as palavras em meu peito.

Se há um frio assim, inerente
E, em mim, isso seja latente
Que calem-me todas as conclusões
Que o mundo tem a meu respeito.

Que eu seja metade de mim, doente,
Feito de carne e metal, tal qual vocês todos;

E que jamais eu me levante dessa cama novamente
Para ver o sol se pôr em mais um crepúsculo cinzento,
E ter a certeza de que vivo, sim,
Mas a cada dia mais morto.

José Augusto Mendes Lobato 14/01/07

* Uma dica: Ouçam a música homônima dos ingleses do The Cure, vão entender melhor esse poema.

Auto


Ah! A vida,
tão bela, incerta, tão rica em acasos
E, em ocasos, sofrida,
de tão vivida aos pedaços.

Surpresas,
pós-surpresas,
clausura fútil,
ar de auto-asfixia;
Sexo,
auto-sexo,
auto-amor,
auto-orgia!

Vir-a-ser eterno, cansado, melancolia;
amores, pós-amores, ódio e falácia vadia

E, sobre a mesma terra morta,
Pegadas de amores, temas para todas as horas
de mentes otárias absortas em poesia.

Agora me diz: é sempre assim, as novas idéias tuas nascendo
e se sobrepondo às rotas minhas?

Não. Somos nós mesmos, meu amor
tomando por vencidas nossas rédeas soltas.