Sem pretensões, sem referências pseudoliterárias, sem joguetes verbais de grande complexidade, sem autores obscuros de referência, sem nada. Só escrita.
sábado, 8 de setembro de 2007
Garota da Cidade Velha
Olha, que coisa mais linda
Doze anos na cara
Cheirando cola na esquina, bebendo cachaça
e a gente que passa desvia o olhar...
Olha que expressão cansada,
Que ar decadente
que roupas rasgadas,
que lar delinquente, que a vida reserva
pra essa moça sem par...
Ah, porque somos mesquinhos,
ah... e a beleza resiste
Mas, por quanto tempo já existe...
Essa gente tão pobre e sofrida,
nos cartões postais tão escondida?
Ah, se ela soubesse que a vida consome
o que resta de humano em todos os homens
e o que resta pra si é viver sem paixão...
Olha que coisa mais linda, ela não é exceção
Desça a Riachuelo,
a General Gurjão
E veja outras mocinhas fingindo passar...
Ah, se as calçadas e as ruas de pedra pudessem falar,
Teriam a vida inteira pra gemer sem calar
da dor dessa menina,
que lá repousa e trabalha sozinha,
e a gente, que só passa, desvia o olhar...
domingo, 2 de setembro de 2007
Pouca poesia
Há pouca poesia e muita prosa neste mundo de deflexões;
Muitas respostas prontas e pouca paciência
Muitos pudores, inocência e falsas incompreensões
Como se um fato, uma verdade, não precedesse a existência
De exageros, adereços e românticas exaltações!
Há uma força doentia que nos implode quaisquer desejos
E nos faz, a cada dia, mais escravos dos sentidos
Como se não bastasse ver-nos iguais no espelho
Como se um pouco de prolixidade não nos tornasse mais vivos!
Lhes afirmo, queridos:
esta é uma era de decadência,
pois o que resta de humanidade e existência
está encerrado na poeira casta dos livros.
Muitas respostas prontas e pouca paciência
Muitos pudores, inocência e falsas incompreensões
Como se um fato, uma verdade, não precedesse a existência
De exageros, adereços e românticas exaltações!
Há uma força doentia que nos implode quaisquer desejos
E nos faz, a cada dia, mais escravos dos sentidos
Como se não bastasse ver-nos iguais no espelho
Como se um pouco de prolixidade não nos tornasse mais vivos!
Lhes afirmo, queridos:
esta é uma era de decadência,
pois o que resta de humanidade e existência
está encerrado na poeira casta dos livros.
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